Início da Primavera no Japão
7 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo de Kevin Short no Japan News, mukurfoji, razões de muitas arvores, visitas aos templos Xintoístas e Budistas
Mesmo que o longo inverno japonês ainda não tenha sido totalmente superado, a população começa a comemorar a chegada da primavera, ainda que as temperaturas estejam baixas. Estas mudanças de estações são importantes para os japoneses e outros povos que habitam regiões temperadas no mundo, mais do que para aqueles que vivem em regiões tropicais como do Brasil, onde as diferenças das estações do ano não são tão marcantes, condicionando toda a forma de viver destes povos. Kevin Short é um naturalista e antropologista, professor da Tokyo University of Information Sciences, e escreve regularmente para a imprensa acerca de suas pesquisas sobre plantas e árvores no Japão, bem como o seu folclore.
O mês de fevereiro ainda não permite as floradas como das cerejeiras que são as festas para países como o Japão. No calendário koyomi asiático tradicional, a última terça feira marcou o Risshun, ou o início oficial da primavera. No cômputo lunar, a primeira lua do Ano Novo marca o evento, e no caso chinês passou-se do Ano da Serpente para o do Cavalo com o Ano Novo Lunar. Bastante comemorado usualmente com os fogos tipo traques, além de afastar os demônios permite a reunião das famílias para apreciarem os bolinhos que são preparados para a data. Mas no Japão, o sol foi subindo lentamente sobre as encostas nevadas do Monte Fuji, alimentando as esperanças de dias melhores.
Segundo o autor, os templos xintoístas são cercados de bosques de árvores de longo crescimento como carvalhos ou zelkovas Keyaki. Os folcloristas acreditam que os japoneses originalmente adoraram suas divindades chamadas kami, em bosques densos de árvores altas.
Alguns templos budistas, imbuídos de uma forte ética ecológica, também contam com bosques substanciais de árvores protegidas. Todas as criaturas vivas são pensadas como derivados em suas energias de vida da mesma fonte universal. As arvores encontradas nos templos das duas religiões diferem nas suas espécies.
Segundo a tradição budista, o Buda histórico tinha obtido a iluminação enquanto meditava sob os galhos de uma figueira sagrada (figus religiosa), mas elas são de regiões tropicais como a Índia e o Paquistão, tendo se espalhado pela Rota da Seda para a China, de onde chegou ao Japão.
Sobre o sacerdote Eisai, fundador da seita Rinzai do Zen Budismo, afirma-se que levou para o Japão o primeiro Bodaiju em algum momento do século XII, substituindo à figueira. Tilias do gênero Tillia são comuns em todas as zonas temperadas da Eurásia e da América do Norte, com folhas parecidas como formato de um coração, segundo o autor. O Japão é o lar nativo de várias espécies, inclusive o Shiranoki (T.japónica).
Outra árvore muito encontrada nos templos japoneses é o mukuroji, cujas cascas são ricas em saponinas, usados em xampus, sabonetes e detergentes para roupas. As duras sementes são usadas pelos budistas para a elaboração de rosários. O mukuroji alimenta as crenças populares de que tem o poder mágico de proteger crianças contra a doença, tanto que o kanji usado para escrever o nome pode ser interpretado como não (mu), doença (wazurai), criança (ji).
No conjunto, o que é notório no Japão, mesmo tratando-se de um pequeno arquipélago, os bosques são bem preservados, contribuindo para compor uma espécie de jardim num panorama geral harmonioso, onde não podem faltar as águas. Um momento de meditação nestas localidades serve como refrigério para as tarefas duras de todos os dias, mesmo nos centros urbanos.