Diferença das Estratégias Chinesas e Russas
26 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: as experiências passadas, chineses procuram entendimentos com os ocidentais, russos decidiram pela confrontação
Muitos fatores influenciaram na dissolução da antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Há analistas que admitem a importância da corrida armamentista estimulada pelos Estados Unidos que exauriram os recursos da Rússia e seus aliados. A atual decisão de Vladimir Putin com relação à Ucrânia parece pouco racional, pois a Rússia e seus atuais aliados já estavam enfrentando grandes dificuldades econômicas, aparentando uma estagnação e não existem recursos russos suficientes para assistirem alguns países vizinhos que gostariam de continuar com suas benesses. Os recursos energéticos atuais precisariam continuar a abastecer a Europa para continuar a gerar divisas que são insuficientes até para a manutenção dos seus elevados custos, até porque alternativas estão sendo desenvolvidas. O desenvolvimento tecnológico que vem ocorrendo naquela parte do mundo não apresenta o mesmo dinamismo que do Ocidente, ao mesmo tempo em que novas necessidades sociais deverão ser acrescentadas, não havendo nenhum espaço para uma corrida armamentista, que seria desastrosa. Muitos recursos da região procuram migrar para o exterior, no que estão sendo dificultados, pois muitos decorrem de atos que aparentam corrupção.
Os chineses que vieram crescendo rapidamente nas últimas décadas, ampliando seus orçamentos militares ainda modestos, parecem conscientes que seria uma loucura se envolver numa corrida armamentista com o Ocidente. Tentam encontrar mecanismos que permitam conviver com os Estados Unidos e seus aliados, ainda que existam sempre os que pensam ao contrário. A China é ainda um país de renda per capita baixa e necessita de profundas reformas que estão tentando para vincular mais o seu desenvolvimento com a expansão do seu mercado interno, reduzindo a dependência do comércio exterior, que não apresenta mais o dinamismo que contava no passado. Sua política parece mais pragmática e certamente decorre de intensas discussões internas com sua elite dirigente, de excepcional qualidade.
Vladimir Putin Xi Jinping
O Ocidente não parece depender de um líder, pois Barack Obama não parece contar com características de estadista nem carisma para tanto, e nenhum estadista europeu também se destacou. Na realidade, os conjuntos das sociedades ocidentais com os governantes que dispõem parecem ser suficientes para os desafios que se apresentam. Na medida em que são provocados por decisões emocionais como o de Putin acabam se aglutinando, como o que se repetiu na recente decisão do grupo que voltou a ser G7, ainda que isto seja um retrocesso na governança mundial.
O desejável poderia ser o desenvolvimento do G20, mas há que se admitir que contando com muitas vozes divergentes, não se consegue uma decisão operacional. O Brasil, lamentavelmente, parece reduzido a considerações pontuais, como a realização da reunião dos BRICS, que não dispõem de nenhuma capacidade política operacional, sendo meramente a junção de países que apresentam algumas características semelhantes emergentes de dimensão territorial.
Somente o tempo poderá confirmar análises superficiais como estas que estão sendo apresentadas. O que parece relevante é considerar que nenhum país faz exatamente o que desejaria, mas o que é possível, diante de um quadro que apresenta certo confronto de pontos de vistas, mas que apresentam desequilíbrios acentuados de poder econômico e militar. Parece mais a hora para pragmatismo econômico e político, com menos considerações ideológicas.
Os que pretenderem enfrentar a dura realidade parecem ter maiores chances de redundantes fracassos, que com o tempo acabará minando eventuais suportes populares, que são mais emotivos.