Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Suplemento da Folha: O Brasil que dá Certo

24 de junho de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: aproveitamento das condições regionais, dados menos conhecidos dos leitores, importância da agroindústria, o Nordeste, o que vem acontecendo fora dos centros tradicionais, sobre o Centro Oeste | 8 Comentários »

Ainda que estes suplementos que começaram a ser publicados na última segunda-feira, e se referem ao que “vem dando certo no Brasil” tenham também a conotação de atrair publicidade, muitas informações que nem sempre são devidamente conhecidas pelos leitores urbanos dos grandes centros acabam sendo incluídas, fazendo um importante contraponto de destaque das notícias críticas. O Centro Oeste brasileiro, compreendendo o Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, que no passado contavam com explorações agropecuárias extensivas, hoje são regiões dinâmicas que incorporam novas tecnologias, integrando-se até as fases industriais e de serviços. E vêm sustentando parte importante da economia brasileira, mantendo-se competitivas nos mercados internacionais, mesmo com todas as dificuldades existentes.

Na edição que se refere ao Nordeste, compreendendo desde o Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe até a Bahia, as novas orientações governamentais melhoraram o seu padrão de vida. Novas atividades como a construção naval acabaram se instalando na região, que conta também com fontes sustentáveis de energia, como a eólica, além de uma sofisticada agricultura que tira proveito da elevada insolação e existência de rios que permitem a irrigação. Também atividades tradicionais como a têxtil e de confecções apresentam novas facetas competitivas, ingressando na moda, notadamente as voltadas para as regiões tropicais.

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No Centro Oeste, o cerrado contava com uma topografia adequada para a mecanização agrícola, com uma cobertura vegetal de porte médio, fácil de ser transformado em áreas de culturas, que já começaram com um elevado nível de incorporação tecnológica. As pesquisas fomentadas por entidades como a Embrapa permitiram que fosse parte da chamada Revolução Verde, que também ocorreu no Brasil.

Dada a sua grande extensão territorial, também contava com o Pantanal e até a pré-Amazônia com exuberante cobertura florestal. Hoje, com o novo Código Florestal, o crescimento extensivo acaba limitado passando a contar ainda mais com o aumento de sua eficiência mediante o uso de tecnologias.

Mas também as atividades estão virando verdadeiros agrobusiness integrados na economia mundial, incorporando atividades industriais e dos muitos serviços relacionados com estas atividades voltadas ao mercado interno e externo. Continuam competitivos com relação aos produtores externos, ainda que desfavorecidos pelas grandes distâncias.

Mas também se noticia que a região gerou empresários como que a partir de Campo Grande acabaram criando uma rede de franquia que se espalha pelo país, para a venda de muitos produtos industrializados que se denomina Multicoisas.

No Mato Grosso, onde as culturas de soja, milho e algodão têm grande destaque, caminhou-se para a agroindústria, que encontra hoje também possibilidade de escoamento não só para os portos da região Sudeste como até pela Amazônia, utilizando parte da navegação fluvial.

No Nordeste, além da produção de energia hidráulica, caminha-se para aproveitamento dos seus ventos, com a eólica. A construção naval da região já é expressiva, mas ainda luta com os problemas da disponibilidade de recursos humanos qualificados.

Na sua agricultura, muito dependente da irrigação, avanços expressivos foram feitos na produção de frutas, como a uva tanto para a mesa como a produção de vinhos, notadamente ao longo do rio São Francisco. Mas também outras como melão e frutas tropicais da região acabam ganhando espaço no mercado.

Também as culturas de grãos se expandiram por suas regiões de melhor topografia, ao mesmo tempo em que os solos mais ricos acabam desenvolvendo atividades permanentes como os cafés de melhor qualidade, além da tradicional produção de cacau.

A indústria têxtil era tradicional no Nordeste, diante da produção de algodão de boa qualidade e abundância de recursos humanos. Hoje, estão se sofisticando para poder competir com outros concorrentes internacionais, especializando-se na incorporação dos designs como os voltados para as regiões praianas.

A região, que necessitava de assistência no passado, hoje figura como uma das que, aproveitando as condições locais, permite que haja uma descentralização das atividades industriais e de infraestrutura para a economia brasileira, mostrando o quanto mudou o Brasil.


