As Dificuldades na Limpeza da Usina de Fukushima
17 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: artigo no The New York Times sobre o assunto, artigo similar do Isto É, vergonha que precisa ser superada
Depois de mais de três anos dos desastres que atingiram o nordeste do Japão, com um violento terremoto seguido do tsunami, os danos na usina de Fukushima e a contaminação radioativa, apesar dos esforços efetuados por muitos com o uso de bilhões de dólares, os resultados não podem orgulhar os japoneses. Pelo contrário, a perspectiva atual continua sendo de um trabalho que vai exigir ainda cerca de quatro décadas, não conseguindo resolver sequelas graves que estão sendo deixadas às populações atingidas como sobre a região. Parece que há necessidade de separar o problema da usina em si, bem como toda a região que foi afetada nos seus arredores, além das populações que, mesmo com os seus esforços, continuarão com sequelas como as deixadas pelos bombardeios atômicos sobre Hiroshima e Nagasaki. O Japão necessita transformar este desastre em algo que contribua positivamente para o futuro da humanidade, como o que aconteceu em 1945.
Os artigos publicados no jornal The New York Times, num texto elaborado por Hiroko Tabuchi, e na revista IstoÉ, escrito por Luiza Purchio, centram-se nos problemas dos recursos humanos utilizados na limpeza da usina de Fukushima, que deve mais aguda, exigindo uma solução diferente da que vem sendo adotada. As informações divulgadas são de trabalhadores modestos, sem preparo adequado, que estão sendo explorados, inclusive pela yakuza, para execução de tarefas em condições inaceitáveis, com remunerações que não correspondem aos riscos de radiação a que estão sendo submetidos, acima do recomendável, mencionando-se a possibilidade de serem afetados pelo câncer. Sabe-se que os japoneses contam com tecnologias de robótica para o desempenho destas tarefas, não se compreendendo porque não estão sendo utilizadas, além de uma solução definitiva para a contenção da radiação que continua ocorrendo.
Usina de Fukushima e mapa da região nordeste do Japão
Ainda que não sejamos especialistas no assunto, tudo indica que Fukushima vai exigir uma solução semelhante a adotada em Chernobyl, inclusive para evitar a continuidade da contaminação pelo subsolo. Existem notícias que as grandes empresas japonesas estão desenvolvendo tecnologias para desativar usinas que foram construídas no passado em todo o mundo, que não apresentam as seguranças sempre complicadas que estão sendo adotadas nas mais recentes. Os depósitos dos lixos nucleares sempre são problemáticos.
Mas existem também problemas relacionados com as limpezas de áreas que sofreram radiações como contam com volumosos resíduos de tudo que foi destruído pelo terremoto e pelo tsunami. Há que se definir depósitos para estes lixos que ninguém deseja aceitar e que representam volumes assustadores, por uma vasta região do nordeste do Japão, a distâncias variadas da usina de Fukushima. Ainda que as radiações destas áreas já estejam ao nível do suportável, continuam superiores aos normais, devendo-se lembrar de que existem outras fontes de radiações que não provocam tanto trauma como a da região.
Já noticiamos neste site que muitos dos antigos moradores do nordeste do Japão não retornaram e nem pretendem retornar para à região, havendo muitos que ainda ocupam habitações provisórias. As superações dos seus traumas bem como o desaparecimento de dezenas de milhares dos habitantes destas áreas deixaram para os sobreviventes problemas que exigem uma assistência especial do governo japonês. Dentro do esforço que vem sendo efetuado pelo Japão para a recuperação de sua economia, parece que tratar toda a região afetada como uma Zona Especial que receba incentivos fiscais, monetários e de outras naturezas seria o mínimo que necessita ser considerado.
Baseando-se nas duras experiências de Hiroshima e Nagasaki, que acabaram virando símbolos mundiais da paz, desenvolvendo até uma medicina relacionada com a radiação e tratamentos de pele, parece que algo semelhante deve ser cogitado. Também a construção da cidade científica de Tsukuba, numa das regiões menos desenvolvidas e próximas de Tóquio, parece um caminho a ser cogitado.
Terremotos continuarão a ocorrer no mundo e o Japão já se tornou um país onde as tecnologias de construção civil, bem como de defesa civil para a população, estão relativamente avançadas. A transmissão destes conhecimentos para outros países parece ser um algo que permita a dura acumulação de tecnologia como algo que possa ser disseminado pelo mundo.
Continuar somente lamentando as desgraças ocorridas não parece uma atitude positiva para transformar os problemas em fontes de soluções.