Esforços Para a Acomodação dos EUA e a China
28 de junho de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: diálogos estratégicos e econômicos, dificuldades nos Estados Unidos e na China, esforços dos dois lados
Muitos artigos estão sendo escritos com frequência em diversos meios de comunicação internacionais sobre os esforços efetuados tanto pelos Estados Unidos como pela China para acomodarem suas diferenças. Stephen S. Roach, um conhecido estudioso do assunto da Universidade de Yale, publica no Project Syndicate um artigo que se refere ao atual Sexto Diálogo Estratégico e Econômico entre as duas maiores potências mundiais, cujas consequências acabam por repercutir por todo o globo. Estas reuniões de alto nível se repetem nos dois países, em locais reciprocamente escolhidos, e este artigo permite compreender parcialmente as principais questões existentes e suas complexidades. Os dois países estão amarrados em um abraço desconfortável numa codependência, como chamam os psicólogos, tendo começado em 1970.
Os atritos bilaterais atuais se espalham em diversas frentes: a segurança cibernética, disputas territoriais no leste e sul do Mar da China e a política cambial, que são as principais. Apesar das diferenças, o flerte começou quando a China estava balançando com os rescaldos da Revolução Cultural e os Estados Unidos atolados na estagflação. Desesperados para retomar os seus desenvolvimentos, os dois países celebraram um casamento de conveniência. A China foi competente em elevar suas exportações tendo os Estados Unidos como o maior importador. Os consumidores norte-americanos se beneficiaram dos produtos chineses de baixo custo, além de completarem suas baixas poupanças com os recursos provenientes da China.
Com o tempo, este casamento de conveniência, segundo o autor, transformou-se numa codependência plena, mas insalubre. Os crescimentos econômicos registrados eram desequilibrados, com os Estados Unidos criando uma bolha de ativos e créditos que sustentava o seu consumo, e na China o seu crescimento era exageradamente dependente da exportação para os Estados Unidos, que dependia de sua bolha.
O crescimento da China nas últimas três décadas, que certamente dependia também das exportações para outros países, demandou recursos elevados inclusive em energia, provocando uma degradação descomunal no meio ambiente e na poluição, com piora na sua distribuição de renda. Os elevados superávits no comércio exterior chinês resultaram em muita economia e pouco consumo.
Nos Estados Unidos, a situação era o seu espelho. Um déficit enorme de poupança interna, déficit nas contas externas, um excessivo endividamento dependente de recursos especulativos. A codependência se tornou turva. As multinacionais se tornaram responsáveis por 60% das exportações chinesas, com as empresas chinesas dependentes do Estado, criando um problema de identidade entre os chineses.
As acusações sobre os desequilíbrios se tornaram recíprocas. Os Estados Unidos acusam a China pelos seus déficits comerciais, que sofrem com as pressões sobre os seus trabalhadores, ao mesmo tempo em que contam com reservas internacionais astronômicas, com acusações sobre manipulações no câmbio. Os chineses acusam os norte-americanos pelos seus exagerados déficits de poupança, como déficits comerciais com dezenas de países.
Estas acusações se estenderam para a cibersegurança, onde os chineses estariam se apropriando da propriedade intelectual, ao qual a China responde com os flagrantes violações com as espionagens, tanto políticas como comerciais. Também entram as questões de segurança militar, notadamente no Mar da China, onde ainda os Estados Unidos possuem um papel importante.
A codependência teria que evoluir para uma cooperação mais sustentável e construtiva, que atendessem às necessidades recíprocas, com benefícios mútuos. Os próximos diálogos devem explorar estas oportunidades, com um tratado de investimentos bilaterais, ampliando os acessos aos mercados e liberalizando os comércios externos, inclusive na área dos serviços.
Tudo isto é fácil de ser cogitado, mas difícil de ser executado num clima de natural desconfiança. Mas, parece que os chineses consideram os fortes laços criados pelos seus imigrantes e descendentes que desempenham um papel importante, notadamente no aspecto econômico, nos Estados Unidos, inclusive nas vidas universitárias. Ao mesmo tempo, os interesses das empresas norte-americanas no gigantesco mercado chinês não podem ser desprezados, que também são plataformas para exportações para terceiros países.
Na realidade, existe muito de pragmatismo que pode ser implementado nas realidades já consolidadas, pois não parece possível imaginar que tudo acabe numa situação de conflito.