Os Problemas Cambiais dos Países Emergentes
2 de abril de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: atividades especulativas do setor financeiro, o que já aconteceu no Brasil, os problemas atuais na China
Houve um período em que a economia brasileira sofria uma onda internacional de especulação com o forte influxo de recursos externos que determinavam uma valorização previsível do seu câmbio, ao mesmo que remunerava com juros elevados estas aplicações que vinham do exterior. Suas remunerações em dólares chegaram a mais de duas dezenas, pois o câmbio apresentava uma tendência clara e contínua de valorização. Algumas autoridades monetárias brasileiras eram consideradas geniais, quando na realidade atuavam para proporcionar remunerações elevadas para especuladores internacionais. Quando esta tendência do câmbio deixou de existir, com o início de sua desvalorização, o sistema financeiro internacional acabou contando com riscos cambiais adicionais, e, porque não contavam com lucros certos, as críticas do sistema bancário sobre a economia brasileira começaram a se intensificar, criando um clima pior que os dados permitiam, como o que prevalece atualmente.
Algo semelhante começou a ocorrer na China, por causa da estabilidade da sua taxa cambial. As autoridades chinesas ampliaram o intervalo de sua variação, elevando o seu risco para não se tornarem reféns da especulação do sistema financeiro internacional, no momento em que promove reformas que resultam na redução do patamar de sua taxa de crescimento econômico. Dispondo de um volume expressivo de reservas em moedas externas, a China, por intermédio de suas autoridades monetárias, passou a atuar no sentido contrário das tendências esperadas do câmbio pelo sistema financeiro internacional, impondo até pesados prejuízos. Como consequência, deve-se esperar a intensificação de críticas afirmando que suas autoridades não são racionais e que a economia chinesa deve sofrer uma forte redução do seu ritmo de crescimento, quando o natural no mercado financeiro internacional é que haja flutuações envolvendo riscos e não certezas de que assegurem ganhos elevados aos especuladores.
Na realidade, temos insistido neste site que há um exagero na importância atual do sistema financeiro internacional, procurando que alguns países, principalmente os emergentes, se tornem alvos de especulações que assegurem elevadas remunerações, com baixos riscos. O natural no mercado é que altos riscos permitam elevadas remunerações e deve-se desconfiar sempre que existam altos lucros com baixos riscos, que seria o paraíso do sistema financeiro internacional.
Quando as autoridades monetárias procuram montar cenários que sejam de interesse de suas economias, onde taxas de juros baixas estimulam os investimentos e crescimento de suas economias, acaba se chocando com os interesses do sistema financeiro internacional. Como reação para assegurar seus elevados lucros, usa de suas influências na opinião pública por intermédio dos meios de comunicação social, tendendo a criar um clima exagerado de apreensão, como acontece atualmente no Brasil, mesmo que existam medidas que possam ser consideradas incorretas do governo, que concede maior prioridade ao controle do processo inflacionário.
O conveniente é que o sistema bancário contribuísse para proporcionar recursos para a ampliação das atividades produtivas e não se limitasse às atividades especulativas que visem o aumento de suas remunerações. Mesmo que se aceite que há necessidade de uma lubrificação no mercado financeiro para que não haja uma rigidez nas suas atuações.
O que parece inaceitável é que não haja nenhuma regulamentação para se evitar o exagerado fluxo financeiro internacional que estimula atividades especulativas. Mas o sistema bancário internacional contrapõe-se a qualquer restrição às suas atividades, mesmo que se reconheça que manipulam taxas de juros e de câmbio, com alguns bancos sendo condenados a pesadas multas por algumas autoridades. Deve-se admitir que os seus lucros superassem em muito estas multas, não se conseguindo a suspensão destas atividades amorais.