Tentando Entender os Problemas da Malásia
2 de fevereiro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo interessante no Nikkei Asian Review sobre a Malásia, comparações com o Brasil, efeitos do desaquecimento no crescimento econômico, os problemas étnicos religiosos
Conheci a Malásia, ela que apresenta muitas semelhanças climáticas com parte da Amazônia brasileira como as das áreas próximas do Estado de Pará com florestas tropicais. Ela se tornou uma importante fornecedora mundial de borracha que os ingleses levaram para aquele país, diante das dificuldades que encontravam no Brasil com pragas, como em Fordlandia. Como conseguiram grandes plantações, os brasileiros importam estas matérias-primas até hoje daquela região. Ainda que seus problemas sejam bastante diferentes dos brasileiros, eles conseguiram o desenvolvimento com investimentos estrangeiros no processo de globalização, mas hoje enfrentam problemas com os desaquecimentos que atingem a maioria dos países emergentes, diante do seu próprio crescimento que elevou seus custos de salários. É um país onde o sultanato é básico, e a sua população é 60% de origem malaia e muçulmana, mais pobres, e com 30% de descendentes de chineses, 25 vezes mais ricos que o outro grupo étnico, o que é dramático.
Um artigo publicado por Wataru Yoshida, do Nikkei Asian Review, esclarece alguns destes problemas. Com a maioria da população de origem malaia, eles ganharam as eleições, o que vêm aumentando as tensões locais, diante de uma política que procura melhorar as condições da população desta etnia, provocando migração para o exterior dos de origem chinesa, que estão mais qualificados. É preciso entender que a Malásia faz fronteira com Cingapura que é uma ilha, onde o seu desenvolvimento continua acentuado com serviços, contando hoje com 60% de população de origem chinesa, consolidando-se com uma capital regional extremamente dinâmica.
Um grupo têxtil japonês que tinha uma fábrica próspera na Malásia informava sobre as dificuldades na administração dos seus recursos humanos há décadas. Numa festa, por exemplo, os trabalhadores malaios tinham que ser separados dos de origem chinesa, pois estes precisam ser servidos com cozinhas que continham porco, enquanto os primeiros por serem muçulmanos não podiam usar os mesmos alimentos. As duas populações até hoje utilizam restaurantes claramente divididos na Malásia.
As estatais da Malásia procuram congregar os empregados de sua etnia há décadas, o que parece compreensível e quando a economia crescia os de origem chinesa procuravam poupar suas críticas. Agora, com a desaceleração do crescimento, as tensões estão se expressando.
Há uma tendência da população de ascendência malaia procurar atividades voltadas para o mercado local, enquanto os de origem chinesa para o exterior. Como a Malásia está incluída nas negociações do TPP – TransPacific Partnership, que tem uma forte influência dos Estados Unidos, estas posições do país acabam criando dificuldades com potenciais aliados.
Estes tipos de problemas se proliferam no Sudeste Asiático, onde cada país tem as suas peculiaridades, e simplificar suas posições pode ser um erro de avaliação inadequado. É preciso lembrar que a Indonésia é o maior país muçulmano do mundo, ainda que de tendência moderada.
Já existem muitos dilemas nestes países, e não é simples entender os mesmos que, além dos econômicos, acabam se refletindo em políticos, complicados por problemas étnicos e religiosos.