Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Entrevista Esclarecedora de Guo Guangchang

10 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: da pobreza a um dos maiores bilionários chineses, entrevista concedida a Patti Waldmeir do Financial Times, grupo Fusun, suas bases filosóficas, um exemplo de um grande empresário chinês

Como muitos grandes empresários chineses começam a se destacar no Ocidente, parece importante conhecer parte das formações de alguns deles, seus princípios filosóficos e como encaram o sucesso que estão obtendo no mundo. Minha experiência pessoal com os chineses é que são mais francos que parecem, não sendo figurinos elaborados por equipes profissionais que facilitem formar uma imagem conveniente para o mercado.

Na entrevista de Guo Guangchang, 47 anos, um dos mais destacados bilionários que formou sua fortuna pessoal que chega a mais de US$ 8 bilhões nos últimos 25 anos, concedida a Patti Waldmeir, do Financial Times, durante um almoço em Xangai, observa-se uma franqueza que é a marca de muitos chineses. Poderia decorrer da autoconfiança no grande destino que estaria reservado ao País do Meio, que se prepara para se tornar a maior economia do mundo nas próximas décadas, gostemos ou não desta posição. A íntegra da matéria, que vale a pena ser lida, pode ser acessada em inglês no http://www.ft.com/intl/cms/s/2/262628dc-64dc-11e4-bb43-00144feabdc0.html#axzz3Ih2xwPr0

CYTD

O empresário Guo Guangchang do grupo Fusun

Ele compareceu sozinho à entrevista marcada com o almoço na sede de sua organização, no Bund Shanghai, fora de qualquer área mais charmosa daquela metrópole. Foi servido um almoço vegetariano, ainda que ele não se restrinja a esta orientação, mas que costuma adotar nos almoços sem luxo especial. Ele não é o empresário mais rico da China nem o mais exuberante, tendo começado como um simples camponês que procurou estudar filosofia na Fudan University, onde começou a formar o seu grupo junto com os seus colegas que continuam até hoje com ele.

No artigo, ele é comparado com Warren Buffett, e neste ano adquiriu 80% o maior grupo segurador de Portugal, a Caixa de Seguros, por US$ 1 bilhão, tendo uma ampla carteira de investimentos em diversos setores. Inclui uma joint-venture no Pramerica Fuson Life Insurance, e participações no Minsheng Bank, o maior banco privado na China. Possui parte do Club Med, que pretende controlar, e participações em empresas farmacêuticas, além de estacas de fundação.

Ele declara uma mistura de budismo, taoismo, confucionismo e um capitalismo do tipo adotado por Warren Buffett na sua formação, e é adepto da prática do tai-chi sempre que possível, cujos ensinamentos ele procura utilizar nos seus negócios na descoberta das oportunidades e tomada de decisões.

O momento certo para atacar é importante como agir, depois de sentir a mudança do momento, que pode extravazar os limites da inteligência humana. A sua vantagem seria a sua capacidade de sentir a mudança mais rapidamente possível, e tomar uma ação decisiva o mais rápido possível.

Ele informa que o tai-chi pode ser praticado a qualquer momento e qualquer lugar, o que contribuiria para a sua saúde. Do budismo, ele aprendeu a ver as coisas através das posições de outras pessoas, sendo que o dinheiro não seria a única finalidade, mas fazer o melhor para outras pessoas, com o dinheiro vindo como consequência. Também levaria a uma posição para considerar relevante o benefício às outras pessoas, contando com ajuda de uma boa equipe. Informa que Jack Ma, que ele admira, também adota posições semelhantes.

Também se refere a um conceito de xinli, que não ficou muito claro para mim, e não parece muito explicado no artigo. Ele não dependeria da riqueza nem da inteligência, mas de não desprezar os riscos, com visões de prazo longo, entre outros aspectos.

Na alimentação, que foi o início da conversa, ele se lembra do período de pobreza quando a tigela de arroz preparado pela sua mãe recebia uma camada do chamado meigancal, uma espécie de cozido chinês rico em gordura, do qual se lembra até hoje com água na boca. Lembra-se positivamente das reformas introduzidas por Deng Xiaoping, que proporcionou terras para os agricultores, livrando a China da fome.

Sobre o futuro da China, ele se preocupa com o excesso de ganância, mas entende que a procura da riqueza é compreensível para quem era pobre. Tem uma convicção que o confucionismo, o budismo e o taoísmo tendem a conduzir para uma posição de equilíbrio, lembrando que o equilíbrio espiritual interior é mais importante que a obtenção simples da riqueza.

Poderia se acrescentar que muitos orientais adotam como filosofia de vida, inclusive empresarial, muitos dos conhecimentos como do entrevistado, que não devem ser considerados exageros de misticismo, ainda que muitos interpretem isto como meras justificativas para ações de um capitalismo radical.