Exageros nas Idiossincrasias de Analistas Financeiros
1 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo do The Economist sobre preocupações exageradas sobre as economias emergentes, cuidados que estão sendo tomados, diferenças entre os acontecimentos na margem e na média, dificuldades nas economias mais complexas, velocidade de entendimento de todos
A revista The Economist chama a atenção sobre o exagero de pessimismo atual com relação aos problemas enfrentados pelas economias emergentes. Todos sabem que alguns fluxos financeiros são nervosos provocando a necessidade de mudanças nas taxas de juros e nos câmbios, mas não possuem a velocidade dos operadores de alguns fundos de investimentos que lucram com mudanças bruscas, permitindo algumas arbitragens especulativas. Comparando com situações passadas, as economias emergentes estão mais aparelhadas com instrumentos de política econômica que em 2007/2008, com a disseminação de políticas flexíveis de câmbio e juros, reservas externas mais elevadas, situações macroeconômicas mais saudáveis como nos déficits comerciais não justificando os pessimismos exagerados, salvo em situações isoladas. Eles especularam com investimentos de alto risco, e agora com a elevação paulatina dos juros nos Estados Unidos fazem suas correções que também serão lentas.
Evidentemente, existem situações extremas como da Argentina ou da Turquia, mas não se justifica uma transferência exagerada e geral para aplicações consideradas de menores riscos. As elevações dos juros serão mais lentas, até mesmo porque o crescimento da economia norte-americana não está tão consolidada, e gigantes como a China, se contarem com desacelerações nos seus crescimentos, elas serão mais vagarosas, tanto pelas suas dimensões como resistências às mudanças. O professor Delfim Netto sempre chamou à atenção que muitos dinossauros consomem tempo para as mensagens chegarem aos seus pequenos cérebros e muitas vezes as reações para o seu rabo também são demorados, muitas vezes para movimentos nos sentidos errados. Precipitações podem agravar o quadro, complicando as soluções do que ajustamentos adequados.
A Argentina vem insistindo há tempos em políticas que não são as mais adequadas, que estão acumulando suas dificuldades por anos. Na Turquia, somam-se as pressões inflacionárias, déficit descontrolado e agitações políticas. São quadros que não são os comuns nas demais economias emergentes, como consequência do ajustamento da economia norte-americana.
Para sair da easing monetary policy, as decisões do FED – Sistema Federal de Reservas estão sendo de redução paulatina das compras de títulos públicos, que passou de um mensal de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões e agora para US$ 65 bilhões, não passando bruscamente para a redução do volume dos dólares que circulam pelo mundo, até porque a recuperação da economia norte-americana não está suficiente consolidada, ainda que caminhe para tanto. Os Estados Unidos continuam divididos entre republicanos e democratas, e o presidente Barack Obama não tem interferência no FED, como depende nas coisas fundamentais do Congresso, onde não conta com maioria, encontrando numa situação de lame duck, procurando preservar o poder que ainda tem somente com discursos.
A China, ainda que consciente que necessita promover reformas importantes para passar a depender mais do mercado interno, mediante a aceleração do seu processo de urbanização, é um gigante que só pode se mover lentamente, enfrentando problemas de toda a ordem, dependendo das autoridades locais como de um sistema bancário paralelo. Não conta com graus de liberdade para acelerar suas mudanças, enfrentando as aspirações populares por melhores condições de vida, com uma população cada vez mais idosa.
O Japão enfrenta suas dificuldades internas e externas, não conseguindo os consensos que gostaria, dependo de uma forte aliança com os Estados Unidos que não estão em condições de arcar com gastos adicionais em segurança internacional. A envelhecida Europa, com todas as suas diferenças, só pode melhorar lentamente, enfrentando inúmeras dificuldades.
O mundo emergente, mesmo com todas as suas limitações, continua com um crescimento acima da média mundial, incorporando populações e recursos naturais no processo de globalização que continua em andamento. Em que pesem todas as dificuldades, as mudanças continuarão ocorrendo, mesmo que num ritmo mais lento.
O que fica cada vez mais evidente é que o setor financeiro não pode continuar a ser o único que mantém suas elevadas rentabilidades, usando até de artifícios imorais, como as manipulações dos câmbios e dos juros. Ainda que aos poucos, regulamentações acabarão sendo impostas por muitas autoridades, no mínimo para evitar seus abusos, com um descontrolado aumento dos fluxos financeiros internacionais, muitos passando por paraísos fiscais que não possuem nenhuma autoridade monetária.
Existem duros problemas reais que necessitam ser resolvidos e que não podem ser solucionados por alquimias monetárias, sempre na suposição que as instituições bancárias são exageradamente grandes para falirem, mesmo com gestões temerárias.