O Novo Keidanren e as Relações Nipo-Brasileiras
4 de junho de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: prioridade para a China e Coreia do Sul, relações com o Brasil, relações com o governo, um novo Keidanren, uma nova imagem
Uma entrevista concedida pelo novo presidente do Keidanren – Federação das Organizações Econômicas do Japão ao jornal Yomiuri Shimbun esclarece muitas das mudanças que estão se processando naquele país. O Keidanren já foi a porta de entrada do Brasil no Japão, mas hoje parece que, mesmo mantendo o Comitê Empresarial Nipo-Brasileiro com a CNI – Confederação Nacional da Indústria do Brasil, suas prioridades estão centradas na melhoria de suas relações com a China e a Coreia do Sul, em termos internacionais. Também procura melhorar as relações com o governo japonês, pois na administração anterior desta cúpula empresarial, com uma posição crítica com relação à política econômica conhecida como a Abeconomics, houve um distanciamento. Procura ampliar o relacionamento com a população japonesa, que via o interesse das grandes empresas distanciadas com o do povo japonês. Seu papel de um importante coordenador das doações empresariais para os segmentos políticos, que estava suspensa, parece em rediscussão, para restabelecer o seu poder político.
O novo presidente Sadayuki Sakakibara é também chairman da Toray Industries, uma das mais importantes do setor petroquímico japonês, concentrada na produção de fibras de alta tecnologia. Ele discute a possibilidade de reformas internas do Keidanren, para recuperar o seu papel que já foi mais importante no passado, quando havia o que ficou conhecido como Japan Inc. que aglutinava o setor privado, representado pelas grandes empresas, incluindo os bancos, as trading companies e outros serviços, com um intenso relacionamento coletivo com o governo. As duas décadas de deflação que agora está tentando superar com uma meta de inflação anual de 2%, mas luta para que a carga tributária das empresas fique no nível de 25%, como acontece na média dos países da OCDE – Organização da Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Sadayuki Sakakibara
Ela pretende fornecer uma visão da economia japonesa para 2020 e 2030, ou seja, trabalha com as perspectiva de longo prazo, onde o desenvolvimento tecnológico ganha importância no desenvolvimento do setor privado.
Os grandes projeto nipo-brasileiros foram montados tendo o Keidanren como a entidade principal, pois facilitava o relacionamento com a indústria pesada, como a siderurgia, as trading companies e os bancos. O grande destaque foi o entendimento da Vale com as siderurgias japonesas, para um programa de exportação de minérios num entendimento de longo prazo.
Com isto tinha se viabilizada a exportação dos minérios do Sudeste Brasileiro, como do Estado de Minas Gerais, com a construção do Porto de Tubarão e todo o sistema logístico que viabilizava a chegada do minério de forma competitiva no outro lado do mundo, tendo como carga de retorno o petróleo do Oriente Médio. No seu prosseguimento, viabilizou-se a exploração de Carajás, o seu transporte até o Porto de Itaquí, também para chegar ao Japão e outros países asiáticos.
Lamentavelmente, o interesse bilateral tem arrefecido, e mesmo com a visita do primeiro-ministro Shinzo Abe, programada para agosto próximo, não existe uma pauta muito profunda para o restabelecimento do vigor do relacionamento entre os dois países.
Há que se restabelecer, com um profundo trabalho de longo prazo, as possibilidades destes intercâmbios bilaterais que acabaram se estendendo para outros países asiáticos, como a Coreia do Sul e a China, havendo toda a conveniência que sejam retomados os contatos mais profundos com o Keidanren que pode ajudar em muito em todo este processo.