Suplemento Especial São Paulo do Valor Econômico
24 de janeiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: atenções concentradas na mobilidade, discussões necessárias, necessidade de considerar a metrópole, tratamento isolado da cidade, visões de longo prazo
Ainda que o jornal Valor Econômico tenha publicado um suplemento especial sobre São Paulo neste seu aniversário, parece que os agudos problemas atuais da mobilidade na cidade tenham dominado as preocupações, imaginando que uma visão de longo prazo ajudaria a resolver os seus problemas. Parece que esta metrópole é mais complexa, merecendo ser considerada no papel que ela desempenha no Estado de São Paulo e no Brasil. O seu Plano Diretor deve dar uma visão de longo prazo das diretrizes a serem perseguidas, abrangendo todos os aspectos, inclusive cultural, educacional, de saúde, de assistência social, na sua contribuição para a economia brasileira, na geração de inovações, nos relacionamentos internacionais entre outros aspectos, e também na função da metrópole servir como residência e local de trabalho para a sua população.
Não se pode pensar no seu Plano Diretor sem considerar as inundações que sofre todos os anos, a poluição que continua suportando, a necessidade de reciclagem do seu lixo, seus problemas de esgoto, de abastecimento energético, os problemas do seu abastecimento, de comunicações, de lazer e inclusive seus problemas de congestionamento. O transporte é um dos seus problemas, mas não o único. As soluções a serem perseguidas ao longo dos próximos anos necessitam ser integradas, considerando o sistema em que está inserido, pois as soluções de uns podem afetar outros. O que está no suplemento é frustrante, não considerando o todo em que a metrópole está inserida.
De um centro industrial, São Paulo é hoje prestador de serviços educacionais, de saúde como de apoio para as atividades de agronegócios, industriais e comerciais que atendem as que são desenvolvidas no Estado e no País. Pelos seus arredores circulam os caminhões e ferrovias que vão com destino ao porto de Santos, como os depósitos que servem para a distribuição dos bens que vão atender as demandas da economia brasileira. Sistemas como o rodoanel devem evitar a necessidade de que eles passem pelo centro ou sequer pelas marginais formadas ao longo dos rios Tietê e Pinheiros.
Reconhecendo que existem espigões, um plano de túneis deveria ser perseguido para facilitar as passagens que interligam os vales existentes. Mas, continua-se fazendo com que os eixos que são as avenidas tenham que se cruzar, provocando pavorosos congestionamentos que não estão sendo eliminados. Passagens de nível teriam que ser planejados, ainda que nem sempre sejam executados em curto prazo.
O tamanho da metrópole já estabeleceu diversos centros regionais, e muitas avenidas já concentram círculos de atividades de escritórios, lojas e outras atividades ao longo da Paulista, da Faria Lima estendendo-se por outras partes que eram antigos bairros. Na falta de um razoável planejamento, muitos foram se formando de forma desorganizada, e poderia ser retificadas no que for possível.
O Plano Diretor poderia antecipar outros que tendem a se formar, havendo urbanistas capazes de estabelecer diretrizes para tanto, que extravazem os períodos dos mandatos de uma administração. Impossível ignorar os relacionamentos com os municípios vizinhos, e para tanto se criou o conceito da região metropolitana, sem que nem a administração municipal ou a elaboração do suplemento sequer tenha considerado.
Sem um mínimo de disciplina neste planejamento, considerando as flexibilidades necessárias, parece inútil imaginar–se somente o adensamento da ocupação ao longo dos eixos, que já se mostram sobrecarregados. Um mínimo de traçados básicos, como os imaginados por Prestes Maia parece que teriam que ser atualizados, lamentando que não se tenha preocupado com estes aspectos.