Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

“O Trabalho Não Foi de Todo Ruim”, Foi Péssimo

10 de julho de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: entrevista da comissão técnica da seleção brasileira, só a família Scolari não é suficiente, todos sabem o que aconteceu

Tentando analisar com a maior isenção possível, a entrevista coletiva concedida pela comissão técnica da seleção brasileira de futebol, sob o comando do técnico Felipe Scolari, deixa se a nu a falta de qualificação desta equipe dirigente que fracassou totalmente. O Brasil é pentacampeão mundial e continuará sendo o país do futebol e disputar o terceiro lugar com a Holanda não é uma coisa aceitável e o objetivo deveria ser alcançar o topo disputando em casa. No programa da Sport TV, tanto o capitão Carlos Alberto Torres como os demais participantes da mesma deixaram claro que o Brasil deveria almejar o campeonato, como todas as seleções que já foram campeãs e não procurar figurar simplesmente entre as quatro melhores classificadas. Também os comentários de muitos jogadores alemães admitem que o Brasil deva continuar a disputar o topo nos próximos anos. Ainda que possa se admitir que Felipão tenha a capacidade de formar uma família de bons jogadores e a experiência acumulada na Europa deveria ajudar a seleção, o seu pronunciamento na entrevista expõe toda a sua lamentável limitação que deixou a população brasileira com o extremo sentimento de frustração.

Afirmar que ele não sabe o que aconteceu, inclusive o apagão, é extremamente lamentável, pois foi sua a decisão de estabelecer um esquema ofensivo, sem contar com um meio do campo o melhor possível, com os jogadores brasileiros disponíveis no momento, diante de um adversário reconhecidamente veloz e competente no contra-ataque. O seu papel fundamental era entender o que estava acontecendo e introduzir mudanças que pudessem alterar o quadro. A partida entre a Argentina e a Holanda, outras semifinalistas, deixou claro que cuidar da defesa era uma prioridade, para minimizar os riscos do que aconteceu na partida com a Alemanha. Sua exagerada arrogância e teimosia são coisas ultrapassadas e, mesmo no futebol arte dos latino-americanos, há que se incorporar no mínimo a organização de uma equipe como as europeias.

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Entrevista coletiva concedida pela comissão técnica brasileira depois da derrota contra a Alemanha

O sucesso mundial desta Copa do Mundo no Brasil mostra que o futebol continua sendo o esporte mais globalizado e é um instrumento relevante para manter o amor-próprio de um povo, além de conseguir a divulgação do país por todo o universo. São coisas relevantes da marca de uma nação que não podem ser desperdiçadas impunemente por quem quer que seja.

Reformas profundas, começando pela CBF – Confederação Brasileira de Futebol e atingindo também a FIFA – Federação Internacional de Futebol, precisam ser perseguidas. A composição de uma comissão técnica da seleção, pela sua importância nos destinos da população brasileira, acaba impondo a necessidade de maior transparência e participação de muitos setores representativos do país. A oportunidade é boa e precisa ser aproveitada, utilizando a indignação que hoje existe na população.

Há que se estabelecer uma forma de aperfeiçoamento que venha desde as bases, na formação dos jovens bem como dos técnicos e dirigentes, absorvendo as boas experiências que se espalham pelo mundo. Artigos publicados no O Estado de S.Paulo descrevem as preparações feitas na Alemanha. Muitos países conseguiram despontar com potencialidades para ocuparem lugares de destaque no cenário internacional, ao mesmo tempo em que países que abusam do uso de jogadores estrangeiros colheram fracassos previsíveis nas suas seleções nacionais.

O futebol passou a exigir uma concepção sistêmica, com visões geopolíticas de longo prazo, dada a importância que adquiriu no cenário internacional. O Ministério de Esporte não pode ser um mero apêndice que aceite as imposições e conveniências de organismos como a FIFA e seus patrocinadores, inclusive de interesses escusos. O futebol é o exporte nacional por excelência, sendo praticado até nos confins da Amazônia, sem nenhuma distinção de classe, poder econômico, etnias, religiões e outras características que diferenciam o povo brasileiro. Não é pouca coisa.