Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Preocupantes Definições da Política Japonesa

9 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: colocações cuidadosas do The Economist, despertar da direita japonesa, problemas na comunidade nipo-brasileira, radicalismos nas sociedades pouco miscigenadas, tendências de revisões das leituras históricas | 2 Comentários »

Parecem que existe uma tendência para posições políticas radicais nacionalistas entre povos como os japoneses que tiveram poucas oportunidades de miscigenação com outras etnias, orientações que pouco contribuem nas convivências com outros povos que pensam de forma diferente. O que vinha se discutindo no Japão acabou sendo objeto de artigo no The Economist, referindo-se às nomeações efetuadas para a direção da rede oficial de televisão do Japão, a NHK, quando o novo diretor geral Katsuto Momii expressou numa entrevista que problemas como os que ficaram conhecidos como “confort women”, quando mulheres coreanas, chinesas e filipinas foram utilizadas pelas tropas japonesas como escravas sexuais na Segunda Guerra Mundial. Ele expressou que isto era usual em guerras, como teria também acontecido na Europa, apesar de ter se desculpado posteriormente por ter provocado desconfortos internacionais.

Na mesma linha, outro nomeado para o Conselho de Diretores da NHK, Naoki Hyakuta, teria afirmado que o massacre de Nanjing, onde muitos milhares de chineses foram executados, teria sido um episódio de propaganda, que nunca teria ocorrido. Estas manifestações ocorrem na esteira da visita do primeiro-ministro Shinzo Abe ao templo Yasukuni, onde restos mortais de muitos criminosos de guerra estão depositados, ao lado de outros considerados heróis pelos japoneses. Outras manifestações do atual governo procuram marcar uma posição nacionalista, diante das disputas de ilhas com a China, a Coreia do Sul e com a Rússia, cogitando-se de mudanças no Sistema de Auto-Defesa do Japão que poderia participar de ações militares mais amplas. Seriam declarações que procuram agradar a radical direita japonesa que era inexpressiva em termos eleitorais, mas que acabam ganhando projeção, mesmo que as pesquisas indiquem que os eleitores japoneses continuam apoiando as posições pacifistas que constam de sua Constituição.

katsumieconomist-logo

Katsuto Momii, diretor geral da NHK

Estas posições extremadas de alguns japoneses já ocorreram, mesmo não tendo nenhum respaldo na realidade. Entre os japoneses residentes no Brasil, depois do término da Segunda Guerra Mundial, havia fanáticos que não admitiam a derrota japonesa, afirmando que se tratava de mera propaganda dos Estados Unidos, e que os japoneses que admitiam a derrota eram traidores que deveriam ser mortos.

É lamentável que estas afirmações sobre problemas da Segunda Guerra Mundial ainda sejam feitas hoje por pessoas que, mesmo tendo posições de direita, negam lastimáveis incidentes que ocorreram que são lembrados com frequência pelos povos afetados.

Ainda que os Estados Unidos sejam os aliados que asseguram a defesa externa do Japão, inclusive com tropas estacionadas naquele país e forças que contam com armamentos atômicos, mesmo reafirmando o seu apoio aos japoneses, ficam embaraçados com incidentes que irritam outros aliados como a Coreia do Sul e as Filipinas, ou parceiros comerciais importantes como a China. Depois de muitas lamentáveis intervenções em regiões do Oriente Médio e da Ásia, com sacrifícios de vidas de militares e dispêndios de volumosos recursos, é compreensível que os Estados Unidos, no momento que tentam recuperar a sua economia, não se disponham a aventuras que impliquem em despesas adicionais, até porque estão esperando contribuições dos aliados do Pacífico para arcar com parte destes encargos.

Estas posições japonesas também podem prejudicar a recuperação de sua economia que depende de acordos como o TPP – TransPacific Partnership, que fica numa situação desconfortável com estas tensões políticas de fundo militar.

Parece compreensível que o Japão aumente a sua responsabilidade para cuidar de sua independência militar, não ficando exclusivamente na dependência dos Estados Unidos. Mas, no mundo atual globalizado, suas considerações geopolíticas necessitam ser pragmáticas, admitindo que existam interesses econômicos e comerciais que envolvem um bom relacionamento com seus vizinhos asiáticos, sobre os quais necessita reduzir os seus preconceitos.


2 Comentários para “Preocupantes Definições da Política Japonesa”

  1. rui sukenori isobe
    1  escreveu às 20:37 em 11 de fevereiro de 2014:

    Gostaria de saber se o atual imposto cobrado no Japão (shoohizei) antes era de 5%.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 09:11 em 12 de fevereiro de 2014:

    Caro Sui Sukenori Isobe,

    Realmente, o imposto de venda era de 5%, caminha para 8% e deve chegar a 10%, lamentavelmente.

    Paulo Yokota