A Difícil Compreensão da Arte de Governar o Brasil
28 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a difícil compreensão do Brasil, artigo no The Economist, mesmo para os brasileiros
Uma das grandes dificuldades de compreensão para quem nunca teve a responsabilidade de governar é de que um país como o Brasil é mais complexo do que parece, onde nem sempre a lógica dos que possuem boas formações acadêmicas consegue compreender todas as restrições existentes, pois não se trata de algo científico, mas que exige muita arte. Entre os muitos princípios que costumam orientar os políticos que chegam ao poder, costuma existir um que seria continuar nele mesmo que indiretamente, que quase sempre não agrada aos opositores ou os que têm a responsabilidade de analisar esta dura realidade. Outro é que sempre se tenta fazer o melhor o que se pode, que nem sempre é o que se quer.
O Brasil é uma federação em que a quase totalidade dos eleitos na sua incipiente democracia o são pelos Estados, de cujos eleitores eles dependem e desejam recursos e só o presidente da República e o seu vice são eleitos para defender os interesses da União, com seus auxiliares nomeados. Mesmo na Constituição Brasileira de 1988, que a rege, existem incongruências que estão consagradas, não sendo fácil os seus aperfeiçoamentos políticos para se chegar a algo razoável para o país.
Dilma Rousseff reeleita num quadro de duras limitações
Se admitida esta dura realidade, já seria um passo importante para se entender algo sobre o Brasil, mas pouco se discute a respeito internamente, tanto mais no exterior. Se os brasileiros contam com dificuldade para entender as limitações deste país, parece compreensível que mesmo os mais qualificados estrangeiros tenham a capacidade de entender muitas de suas complexidades, como os competentes jornalistas do The Economist, que possuem as suas claras preferências ideológicas. Os problemas brasileiros acabam sendo tratados com as compreensíveis superficialidades de suas aparências, inclusive por alguns que tenham experiências do poder, pensando que suas vontades sejam suficientes para superar os obstáculos existentes para atingir muitos dos objetivos que todos gostariam que fossem alcançados.
Lamentavelmente, o artigo desta semana daquela revista que entende que Dilma Rousseff está mudando o rumo de sua política e parece contar com muitas limitações. Mesmo que se admita que ela mesma, com toda a experiência que acumulou até com seus erros, ainda deixe transparecer algumas de suas características pessoais. Tudo indica que Antonio Palocci, mencionado no artigo, que foi o ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva, deixou o governo, não pela divergência com a então ministra Dilma Rousseff que viria a suceder Lula, mas diante das atrapalhadas em que ele acabou se envolvendo. Talvez Dilma até tivesse preferência em contar com Palocci para comandar o seu setor de economia no novo mandato, mas ele, conhecendo as características pessoais da presidente reeleita, evitaria a possibilidade de potenciais atritos.
Os que entendem que os escolhidos Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini seriam mais flexíveis no relacionamento com Dilma podem estar enganados. Estes e outros auxiliares que estão cogitados para posições chaves do governo, como a Secretaria do Tesouro, além de melhores aparelhados nas suas formações, parece que estão sendo designados porque não resta ao novo governo senão efetuar as duras correções, que diferem das cogitadas pelo candidato oposicionista à Presidência de República. O que parece evidente é que não restam alternativas e todos terão entender esta dura realidade.
Os relacionamentos internos da Presidência da República com os principais componentes do governo nem sempre ficam claros, principalmente num gigantesco grupamento com diferentes tendências entre seus componentes. As informações mais estapafúrdias são veiculadas pela imprensa, semeadas por diferentes interessados, que quase sempre não correspondem à realidade que apresenta facetas variadas para os diversos ângulos de onde são observados.
Que as dificuldades objetivas aumentaram não se pode duvidar, o que não se restringe somente ao Brasil, ainda que possam ser mais graves para o atual cenário brasileiro. Qualquer que fossem os eleitos, muitos deles existiriam, o que está sendo considerado como o novo normal. O que parece que deve ser considerado é que as variações nas margens são relevantes, devendo se distinguir os multiplicadores dos aceleradores, o que costuma ser difícil até para os especialistas.
As ineficiências existentes, por incrível que pareça, acabam gerando espaços para melhoras, mesmo que muitas gestões estejam lamentáveis. O que parece evidente é que as escolhas das linhas mestres das ações prioritárias acabam sendo relevantes, mesmo num quadro onde as incompreensões continuarão se multiplicando. Há que se admitir, na primeira impressão, é que o quadro de auxiliares com que Dilma Rousseff contará apresenta qualificações superiores quando comparados com que estão sendo substituídos, sendo que sua responsabilidade é maior do que ela gostaria de admitir. Ela será forçada a engolir mais sapos do que deseja, se não deseja perder bons auxiliares, que são aqueles que dizem a ela o que ela não gostaria de ouvir, como acontece em qualquer governo decente.
Existem todas as condições para o restabelecimento da credibilidade do governo, que é um fator subjetivo que pode sofrer rápidas mudanças. Há que se admitir que a situação brasileira não seja ímpar no mundo, ainda que por aqui ela esteja mais dramática.