Três Anos dos Desastres do Nordeste do Japão
11 de março de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: consequências para a região e o mundo, é preciso expressar algumas opiniões, persistência dentro de um quadro difícil
Ainda que não se possa contribuir muito falando do quadro em que as dificuldades persistem no terceiro aniversário de um dos dos maiores desastres que afetaram o Japão, os fatos gritantes não nos permitem ficar calados. Há uma necessidade de prestar solidariedade a quase vinte mil vidas que se perderam ou desapareceram, com 400 mil casas que foram danificadas com toda a infraestrutura que as suportava, 470 mil pessoas que tiveram que se deslocar da região afetada e ainda hoje mais de 100 mil vivem em alojamentos temporários. Os sofrimentos dos sobreviventes são imensuráveis, difíceis de serem avaliados à distância. Precisamos aprender com todo este sofrimento, pois o mundo ainda acompanha o que os japoneses continuam fazendo para a sua reconstrução, mas é ainda pouco o que se conseguiu. Muitos no mundo são obrigados a continuar morando até mesmo onde as condições naturais são adversas, encontrando mecanismos para a convivência com elas, usando-as como desafios para aperfeiçoamentos à nossa forma de viver de forma melhor possível. É preciso transformar limão em limonada, como se conseguiu em Hiroshima e Nagasaki.
O site Nikkei Asian Review faz um balanço com três artigos, um sobre a dimensão da devastação, como se tenta superar a adversidade com a produção possível e finalmente sobre dois caminhos possíveis para o futuro. Mas, podem-se acrescentar às duras lições que estão sendo deixadas, como as necessidades de fontes de energia menos perigosas, as construções que possam resistir aos fortes terremotos seguidos de tsunami, como extrair das adversidades forças para o futuro, aprendendo com o único pinheiro que resistiu ao maremoto, cujo DNA continua sendo multiplicado para criar novas florestas.
Ilustração da Nikkei Asian Review
O site informa que a reconstrução está entrando em nova fase, não se contando com a certeza da população que não abandonará a região definitivamente, até porque não se conseguiu ainda estancar a radiação que continua ocorrendo da usina afetada. Tudo indica que haverá necessidade de uma solução próxima a que foi adotada em Chernobyl, mesmo que não seja a ideal. Ou seja, uma estrutura de concreto que a isolaria totalmente, inclusive nos seus vazamentos pelo subsolo, com a paulatina retirada dos combustíveis nucleares restantes, para o que terá se desenvolver uma tecnologia especial.
Há até uma proposta para se desenvolver uma tecnologia para desativação de muitas usinas que estão se tornando obsoletas em todo o mundo, e que exigem soluções mais racionais. Existem algumas iniciativas que trazem de outras regiões do Japão, como da proximidade de Tsukiji, o grande mercado de frutos do mar de Tóquio. Ensina-se aos locais a desenvolverem atividades para aproveitamento das matérias primas da região, mostrando que produtos semielaborados acabam sendo mais valorizados que os peixes em si. Também salmões defumados estão sendo preparados por cooperativas de produtores locais.
Frutas, como morangos de qualidade, estão sendo produzidas com métodos hidropônicos, com alto teor de açúcar, como as apreciadas nos mercados da Capital, Tóquio. Alguns produtos do Sudeste Asiático estão sendo adaptados para a produção local. Procura-se colocar o pessoal nativo no comando destes projetos, para estimular a autoestima, inclusive com introdução de novos designs. Mas a grande dificuldade é que tudo está sendo feito com idosos que permanecem na região, pois muitos jovens preferiram migrar para outras regiões do Japão.
Muitas novas residências definitivas estão sendo concluídas na região, mas muitos desistiram de voltar. As lojas estão sendo construídas em terrenos mais elevados, e as técnicas de construção estão preparadas para resistirem aos terremotos mais violentos. Com a redução da população da região, os consumidores são em menor número, acabando por transmitir uma ideia de uma região decadente. A ideia da reconstrução acaba sendo abalada, com as incertezas do futuro. Parece que há necessidade do governo nacional providenciar para que toda esta região se torne uma Zona Especial, suficiente para voltar a contar com o dinamismo tanto para a integração com a economia nacional como internacional, para reduzir a sua falta de competitividade atual.
Se existem resistências ao uso de energia nuclear, há que se estimular a geração de energias outras, como a solar, a eólica e mesmo as diferenças de marés, ou as que aproveitam as energias vulcânicas. Pode-se lembrar de que o Japão obteve sucesso em Tsukuba, que era uma das regiões menos desenvolvidas nas proximidades de Tóquio, com a criação de uma cidade científica, que se tornou também um grande centro universitário.
Tudo indica que somente com esforços habituais os problemas do nordeste do Japão não serão superados, havendo uma necessidade de uma programação nacional, dentro do esforço geral de recuperação da economia japonesa, diante dos desastres a que a população foi submetida e sensibilizaram todo o mundo.