Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Problema da Comunicação do Governo

25 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo de Lula da Silva, oportunidades de investimentos, problema da confiança, quadro em que se encontra, situação atual depois de cinco anos da crise de 2008

Há que se admitir que Lula da Silva tenha qualidades para a comunicação, principalmente com o grosso do eleitorado brasileiro, e seus textos escritos acabam recebendo subsídios técnicos, não possuindo as qualidades carismáticas dos seus discursos. E a presidente Dilma Rousseff revela pouca disposição para discussões francas, quer seja com empresários como os políticos, acabando por criar climas de desconfiança que dificultam os investimentos privados, hoje estratégicos. Ainda que se possa concordar que existe um exagero de pessimismo sobre a economia brasileira, em parte disseminada pelos contrariados interesses do setor financeiro que já usufruíram no passado de lucros elevados em moeda estrangeira, sem que houvesse riscos como os cambiais. Na realidade, a percepção da situação acaba contando com uma forte dose de subjetivismo, na medida em que existem incertezas que são comuns a todos os países neste momento, onde alguns equívocos governamentais acabam sendo agigantados.

Lula da Silva publicou o seu artigo no Valor Econômico arrolando as razões pelas quais entende que a situação da economia brasileira é boa, apresentando grandes oportunidades de investimentos, assunto que vem apresentando inclusive em fóruns internacionais. Mas os que tiveram seus interesses contrariados, no mínimo nas suas perspectivas de ganho, acabam ressaltando os aspectos negativos, até diante de alternativas que veem em outros países, também com horizontes carregados de dúvidas. Sem uma garantia, difícil de ser proporcionada, de uma perspectiva robusta de desenvolvimento no futuro próximo, a tendência acaba sendo a preferência pela inércia, ainda que algumas oportunidades sejam perdidas.

LULA / PACKazullll

Luiz Inácio Lula da Silva

Todos podem concordar que o Brasil está entre os países emergentes que apresentaram um bom crescimento nos últimos 11 anos, ao mesmo tempo em que melhorou a sua distribuição de renda, ampliando uma nova classe média que alimenta o seu consumo interno. Ao lado de uma significativa expansão do emprego, quando o mundo registrava o seu decréscimo. Ainda que registre uma inflação elevada quando comparados com os níveis internacionais, há que admitir que o Plano Real não completou o seu papel, deixando ainda indexações que deveriam ser eliminadas. Se sua atividade exportadora não foi tão brilhante, há que se admitir que administrações anteriores não deram a prioridade desejada para o setor.

Mas, reformas precisavam ter sido efetuadas quando o mundo apresentava um cenário favorável, tendo mantida a ilusão que as melhorias dos preços das exportações decorriam dos méritos locais. Todos os mais isentos admitem que a vulnerabilidade brasileira apontada por alguns segmentos são exageradas, contando-se com um setor financeiro bastante seguro no Brasil.

Os investimentos efetuados pela economia brasileira se não são elevados como se desejaria, também não são lamentáveis. Haveria condições para se proporcionar um quadro mais atrativo com o uso de instrumentos que foram implementados em outras economias emergentes. O setor industrial, que era relativamente sofisticado, não teve condições de se manter competitivo. E sua indústria de equipamentos pesados poderia ser orientada com maior eficiência se houvesse uma visão mais clara do segmento com o apoio decisivo do governo.

Na realidade, ainda que haja muitos méritos apontados por Lula da Silva seria preciso que houvesse um razoável consenso do setor privado envolvido, que por falta de um diálogo mais franco, sente-se desalojado das decisões que os poderiam estimular.

No fundo, a dupla Lula da Silva – Dilma Rousseff necessita dar uma demonstração convincente da consciência de suas limitações, e que no momento necessita de um suporte mais firme do setor privado para elevar o nível do seu investimento, quando as condições externas não são mais tão brilhantes. Em política sempre se afirmou que quanto o cobertor é curto, há que se distribuir mais carinho… Parece que é o que necessitam os investidores, sem se transmitir a impressão que poderia haver uma mudança do candidato governista nas próximas eleições.