8 Comentários para “Suplemento da Folha: O Brasil que dá Certo”

  1. Adriana
    1  escreveu às 18:09 em 24 de junho de 2014:

    O site se chama Ásia Comentada e encontro comentário sobre o Brasil…
    Oras, entrei pela primeira vez neste espaço interessando em conhecer um pouco mais sobre o Oriente e dou de cara com uma propaganda descarada sobre o Brasil.
    Se quisesse saber mais sobre o meu país teria pesquisado um outro site e não na Ásia Comentada.
    Puxa, me senti enganada.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 07:39 em 26 de junho de 2014:

    Cara Adriana,

    Lamento a sua interpretação e frustração. Se V. notar com cuidado verificará que o site se chama Asiacomentada e contem também um vice versa. Temos muitos leitores na Ásia, inclusive muitos dos artigos postados são reproduzidos por outro no Japão. Para um intercâmbio sadio, eles precisam conhecer melhor o que também acontece no Brasil e na América Latina. Acho que é recomendável que os jovens tenham uma formação humanística ampla, não se restringindo somente a um conhecimento unilateral.

    Paulo Yokota

  3. Lucília Lopes Silva
    3  escreveu às 10:24 em 26 de junho de 2014:

    Desculpe, mas a indignação do leitor não está exatamente no fato de encontrar um texto sobre o Brasil num site chamado “Àsia Comentada”, mas no fato de encontrar um texto que ressalta – o Brasil que dá certo. Uma minoria barulhenta de brasileiros quer apenas ressaltar – o que não dá certo – e fazer desse Brasil a sua totalidade. Essa minoria é composta de sonegadores (o sonegômetro, criado pelo Sinprofaz [Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional], registrou que neste ano, até o final de maio, a sonegação já ultrapassara a impressionante marca de R$ 202 bilhões.
    No ano passado, esse montante atingira a marca de R$ 407 bilhões, valor equivalente a 8,4% do PIB ou 22,9% da arrecadação de R$ 1,8 trilhão). Muitos dos que se dizem “éticos revoltados”, omitem ganhos (como rendas de aluguéis, lucros de vendas de bens), inventam despesas dedutíveis no Imposto de Renda, entre outros vários truques – próprios de genuínos falsários. Outros, com renda superior, estão entre os campeões mundiais em roubo de dinheiro público via sonegação, segundo dados do Banco Mundial.
    Em agosto do ano passado, foi divulgado um estudo que, pela primeira vez chegou a valores depositados nas chamadas contas offshore, sobre as quais as autoridades tributárias dos países não têm como cobrar impostos. Segundo esse estudo, os super-ricos brasileiros detêm o equivalente a um terço do Produto Interno Bruto (a soma de todas as riquezas produzidas do País em um ano), em contas em paraísos fiscais, livres de tributação. Trata-se da quarta maior quantia DO MUNDO depositada nesta modalidade de conta bancária.
    O documento The price of offshore revisited, escrito por James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey, e encomendado pela Tax Justice Network, mostra que os super-ricos brasileiros somaram até 2010 cerca de US$520 bilhões (ou mais de R$1 trilhão) em paraísos fiscais.
    Esse é o Brasil que dá errado: é aquele que aparece nas festas, como a da abertura da Copa do Mundo, pagando ingressos caros, para xingar o governante (qualquer pessoa que estivesse ali representando a autoridade no país seria xingado, porque essa minoria que detesta o Brasil, odeia, obviamente, quem o representa). O Brasil que dá errado é, coincidentemente, o dos seus detratores contumazes.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 22:37 em 26 de junho de 2014:

    Cara Lucilia Lopes Silva,
    Obrigado pelo seu comentário, mas não consigo ver no feito pela Adriana nenhum aspecto do que V. se refere. O problema da sonegação existe em todas as sociedades humanas, infelizmente. Um sistema fiscal menos complexo pode atenuar esta dificuldade, Que existe nos Estados Unidos como na China. Mas não parece que colocações apaixonadas consigam contribuir para a sua redução. A minha experiência, lamentavelmente, não proporciona muita credibilidade para estes estudos, quer feitos pelas organizações internacionais como consultorias que pretendem ser respeitáveis. Mas, concordo que recursos nos paraísos fiscais são elevados, não somente de brasileiros.

