Considerações Sobre a Automação Excessiva
28 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: automações e uso de computadores, casos ilustrativos dos pilotos e médicos, de Nicholas Carr, instigante artigo do The Wall Street Journal, outras avaliações e considerações, publicado em português no Valor Econômico
Nicholas Carr, autor do livro “A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros”, publicado em português pela editora Agir, escreveu no The Wall Street Journal, republicado em português no Valor Econômico, um instigante artigo que recebeu o título de “A automação excessiva emburrece”, que nos leva a reflexões. Ele informa que nos anos 50, James Bright, professor da Faculdade de Administração de Harvard, teria estudado os efeitos reais da automação, descobrindo que as novas máquinas estavam deixando os trabalhadores com funções monótonas e menos exigentes. Cita observações recentes que os pilotos de aviões estão dependendo cada vez mais dos computadores para as operações críticas de aterrissagem e decolagem, deixando os menos ágeis para operações de emergência que exigem as suas intervenções. Também que os médicos estariam exagerando nos usos dos protocolos que recomendam uma listagem de exames para cada situação, o que levou a incapacidade de diagnosticar o primeiro caso de ebola, por exemplo.
Mas ele menciona que existem programas de software que centram suas atenções nas capacidades das máquinas que acumulam muitas experiências e tecnologias. Como também os que procuram valorizar as decisões tomadas pelos seres humanos utilizando suas sensibilidades, centradas neles.
As possibilidades das discussões desta natureza são amplas, reconhecendo-se que muitas decisões ultrarrápidas nas operações de bolsas estão sendo tomadas pelos computadores, agravando as flutuações que sempre ocorrem, mas que não necessitariam ser tão exageradas. Também podem ser apresentadas as dificuldades decorrentes das excessivas especializações que levaram a elaboração de modelos que minimizariam os riscos, que não funcionam adequadamente. Muitas decisões estão sendo tomadas sem que todos os dados desejáveis, como as políticas e decorrentes da psicologia coletiva, como os comportamentos de massa, também sejam considerados.
Nicholas Carr, autor de “A geração artificial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros”, Editora Agir.
Poderia se acrescentar ainda que as informações resumidas e rápidas estão induzindo muitos à superficialidade, sem que análises mais profundas e desejáveis sejam efetuadas. Observa-se que muitos executivos não possuem sequer formações mais sólidas sobre humanidades, levando a uma exagerada automação nas decisões que até podem ser acertadas, mas requereriam um quadro mais amplo e complexo de informações que estão influindo em vários fenômenos sociais.
Quando se trata da medicina, por exemplo, observa-se a quantidade de exames inúteis que são requeridos aumentando os seus custos, sem que informações vitais como os históricos dos pacientes e de seus passados sejam considerados. Na biologia como na botânica observam-se que as cargas do que herdamos do passado nas nossas formações são relevantes para as tendências de determinadas anormalidades ou qualidades, o que parece estar sendo consideradas menos relevantes.
Distorções também ocorrem diante dos riscos a que os profissionais de medicina estão sujeitos com as potenciais ações judiciais por indenizações decorrentes de erros de diagnóstico. Diante destes fatos, muitos exames são requeridos para fundamentarem possíveis defesas.
Na comunicação social, onde a internet vem desempenhando um papel importante dada a sua velocidade, observa-se que muitos veículos estão sofrendo com as restrições de suas receitas, passando a utilizar profissionais menos experientes, disseminando informações que nem sempre foram adequadamente analisadas.
A procura de mecanismos que permitam um equilíbrio mais razoável das vantagens da internet como suas inconveniências parece que está se constituindo num desafio importante da nossa era. Tudo vai exigir um mínimo de disciplina, até para que as futuras gerações saibam os limites destas facilidades, para que não fiquem prejudicadas pelos vícios que estão se disseminando com seus usos abusivos, aumentando até a redução da comunicação adequada entre seres humanos.