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Aproveitamento da Experiência dos Veteranos

9 de abril de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: aperfeiçoamentos contínuos, aproveitamento dos veteranos liberados pela robótica, artigo no The Japan Times

A Toyota vem sendo pioneira no estabelecimento de muitos sistemas de trabalho nas suas unidades fabris. Um artigo elaborado por Craig Trudell, Yuki Hagiwara e Ma Jie para a Bloomberg e publicado no The Japan Times informa sobre inovações na utilização da experiência dos operários veteranos da Toyota que estão sendo substituídos por muitos robôs nos trabalhos repetitivos. Os japoneses sempre deram importância para as experiências dos veteranos que ajudaram a gerar as tecnologias hoje utilizadas, com contribuições que vieram sendo acumulados ao longo do tempo. O diretor técnico da Toyota Mitsuro Kawai tem consciência de todas as habilidades manuais que vieram sendo desenvolvidas pelos operários, lembrando que os mestres eram considerados como deuses com suas experiências que eram transmitidas para os jovens.

Hoje, com o largo emprego da robótica, muitas tarefas repetitivas estão sendo efetuadas pelas máquinas, mas sempre ocorrem dificuldades que não conseguem ser superadas por elas que não pensam. O número de recall da indústria automobilística é elevado, resultando em altos custos para as empresas. Os operários sabem que existem tarefas que foram aperfeiçoadas pelos verdadeiros artesãos, com o desenvolvimento contínuo do nível de arte e habilidade, que nem sempre as máquinas conseguem executar. A Toyota, com o seu período de crescimento rápido, também acabou ficando com muitas dificuldades que estão procurando sanar.

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Nas linhas de produção da empresa foram criados mais de 100 espaços de trabalho manual intensivo para reprogramar muitos trabalhos que estão feitos pelas máquinas. Sempre existem aperfeiçoamentos a serem introduzidos, reduzindo eventuais imperfeições que podem ser superadas, bem como promover reduções dos custos.

Continuam sendo utilizados os princípios do kaizen, ou melhoria contínua dentro do conceito do monozukuri, a arte de fazer as coisas. A multa de US$ 1,2 bilhão que a Toyota pagou nos Estados Unidos está servindo de desafio para a superação de suas dificuldades, que também ocorrem em outras indústrias.

O que parece estar ocorrendo é que o processo de aperfeiçoamento contínuo da Toyota, que era restrita a sua experiência interna, está recebendo subsídios do que ela acumulou em outras unidades, talvez até fora da empresa. A arrogância que existia na organização, assim como em outras japonesas, parece superada, mostrando que algum intercâmbio pode ser favorável, ainda que dependa basicamente das experiências dos seus veteranos.

Também seria uma forma de aproveitar o cabedal que se acumulou nesta mão de obra altamente capacitada, pois o sistema de aposentadoria do Japão faz com que os operários também sejam aposentados prematuramente. Muitos deles acabavam sendo encaminhados para o exterior, notadamente no controle de qualidade, criando uma concorrência que também deve ser considerada saudável.

O que parece ainda desejável é que procure se adaptar as produções efetuadas em países emergentes como o Brasil, que apresentam especificidades que não se observam em países desenvolvidos. A simples reprodução do que já foi feito em outros países não parece adequado, quando o combustível utilizado é mais deficiente, as peças que são fornecidas localmente contam com dificuldades adicionais, e as ruas e estradas que estes veículos precisam enfrentar são mais problemáticas.

Também não se pode desprezar a experiências dos operários brasileiros que conhecem variadas situações que não são as mesmas existentes no Japão ou nos países desenvolvidos. A redução da arrogância que está se observando na matriz seria de grande utilidade, pois mesmo com todos os pesares, as miscigenações que se observam em países como o Brasil acaba também resultado em criatividades.