    Paulo Yokota

  5. Mário Nakato
    5  escreveu às 09:35 em 27 de junho de 2014:

    Li o artigo e achei absurdo, onde é que deu certo ?
    Oras, o Centro Oeste brasileiro são regiões dinâmicas graças ao programa de exploração do cerrado iniciado na época do regime militar, esforços que começaram na década de 70 e que demandaram décadas de pesquisas e trabalho continuado de agricultores e empresários, não foi num passe de mágica que esse dinamismo surgiu, muito menos neste governo. Na verdade, estão ilustrando o Brasil que deu certo no passado, mas que hoje está dando errado, pois os agricultores destas regiões estão atualmente sofrendo ao não disporem de infraestrutura adequada para escoarem sua produção, faltam estradas adequadas, faltam portos, faltam armazéns etc, esforço que deveriam contar com a colaboração desde governo, mas que inexistem.
    Outro caso que está dando errado é a produção de energia no Nordeste, além da hidráulica que é insuficiente, a grande promessa da energia eólica não avança como deveria, apesar dos investimentos bilionários na região, os resultados andam como lesmas, faltam linhas de transmissão pra escoarem esta energia ! Oras, achar que está dando certo após investirem bilhões e ainda não contarem com o prometido retorno não é sinônimo de sucesso, mas de fracasso.
    Pior ainda é a construção naval da região, apesar de ser expressiva, ainda luta com os problemas da disponibilidade de recursos humanos qualificados, sinônimo de fracasso no sistema educacional da região, outro sinal de fracasso.
    Quanto a indústria têxtil, que já era tradicional no Nordeste, que o próprio autor do texto reconhece, hoje, tiveram que abandonar a produção de vestiários de valor agregado maior para produtos de menor valor para poderem competir com outros concorrentes internacionais, ou seja, passaram a fabricar biquínis ao invés de calças e camisas , isto não é necessariamente um exemplo de sucesso, mas de sobrevivência.
    Enfim, o artigo é apenas um folhetim otimista, pura propaganda enganosa, mostra o Brasil que deu certo no passado, mas que hoje, apenas tenta sobreviver num país que dá errado, eis a verdade.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 09:42 em 28 de junho de 2014:

    Caro Mário Nakato,

    Obrigado pelo seu comentário. Eu, pessoalmente, contribuí com muito do que V. aponta que ocorreu no passado. Não acredito que ajude ficar só apontando as dificuldades que ocorrem no Brasil como em todo o mundo. Se V. tiver a oportunidade de viajar pelo Centro-Oeste, pelo Nordeste e pelo Norte, pessoalmente e ver o que está acontecendo em todas estas regiões, não ficaria com uma visão tão negativa que ocorre nas regiões tradicionais. Do Centro Oeste está se encontrando formas para escoar a produção pela Amazônia, o Nordeste conta hoje com um padrão de vida que faz com que muitos retornem as áreas das quais imigraram para o Sudeste. O que parece útil é viajar em todas as oportunidades que V. tenha, para ver o que acontece no Brasil como no Exterior. A imprensa, fortemente influenciada pelas publicidades do setor financeiro (eu fui diretor do Banco Central), que obteve receitas que superavam a 30% em dólares, em termos reais, hoje ainda usufrui rentabilidades de dois dígitos, mas parece evidente que gostaria de contar com administradores que os permitissem multiplicar os seus ganhos. Eles causaram as desgraças que abalaram o mundo e continuaram sendo socorridos pelas autoridades de seus países. Tenho a impressão que vale a pena conhecer, pessoalmente, todos que estão envolvidos na produção, e não nos ganhos financeiros que vêm prejudicando não só o Brasil como o resto do mundo. Por favor, viagem e conheça o que está realmente acontecendo neste país, que conheço até os seus confins, ao nível do que acontece com os modestos agricultores. V. sabe o que está acontecendo no mundo com a chamada Segunda Revolução Verde? Vale a pena conhecer, e não ficar lamentando somente com todas as dificuldades que existem em todas as partes do mundo.

    Paulo Yokota

  7. Mário Nakano
    7  escreveu às 11:32 em 28 de junho de 2014:

    De acordo uma auditoria do TCU, o custo da energia eólica não gerada pela falta de linhas de transmissão dos 48 parques eólicos no Rio Grande do Norte e na Bahia, no período de julho de 2012 a dezembro de 2013, foi de R$ 929,5 milhões para o consumidor final.

    E os parques já estão prontos há muito! Como é que pode um governo ser tão desmazelado?

    Ou seja, aqueles enormes cata-ventos estão servindo apenas como ventiladores que só refrescam quando venta. Esse é o Brasil que dá certo ?

    Se querem que realmente o Brasil dê certo, primeiro é preciso reconhecer onde está dando errado, afinal, como é que um problema poderia ser corrigido se ninguém sabe que existe?

    Esconder os problemas não é a solução, cabe a mídia independente mostrá-las, não será o governo que fará isso ou estou falando besteira ?

  8. Paulo Yokota
    8  escreveu às 23:20 em 28 de junho de 2014:

    Caro Mário Nakano,

    Obrigado pelo comentário. Seria interessante que V. se candidatasse para exercer algum cargo público para poder avaliar que nem sempre se consegue fazer o que é fácil de ser colocado somente como observação crítica. Não sei o que V. faz, mas é fácil criticar e muitas vezes difícil de corrigir o que está errado, não somente no Brasil. Seria interessante que V. listasse o que já fez para melhorar muitas das coisas erradas que encontra neste país.

    Paulo Yokota