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Experiência de Raghuram Rajan no Banco Central da Índia

1 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: experiência no FMI, na prática na Índia, ntrevista de Raghuram Rajan para o Financial Times no suplemento do Valor Econômico, sólida formação acadêmica

Uma interessantíssima entrevista concedida por Raghuram Rajan, presidente do RBI – Reserve Bank of India, a autoridade monetária daquele país, a James Crabtree do Financial Times foi publicado em português no suplemento Eu & Fim de Semana do Valor Econômico. Como a Índia é um grande país emergente que passa por uma tentativa de implantação de uma nova política econômica voltada ao mercado, vinda de um regime fortemente socialista, com o comando do Primeiro Ministro Narendra Modi, sua experiência pode dar boas indicações para o Brasil. Ele, como muitos economistas brasileiros estudou engenharia no Indian Institute of Technology, mas passou para a área da economia pelos seus trabalhos no Booth School of Business da Universidade de Chicago, e o doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts com uma tese “Essays on banking”. Trabalhou por um tempo no FMI – Fundo Monetário Internacional, tendo antecipado a crise mundial de 2007/2008.

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                           Raghuram Rajan, presidente do Reserve Bank of India

Reconhece que a implantação da nova política pelo Primeiro Ministro Nerendra Modi vem ocorrendo de forma mais pausada do que se esperava com sua ascensão ao poder. A Índia também estava infestada pela corrupção, pois se tratando de uma economia ainda pobre, os empresários necessitavam da assistência das autoridades governamentais, o que propiciava um clima de favorecimento a aqueles que contribuíam para determinadas pessoas que ocupavam posições estratégicas.

Raghuram Rajan também reconhece que todas as grandes organizações, como o FMI ou o RBI contam com muitos grupos que ocupam posições estratégicas e possuem suas formas de expressarem seus interesses, não se recomendando mudanças bruscas nas suas formas de atuação.

Também se mostra realista, admitindo que ainda existam muitas dúvidas como se processará as mudanças no sistema financeiro internacional, que utilizou muito as facilidades monetárias, e necessitam começar reduzi-las, de forma cautelosa, não se sabendo exatamente o que vai acontecer. Como os fluxos financeiros internacionais são elevados, uma mudança brusca da política do FED – Sistema Federal de Reservas dos Estados Unidos pode alterar o quadro global.

Como o quadro que ele coloca apresenta uma grande similaridade com o que ocorre no Brasil, suas observações podem alertar sobre os cuidados que devem ser tomados por aqueles que assumirem o poder no Brasil, notadamente na área das autoridades monetárias. Ainda que se pretendam mudanças, sempre um pouco de cautela parece recomendável.