Informações Sobre a Evolução da Economia
24 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: defasagens, diagnósticos enviesados, limitações das informações disponíveis
Nas economias que sofrem mudanças sensíveis e rápidas, as informações sobre suas evoluções são estratégicas tanto para os diagnósticos das autoridades responsáveis pelas formulações das medidas de política econômica como para todos os agentes que tomam decisões importantes em função das mesmas. No entanto, por mais que os fornecedores se esforcem para fornecê-las rapidamente com a maior precisão possível, há que se admitir que existam grandes limitações sobre as mesmas. Mesmo com as melhores técnicas de censos ou amostragens as grandes massas de informações que acabam sendo agregadas, acabam exigindo tempo para que elas sejam completadas e se tornem disponíveis. As melhores técnicas para abreviar as suas elaborações, mediante usos de amostras estatisticamente estratificadas, estão, no mínimo, sujeitas às margens de erros, sendo que muitas aproximações chamadas proxies também são utilizadas.
Estes e outros problemas existentes geram uma disputa sobre os os verdadeiros significados das tendências econômicas, com as autoridades atribuindo aos fornecedores primários as informações vieses no sentido do seu agravamento. Ao mesmo tempo, a tendência do público é no sentido de entender que as autoridades procurem interpretações que lhes sejam mais favoráveis. Como exemplo, o ministro Octávio Gouveia de Bulhões tinha a impressão que os empresários exageravam nas indicações das dificuldades, ao mesmo tempo em que o setor privado atribuía ao governo um exagerado conservadorismo no reconhecimento de quadros recessivos ou de inflações crescentes, gerando um clima de desconfiança recíproca que em nada ajudava a economia. Como uma das consequências, a economia brasileira aprofundou a sua recessão no final de 1966 para começo de 1967 mais do que necessário no quadro difícil em que se encontrava.
Na tentativa de se minimizar estas discrepâncias de informações, utilizando as informações que as empresas dispunham de suas compras e vendas, em função da introdução da tributação pelo valor adicionado, elaborou-se uma amostra grosseira sobre os principais setores comerciais como industriais que permitisse uma avaliação rápida de como elas evoluíam. Utilizou-se diretamente o sistema de fiscalização tributária que tinha acesso a estes dados, bem como exame das notas fiscais que indicavam as mercadorias que estavam sendo transacionadas e seus preços, mesmo admitindo que houvesse algumas sonegações. Isto só era possível porque o regime era autoritário. Foram construídos índices que permitiam informações rápidas e semanais sobre a evolução das vendas como das compras, bem como das quantidades transacionadas e seus preços.
Num período em que a informática ainda estava nos seus estágios iniciais, dispunha-se em menos de uma semana estes índices que dificilmente poderiam ser contestados, quer pelos empresários como pelas autoridades, no mínimo nas suas tendências. Hoje, com a disseminação da informática, as empresas dispõem de todos estes dados instantaneamente, divididos por suas unidades e departamentos, sendo possível mediante convênios elaborarem-se amostras que abarquem os principais setores da economia, assegurado o sigilo que não permita a sua individualização por empresa.
As notícias, como publicadas no Valor Econômico, informando que os comportamentos dos principais setores da economia no começo deste ano de 2014 parecem ter ficado acima das expectativas indicam estes tipos de dificuldades. E, para agravar, as informações são sempre do passado, quando o que é mais relevante é o que deverá acontecer no futuro.
Sempre que possível, os analistas utilizam os chamados indicadores antecedentes. A venda de cartão enrugado é um deles, pois sendo utilizados nas embalagens indicam que as indústrias estão se preparando para entregas no futuro. As carteiras de encomendas de equipamentos também são relevantes, pois indicam que as empresas estão se preparando para ampliar as suas atividades. De forma semelhante, algumas matérias-primas como as utilizadas na produção de vasilhames plásticos também são bons indicativos. Na realidade, poucas entidades empresariais ou institutos de pesquisas estão utilizando indicadores elaborados com estes e outros dados que podem dar uma ideia do que se está sendo programado para o futuro próximo na economia com razoável precisão.
Alguns bancos, por contarem com um elevado número de clientes de diversos setores, conseguem elaborar indicadores do que deve acontecer na economia no futuro, sem a identificação das empresas informantes. Parece que são passos importantes para melhorar os diagnósticos bem como orientar os empresários.