Modos Convenientes de Ver os Acontecimentos na Ásia
25 de maio de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: ainda dependem de definições futuros da China, artigo de Yuriko Koike sobre os recentes acontecimentos asiáticos, considerar os Estados Unidos parte da Ásia seria um exagero
Se existe um exemplo de como políticos experientes também dão interpretações convenientes para suas posições sobre recentes acontecimentos internacionais, este é o caso do artigo publicado pela experiente Yuriko Koike. Ela é parlamentar japonesa e escreveu sobre os últimos fatos relevantes na Ásia no Project Syndicate, tendo já sido ministra da Defesa do Japão. Começa por lamentar o golpe militar ocorrido na Tailândia que poderia ter um futuro brilhante, mas o 39º golpe em algumas décadas obscurece o cenário asiático, denegrindo o futuro daquele país. Refere-se à reação do Vietnã para as pretensões da China, que sempre é o destaque asiático que deve ser batido, inclusive nos investimentos minerais efetuados em Myanmar.
Ela não poderia deixar passar despercebido o entendimento firmado entre a China e a Rússia referente ao fornecimento de gás. No caso, diante da criticável posição de Vlademir Putin com relação à Ucrânia, que gera desconfortos para o Ocidente, a interpretação adequada dela foi da China ter se aproveitado da Rússia, no momento em que Vladimir Putin precisava de suporte. Na sua interpretação, os chineses autoconfiantes se utilizaram da má gestão russa de assuntos como a anexação da Crimeia, para impor-lhe uma situação como de um vassalo, que acaba sendo uma expressão até ofensiva e jocosa para analistas internacionais.
Yuriko Koike
A autora expressa sua posição positiva com relação à arrasadora vitória de Narendra Modi, como uma vitória pessoal provocando uma mudança na tradicional política da Índia, que soa como uma aposta ainda prematura. E ressalta a iniciativa de Shinzo Abe nos avanços dos entendimentos com os indianos, quando também outras potências como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha tenham efetuados gestos idênticos.
Deve-se lembrar que o Japão vinha efetuando um gigantesco programa de cooperação internacional com os gestores anteriores da Índia, como no caso do corredor Delhi-Mombai, que foram fragorosamente derrotados eleitoralmente. Yuriko Koike aventa a hipótese que a Índia como o Japão fortaleceria a segurança regional, junto com aliados como os Estados Unidos, na medida em que Shinzo Abe avançaria na reformulação do famoso Artigo 9º da Constituição japonesa, que daria ao atual Sistema de Autodefesa condições de ajudar outros países asiáticos. Deve-se lembrar que a interpretação dos países vizinhos é ao contrário, de risco da volta do militarismo japonês com pretensões hegemônicas na região como ocorreu no passado.
A autora acredita os países asiáticos acabarão entendendo a posição japonesa que será mais bem explicada numa reunião programada para Cingapura para breve. Haveria uma grande estratégia de equilíbrio na região, com a junção dos esforços da China, Índia, Japão e Estados Unidos, o que parece um devaneio, pois o que parece se caracterizar é uma posição de confronto dos norte-americanos e seus aliados para fazer frente aos avanços chineses.
O que parece quase ingênuo para uma experiente política como Yuriko Koike é que isto implicaria para ela no abandono da posição hegemônica da China na região, que já se consolida em termos econômicos e de poder político, ainda que negado pelos chineses em termos militares. Ela entende que os chineses compreendem que a vitória chinesa numa guerra seria impossível, mas nunca se aventou a hipótese de um conflito desta magnitude na Ásia, que seria um desastre mundial.
Lamentavelmente, diante de um quadro tão complexo como o asiático, este artigo da experiente Yuriko Koike acaba soando como algo panfletário ou meramente acadêmico, quando ela é uma política diretamente envolvida e deveria manter uma posição mais reservada e segura. Ou seria o sinal da absoluta fala de um espírito de estadista entre os líderes japoneses?