O Problema das Contas Externas Brasileiras
21 de maio de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: a correção cambial, desequilíbrios exagerados, influência dos fluxos financeiros, medidas restritivas
Todos sabem que o Brasil encontra-se numa situação em que sua indústria está sem condições competitivas, que não depende somente do câmbio valorizado. Desde o Plano Real, que conseguiu uma estabilidade monetária importante, o setor externo da economia brasileira veio sendo sacrificado, parte para ajudar na redução das pressões inflacionárias. O Brasil foi ajudado nas contas externas por um período da economia mundial onde as commodities agropecuárias e minerais alcançaram um preço elevado, dando a ilusão que haveria condições de contar com um elevado crescimento econômico, mesmo com as dificuldades do seu setor industrial que já tinha alcançado um razoável patamar de sofisticação.
Com a necessidade de manter uma elevada taxa de juros, o Brasil continua registrando o ingresso de um importante fluxo de recursos externos de natureza financeira, que mantém o câmbio sem uma grande desvalorização que seria necessária, ainda que suficiente para resolver todos os seus problemas. Além da importação de muitos bens que poderiam ser produzidos no país, continua contando com elevados gastos no turismo que chegam perto de US$ 1,5 bilhão mensal, onde muitos brasileiros usufruem as vantagens dos preços de serviços no exterior, como adquirem muitos produtos industriais que trazem para o Brasil como bagagens. As autoridades tomam medidas incipientes para coibir gastos, como dos cartões de crédito no exterior, elevando seus custos, e as bagagens dos turistas só podem ser examinadas por amostragens nos aeroportos. Os turistas brasileiros são considerados os melhores pelos norte-americanos.
Turistas brasileiros em Miami e Nova Iorque: gastos excessivos
As autoridades brasileiras devem evitar a tributação adicional das importações, pois muitas são de máquinas e equipamentos, bem como de componentes que serão utilizados nos produtos exportados. E até porque os dados recentes mostram um razoável equilíbrio das importações com as exportações, ainda que estas sejam muitos de produtos agropecuários e minérios. Também as tributações adicionais sobre os produtos importados tendem a gerar reações dos países que os exportam para o Brasil.
O que pouco acrescenta para a economia brasileira são estes gastos dos turistas, quer sejam de puro turismo como dos produtos que trazem nas suas bagagens. Sempre se entendeu que parte destas bagagens ajuda a melhorar as produções internas do Brasil, na medida em que adaptam ou copiam produtos que estão disponíveis no exterior, que introduzem melhorias tecnológicas estimulando que as novas produções internas procurem ser competitivas.
O risco para o Brasil é depender exageradamente dos fluxos financeiros que estão chegando para aproveitar os elevados juros no país, que superam atualmente a mais de US$ 5 bilhões, com grandes flutuações. Alguns são de curto prazo, podendo ser considerados especulativos. Eles são nervosos e podem inverter a direção do fluxo por razões como políticas, ou a mudança da rentabilidade que proporcionam. O que seria desejável, mas ainda improvável, é que houvesse uma regulamentação internacional para reduzir estes fluxos financeiros internacionais, exigindo-se, por exemplo, permanência no país por prazos mais longos.
O que parece que apresenta menos riscos para a economia brasileira seriam formas adicionais de coibir os exagerados gastos dos turistas brasileiros no exterior, estimulando que estes sejam feitos no próprio país, o que também ajudaria na criação de empregos no segmento do turismo interno.