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O Exemplo da Liga Estudantina Nipo-Brasileira

17 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: apoio da Fundação Kunito Miyasaka, Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, estudo preliminar importante, o jornal Gakusei (1935-1938) | 2 Comentários »

Um interessantíssimo trabalho foi coordenado pelo sociólogo Sedi Hirano e elaborado pelos doutorandos Gustavo Takeshy Taniguti e Matheus Gato de Jesus, todos do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo. Foi financiado pela Fundação Kunito Miyasaka, que vem se destacando pelo suporte a importantes trabalhos. No final de 2013, foi apresentado um relatório parcial de pesquisa que contém valiosas informações históricas mostrando que um pequeno grupo de japoneses e seus descendentes organizaram a Liga Estudantina Nipo-Brasileira, que acabou tendo uma curta duração devido ao advento da Segunda Guerra Mundial, mas desempenhou um importante papel. Documentos relevantes foram resgatados, que devem servir de subsídios para todos que se interessam por estes assuntos que contribuem para a formação da identidade brasileira.

Antes da Segunda Guerra Mundial, um número muito limitado de imigrantes japoneses e seus descendentes moravam na cidade de São Paulo, talvez somente alguns milhares (estima-se entre 2.500 a 4.500, que cresceu no período), pois a imigração tinha se iniciado formalmente em 1908. A metrópole paulistana começava a se consolidar como o centro que reunia muitos vindos do interior do Estado e arredores, principalmente para estudarem, pois os imigrantes japoneses atribuíam alto valor à educação. Um importante grupo de recém-formados em cursos superiores, estudantes universitários e outros que ainda no secundário pretendiam utilizar a educação formal como mecanismo de ascensão social e integração à sociedade brasileira (estima-se que eram em 300 em 1934), e alguns deles formaram esta importante e significativa instituição composta de poucas centenas de membros, com crescente predominância dos que tinham nascido no Brasil com o tempo. Ainda eram de nisseis, ou seja, a segunda geração dos imigrantes, mas que se definiam como brasileiros, mesmo que alguns pais japoneses tradicionalistas ainda alimentassem o sonho de retornar ao Japão. A menção pioneira destes fatos, em português, está no fabuloso livro de Tomoo Handa, “O Imigrante Japonês, História de Sua Vida no Brasil”, T.A. Queiroz, Editor, Centro de Estudos Nipo-Brasileiros, São Paulo, 1987.

Kazulivro

A Liga Estudantina foi fundada em 21 de outubro de 1934, com o apoio do Consulado Geral do Japão, da Liga dos Amigos das Escolas Japonesas de São Paulo, e patrocinadores privados. Editou uma revista Gakuyu (escola em japonês) e dois jornais Gakusei (estudante em japonês) e Transição. O Centro de Estudos Nipo-Brasileiros preserva a coleção dos mesmos. O trabalho preliminar de setembro de 2013 concentra-se no Gakusei e o seu conteúdo, que reflete os artigos elaborados pelos membros da Liga Estudantina, procurando interpretar os seus pensamentos básicos de integração dos seus autores na sociedade brasileira.

O importante a ser ressaltado é que a Liga, neste curto espaço de tempo, passou a contar crescentemente com dirigentes e membros nisseis, bem como relacionamentos com alguns brasileiros natos que se interessavam pelo grupo, com a diminuição natural dos nascidos no Japão. Mesmo depois da Guerra, quando a comunidade nipo-brasileira passou a contar com uma participação mais ativa após do Quarto Centenário da Fundação de São Paulo, em 1954, esta integração era mais acentuada que na atualidade. A inicialmente Sociedade Paulista (hoje Brasileira) de Cultura Japonesa e especialmente a Aliança Cultural Brasil Japão contavam com a participação ativa de personalidades, inclusive como dirigentes, que não eram da comunidade nipo-brasileira, mas que se interessavam pelos aspectos culturais dos japoneses e seus descendentes.

O impressionante é que dos membros desta Liga Estudantina dois se tornaram deputados federais, Yukishigue Tamura e João Sussumo Hirata, um deputado estadual, Ioshimufi Utiyama, muitos profissionais liberais consagrados nas mais variadas áreas do conhecimento, como médicos e advogados, uma educadora renomada como Yoneko Nishie, alguns empresários importantes, e jornalistas atuantes na imprensa brasileira como José Yamashiro e Hideo Onaga. Era o que havia de melhor na sociedade nipo-brasileira, bastante diferente de hoje, lamentavelmente.

Com a perspectiva atual, incidentes como os relacionados com os tradicionais japoneses perderam a importância, mas ficou marcada a importância do processo de integração na sociedade brasileira daquela época, que, com toda a forte miscigenação com outras etnias e culturas recentes, acabou diferenciando uma nova identidade.

O trabalho cuidadoso permite muitas outras considerações, e deve ser uma primeira fase de um trabalho que pode se ampliar, resgatando as raízes das contribuições de muitos nipo-brasileiros para a consolidação da sociedade brasileira. Acaba contribuindo para a compreensão da evolução do bairro da Liberdade, onde se concentravam os japoneses da época, com seus descendentes.

Fornece uma ideia das faculdades e escolas que eram frequentadas pelos membros da Liga, indicando também a bibliografia disponível sobre assuntos correlatos, bem como dá uma ideia de onde podem ser localizados os documentos originais. Alguns dos seus dirigentes mais destacados também são sucintamente mencionados.

São informações que estimulam novas pesquisas e considerações, permitindo que muitos debates sobre estes assuntos e correlatos possam ser objetos de trabalhos acadêmicos.


2 Comentários para “O Exemplo da Liga Estudantina Nipo-Brasileira”

  1. aria Leonor Vieira de Moraes
    1  escreveu às 00:47 em 3 de março de 2014:

    Tive o imenso prazer de conhecer e de conviver com Yokishigue Tamura , colega de turma de meu pai, Arthur Vieira de Moraes, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Ele, inclusive,batisou minha irmã Mônica.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 11:47 em 3 de março de 2014:

    Cara Maria Leonor Vieira de Moraes,

    Obrigado pelo comentário.

    Paulo Yokota