Recursos Externos na Economia Brasileira
23 de janeiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: erros de avaliação, ganhos obtidos no passado recente com baixos riscos, mudanças das condições com intervenções governamentais, pressões externas sobre o Brasil
Quando a economia brasileira deixa de ser o “queridinho do mercado mundial”, por apresentar um crescimento econômico mais baixo, aumento das pressões inflacionárias, dificuldade para a geração dos superávits fiscais desejáveis, falta de competitividade, manifestações populares de insatisfações, incertezas eleitorais, entre outros fatores, também os interesses dos investidores parecem pressionar no sentido de garantias mais amplas. No passado, o Brasil classificado entre os BRICS com maior potencial atraiu muitos investimentos diretos procurando aproveitar as oportunidades da ampliação do mercado interno, mesmo depois das grandes turbulências provocadas pelos problemas mundiais de 2007/2008. O Banco Central brasileiro indicava uma tendência clara de valorização do câmbio e muitos financiamentos se dirigiram para o Brasil na procura de remunerações acima dos possíveis em outros mercados, minimizando os riscos existentes, a ponto de deixar a faixa recomendada pelas cautelas naturais.
Agora, um exemplo deste tipo de pressão está no artigo publicado pelo Financial Times, de autoria de Jonatham Wheatley, falando dos investimentos feitos no Brasil e as criações e destruições de valores, que apresenta aspectos que merecem considerações, pois também as autoridades brasileiras não primam pelas decisões mais corretas. Atribui parte das dificuldades pela queda do entusiasmo com o Brasil pelas exageradas intervenções governamentais, como afetando os resultados da Petrobras, da Vale, bem como ações do setor elétrico, que contribuíram para má performance do setor de bolsas, ao lado de erros de avaliação de grupos como o de Eike Batista. Num momento estratégico como da reunião de Davos.
Sede do Banco Central em Brasília
Na realidade, a administração anterior do Banco Central do Brasil defendia os interesses do sistema bancário internacional, garantindo uma tendência clara para o câmbio, reduzindo os riscos naturais de sua flutuação. Os ganhos dos investidores estrangeiros superavam algumas vezes as dezenas, em termos de dólar, ao mesmo tempo em que, com a easing monetary policy, havia uma enxurrada de moedas estrangeiras que acabava valorizando o câmbio, reduzindo a competitividade das exportações brasileiras, e agravando a situação da balança comercial.
A atual política do Banco Central procura uma posição mais realista, e, diante da incapacidade de aumento do superávit fiscal do governo com contenção do custeio, acaba enfatizando o papel do controle monetário, elevando a taxa de juros, reduzindo a capacidade de crescimento diante das pressões inflacionárias, que só são reduzidas depois de muita defasagem, aumentando os custos sociais das correções.
Evidentemente as autoridades foram pouco competentes fazendo com que a Petrobras tivesse que absorver parte dos aumentos dos preços dos combustíveis. Também no sistema elétrico, as ações de suas empresas não precisavam sofrer as desvalorizações como as que ocorreram. Se a situação das ações já não era brilhante nas desacelerações do crescimento econômico, ficaram agravadas pelas decisões voluntariosas. Mas também erros de avaliação acabaram sendo agravadas pelos suportes do BNDES para projetos de retornos duvidosos, sem que avaliações mais precisas fossem feitas pelos bancos privados, nacionais e estrangeiros.
Somaram-se as dificuldades que reduziram ainda mais a competitividade da economia brasileira, diante de gestões pouco eficientes em licitações de projetos de infraestrutura, que deveriam contar com condições que respeitassem melhor as necessidades do setor privado e do mercado.
Ainda assim, há que se considerar que existem méritos do governo, mesmo que tenha exagerado na expansão do mercado interno e na melhoria da distribuição de renda, mantendo a consolidação do sistema democrático e eleitoral. O que outros países emergentes estão providenciando de reformas, parte já foi feito no Brasil, que também mal aproveitou as oportunidades de mudanças quando a economia mundial apresentava melhores condições.
Na medida em que o governo apresente de forma confiável a sua intenção de rigor na política fiscal e monetária, recuperando parte da competitividade indispensável, as dificuldades brasileiras, que não podem ser subestimadas, não parecem mais graves do que as vigentes em outras economias emergentes.
Mas há necessidade de que as linhas que serão perseguidas nos próximos anos fiquem claras para o setor privado, tanto interno como principalmente externo, pois as concorrências pelos investimentos e financiamentos internacionais tendem a acirrar-se. Há que se proporcionar diretrizes mais claras, e mecanismos de diálogos para a superação das eventuais falhas de comunicação, além de garantias que o estabelecido seja realmente cumprido.