O Problema da Corrupção na China
30 de julho de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: a profundidade da campanha contra a corrupção na China, comando direto de Xi Jiping, envolvimentos políticos, indústria petrolífera e as estatais, órgãos de segurança, um plano arquitetado com cuidado
Todos os dados referentes à China são astronômicos. No último dia 29, dia Internacional do Tigre, anunciou-se que Zhou Yongkang o “tigre” de mais elevado escalão naquele país, assim chamados os grandes corruptos, foi oficialmente anunciado como investigado por graves violações disciplinares, ele que já deve estar detido desde 1º de outubro último, quando foi visto pela última vez em público. O peso da campanha anticorrupção iniciado pelo Presidente Xi Jinping abateu-se pelo ex-chefe da segurança mais elevada na China, que também era membro do Comite Permanente do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, a entidade máxima do comando daquele país. O China Daily, órgão oficial daquele país anunciou que nada menos do que 38 “tigres” já foram indicados para investigações desde a última mudança do governo da China, em novembro de 2012. Os corruptos de menor escalão são chamados “moscas” e estes atingem centenas, mais de 480.
Zhou Yongkang, China’s former security chief, is under investigation for suspected "serious disciplinary violations". Jason Lee / Reuters
Afirma-se que Xi Jinping chegou à conclusão que ou a China elimina a corrupção ou a ela acaba com o país e começou a desencadear esta campanha recomendando as punições mais severas, mesmo atingindo os escalões mais elevados. Uma longa matéria publicada no site da Bloomberg, escrita por Ting Shi, Shai Oster e Aibing Guo informa com detalhes toda a campanha, considerada a mais importante deste a morte de Mao Zedong.
Começou na província de Sichuan, com a investigação do vice-chefe do partido Li Chuncheng, acusado de enriquecimento com a sua família, estendendo-se a Zhou Yongkang, considerado naquela época o líder da linha dura da China e seu protetor, que acabou atingindo Bo Xilai, cuja esposa foi acusada do assassinato de um jornalista estrangeiro que conhecia a história de suas remessas de recursos para o exterior. Também existe a história da morte de um alto dirigente chinês desta província que fugia do país utilizando uma aeronave que caiu misteriosamente.
O artigo da Bloomberg chega a comparar Zhou Yongkang como a fusão de J. Edgar Hoover da FBI e John D. Rockefeller, fundador da Standard Oil, por combinar o seu posto de segurança e a forte participação na indústria petrolífera chinesa. Zhou Bin, filho de Zhou Yongkang é acusado de ter acumulado grande fortuna, tendo adquirido um campo de petróleo da CNPC – China National Petroleum Corporation por 20 milhões de yuans (US$ 3,2 milhões) e vendido por 550 milhões de yuans (US$ 88 milhões), entre outros fatos.
Outros parentes seus utilizaram suas conexões para se enriquecerem em atividades empresariais ligados aos carros de luxo e bebidas alcoólicas. Muitos dos seus auxiliares foram envolvidos em entidades voltadas à comunicação social. Também eles eram relacionados às atividades de carvão mineral que foram atingidas. Todos estes fatos acabaram sendo divulgados ao público para evitar manifestações a favor de Zhou Yongkang.
As autoridades responsáveis pelas investigações, na CCDI – Comissão Central de Inspeção Disciplinar se reportam diretamente a Xi Jinping, informando-se que este Presidente é o que concentra mais poder pessoal na China deste Mao Zendong. Tudo indica que ele se cercou adequadamente dos instrumentos indispensáveis para esta campanha, pela sua consciência que poderia gerar reações políticas, além de afetar as muitas estatais que são objetos de corrupções, bem como províncias dados os poderes que estão descentralizados naquele país. Alguns militares também estão sendo envolvidos.
Todos os cuidados foram tomados para que o PCC não fosse atingido na sua credibilidade com os corruptos identificados. Os meios de comunicação social da China estão sendo utilizados, para que as prisões não sejam surpresas para a população, nem que as reformas em andamento também sejam prejudicadas. As investigações começaram ao nível local, atingindo muitos parentes das autoridades e seus subordinados, para finalmente chegar-se aos escalões centrais da China.
Os atos preparatórios para o anuncio final de 29 de julho último foram efetuados com três dos seus ex-secretários pessoais expulsos do PCC, com seus processos encaminhados ao Ministério Público. Ao todo seis dos seus secretários, preparados para cargos elevados, estão sendo investigados. A campanha tem sido arrasadora, não permitindo espaços para reações. Ninguém se manifestou a seu favor, um sinal de consentimento implícito para a queda dele e de todos que a ele estiveram ligados.
O que pode ser questionado é a possibilidade de, num regime fechado, estas providências estarem restritas às finalidades perseguidas, não servindo de exemplo para toda a população, havendo também os que estejam se beneficiando junto aos que estão no comando do processo. As aspirações, com a melhoria da situação financeira, são que as liberdades políticas sejam mais amplas, caminhando para um sistema democrático, ainda que guardadas as características chinesas.