Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Falsa Impressão da Divisão Política do Brasil

31 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Política | Tags: análises distorcidas pelos desejos, necessidade de uma maior isenção nas análises dos dados, os dados divulgados pela Folha de S.Paulo

Como resultado de uma eleição democrática, algumas pessoas estão disseminando a impressão de uma profunda divisão da sociedade brasileira do ponto de vista ideológico, regional ou de situações econômicas. Os dados que estão sendo publicados pelo jornal A Folha de S.Paulo mostram que os votos para a reeleição da presidente Dilma Rousseff que algumas destas ideias podem ser distorcidas, pois ela conseguiu resultados favoráveis para a reeleição em muitos segmentos onde os votos poderiam beneficiar a oposição. Na realidade, os partidos políticos não parecem refletir posições ideológicas, nem existem confrontos entre os mais privilegiados e os menos favorecidos, mostrando que até os programas sociais não tiveram a influência atribuída por muitos analistas.

O resultado mais difícil de ser explicado pelo candidato opositor é sua derrota no Estado em que governou por dois mandatos, procurando disseminar a ideia de que se tratava de um grupo de diferenciada capacidade de gestão pública. Na realidade, os eleitores brasileiros parecem votar nas pessoas que supõe conhecerem mais profundamente e nem a imprensa consegue ter a influência que julgam possuir, tanto a escrita, que conta com número limitado de leitores, como a televisiva, que reflete somente uma forma de vida que não é a do cotidiano dos brasileiros. Todos sabem que existem muitos aperfeiçoamentos políticos e eleitorais indispensáveis, mas que não aparentam ser possíveis de serem introduzidas com facilidade.

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Editoria de Arte Folhapress

No fundo, muitos analistas parecem refletir mais seus desejos do que conhecimentos que são decorrentes dos dados objetivos da eleição. Não parece que as posições ideológicas estejam tão claras, pois a maioria dos partidos conta com facções que se relacionam com seus interesses mais imediatos e nem sempre do país. É preciso compreender que o atual regime vigente no Brasil não é exatamente o que estava cogitado na época da elaboração da Constituição de 1988, que era basicamente parlamentarista, mas que acabou virando presidencialista, pelo desejo de alguns dirigentes influentes da época, sem que todas as mudanças necessárias fossem feitas. A principal dificuldade consiste na Medida Provisória, instrumento eminentemente parlamentarista que se não aprovada pelo Congresso determinaria a mudança do governo, sem grandes traumas, como acontece em muitos países de regime parlamentarista.

É evidente que qualquer regime tem dificuldades para ser administrado com tantos partidos, pois não fica claro quem possui a maioria que deve governar o país, sendo que os eleitores brasileiros votam no candidato e não no partido. Também no sistema eleitoral, haveria conveniência de um sistema de barreira, pois os partidos que não conseguissem um mínimo de representantes no Congresso só poderiam ter vida regional, talvez em alguns Estados.

Temos evidentes dificuldades com o sistema federativo, que se procura atender todas as diferenças regionais que existem no país, mas o poder existente na União é grande, não havendo ninguém que é eleito para a sua defesa, tirando-se o presidente da República. Os congressistas são eleitos nos Estados.

Se existem classes econômicas que se diferenciam no país, tudo indica que os mais privilegiados são em número mais limitado, e os que elegem seus representantes são os menos favorecidos, que habitam também as periferias das grandes metrópoles. A simples introdução do sistema eleitoral distrital não parece capaz de corrigir a relação entre os eleitores e seus representantes, havendo necessidade de um sistema misto que permita que alguns representantes reflitam os pensamentos do partido, criando condições de defesa dos interesses da União.

Tudo aparenta que existem muitos aperfeiçoamentos a serem introduzidos, o que não parece refletir os interesses dos recém-eleitos parlamentares.

Análises muito simplificadas não aparentam ajudar na melhor compreensão de uma situação que parece muito mais complexa.