O Enigma do Café de Qualidade
6 de agosto de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais | Tags: artigo no Wall Street Journal, aumento do consumo de café de qualidade no Brasil, o caso do Coffee Lab
Não sei se o termo mais adequado seria o “enigma”, mas parece ocorrer algo misterioso com o consumo do café, que está aumentando nos grandes países produtores, como o Brasil, o Vietnã e a Colômbia. Um artigo publicado no The Wall Street Journal originalmente, reproduzido em português no Valor Econômico, elaborado por Leslie Josephs coloca esta intrigante questão, que não parece ainda totalmente esclarecida. O artigo sugere que o aumento da renda dos consumidores nestes países está provocando este estranho fenômeno do incremento do consumo, mesmo quando os seus preços sobem, caminhando cada vez mais para os de melhor qualidade. Todos sabem que na história brasileira, sempre se exportou os de melhor qualidade, ficando os mais modestos para o consumo interno por muito tempo.
Todos chamam a atenção que os consumidores brasileiros passaram a apreciar os de melhor qualidade, como destaca Isabela Raposeiras, dona do Coffee Lab que se sobresai em São Paulo por oferecer com sofisticação produtos de qualidade diferenciada. Ao mesmo tempo em que se prepara baristas, profissionais para o preparo adequado da boa bebida, para que as melhores matérias primas proporcionem as de alta qualidade, que possam ser apreciadas num ambiente adequado. Sou daqueles que começaram a trabalhar cedo num estabelecimento bancário que provava os cafés estocados que serviam de garantia para operações bancárias, espalhando o perfume inesquecível dos que estavam sendo torrados.
Parte da dependência do Coffee Lab da Isabela Raposeiras em São Paulo
Na minha modesta opinião, pois o café proporciona oportunidade para as mais variadas posições, o enigma consiste no aumento da procura de bebidas de melhor qualidade, quando chegaram ao Brasil os hábitos inicialmente de cafés preparados nas máquinas italianas, com vapores para extraírem de uma porção de pó mesmo de qualidade modesta, do que se convencionou chamar de café expresso, que podia ser mais fortes, os conhecidos como curtos ou mais fracos. Apresentavam já as possibilidades de misturas com leites e assemelhados.
Depois de muito tempo evoluiu-se para as máquinas que trabalham com as cápsulas que apresentam um blend de diversos cafés, para proporcionarem sabores padrões para os mais variados gostos, desde os mais fortes até os mais fracos. Na medida em que os consumidores foram se acostumando com sabores variados, voltou-se para a sofisticação dos cafés de melhor qualidade, com bebidas que apresentam variações ricas como dos vinhos.
Segundo informações do artigo referido, o volume do consumo brasileiro ultrapassou o dos Estados Unidos, que ajudaram a disseminar cadeias de café pelo mundo. Certamente não eram os de melhor qualidade, perdendo para os europeus neste quesito. Agora, também se disseminam redes de cafés de melhor qualidade, com consumidores capazes de distinguir os de diferentes regiões e inclusive de determinadas fazendas, que procuram valorizar os seus produtos que não se destacam pela quantidade.
Os tratamentos das matérias primas também se sofisticaram, bem como os pontos de suas torragens, que na média eram exageradas no Brasil. Muitos dos atuais chegam ao nível dos utilizados pelos provadores, que permitem distinguir melhor a qualidade das bebidas, bem como sua acidez.
Estes avanços chegam em boa hora, mostrando que há uma mudança cultural no consumo do café, para proporcionar aos consumidores um prazer difícil de ser obtido por outras bebidas.