Os Difíceis Problemas da Economia Japonesa
21 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: continuidade da deflação, convocação de eleições, elevado nível da dívida pública, injeção brutal de recursos monetários, uma economia com diminuição da população que envelhece
Lamentavelmente, quando a terceira economia do mundo não consegue sair das dificuldades que enfrenta, analistas do exterior passar a dar sugestões, ainda que se suponha que os japoneses é que devem entender melhor os seus problemas e as soluções possíveis. Willian Pesek, que expressa as opiniões da Bloomberg sediada em Tóquio, publicou seu ponto de vista num artigo publicado no The Japan Times, sugerindo créditos diretos aos consumidores e outras medidas heterodoxas. O The Economist publica no seu site, reproduzido em português no site de O Estadão, também sua apreciação sobre as dificuldades japonesas, pois o Bank of Japan começou a injetar US$ 700 bilhões anualmente, que deveria provocar uma forte desvalorização do câmbio e aumento de suas exportações, mas que só provocou a alegria dos aplicadores no mercado financeiro, sem que a demanda crescesse no Japão, e, pelo contrário, decrescesse com a elevação que ocorreu nos impostos sobre a venda que passaram de 5 para 8%. Ainda que a medida creditícia não tivesse tempo para provocar os seus efeitos.
O primeiro-ministro Shinzo Abe teve que dissolver a Dieta e convocar eleições gerais, pois pretende postergar o aumento para 10% de impostos sobre as vendas que estava programado para outubro deste ano, principalmente porque a economia japonesa registrou um decréscimo nos últimos dois trimestres, entrando tecnicamente num período de recessão. Já postamos neste site as dificuldades de uma economia onde a população está decrescendo e envelhecendo, num quadro onde o débito público já chega a 240% do PIB, não permitindo muito espaço para a utilização da política fiscal. Ao mesmo tempo, a situação da economia mundial não propicia um aumento substancial das exportações para estimular a economia japonesa.
Premiê do Japão Shinzo Abe sem muitas alternativas
Lamentavelmente, a chamada easing monetary policy provocou uma melhora da economia brasileira, mas não tem sido suficiente na Comunidade Europeia onde o Banco Central da Europa adota posição semelhante. Também no Japão, ainda que a disponibilidade de crédito venha aumentando substancialmente, tanto os bancos não se dispõem a emprestar diante dos riscos existentes como as empresas e os consumidores não demandam estes créditos diante das incertezas futuras. A política cambial já não é um instrumento suficiente para estimular as exportações e a economia, num cenário mundial adverso.
Isto mostra que, apesar das alegações do governo brasileiro não serem totalmente justificáveis, há que se admitir que o cenário internacional não seja estimulador para qualquer economia, a ponto do The Economist sugerir que o Japão deva se concentrar na expansão do mercado interno, o que vem sendo feito pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido. Também a China se concentra em dar prioridade ao mercado interno, ainda que tenha pretensões de ampliar suas influências no mundo.
Quando existe uma relativa paralisia, com o sistema bancário não conseguindo dar a sua contribuição em função dos riscos, entre as medidas aparentemente heterodoxas sugeridas aparentam oferecer créditos sem custos para estimular novas iniciativas empresariais, notadamente dos jovens, com o uso de novas tecnologias. No Japão, 25% dos jovens estão desestimulados, necessitando de desafios para iniciarem suas atividades. Como vantagens fiscais não podem ser cogitadas, o que se pode oferecer são créditos estimulantes, mesmo que alguns projetos não proporcionem retornos.
Ainda que o Japão ofereça resistências para imigrações de trabalhadores jovens do exterior, a dramática queda de sua população com o simultâneo envelhecimento parece sugerir a necessidade de uma ousada iniciativa para o seu estímulo, notadamente quando existe carência de recursos humanos para tarefas mais simples. Todos sabem das dificuldades dos idiomas bem como dos costumes, mas quando considerada as últimas décadas houve um significativo aumento de estrangeiros no Japão.
O Japão já veio admitindo trabalhadores temporários, descendentes de japoneses até a terceira geração. Parece chegada a hora de ampliar as facilidades sem considerar restrições de qualquer natureza, pois o padrão de vida no Japão supera em muito o de muitos outros países atraindo uma população que está procurando por novas oportunidades. Mesmo com todas as dificuldades, países como os Estados Unidos contam com expressivo contingente de imigrantes, mesmo que tenham dificuldades até no uso do inglês.
Na atual situação, quase de emergência, não se justificam mais medidas de tendências nacionalistas, pois há que se admitir que o mundo esteja cada vez mais globalizado, mesmo considerando todas as dificuldades para integração de estrangeiros no Japão. São muitos os exemplos que indicam que estrangeiros com elevada iniciativa estão já contribuindo com a economia daquele país.
Mesmo não sendo um especialista em política japonesa, fica-se com a impressão que a convocação de uma nova eleição, ainda que permita que Shinzo Abe continue no poder por mais algum tempo, não seja um instrumento adequado para proporcionar novas diretrizes capazes de oferecer alternativas ousadas para o Japão sair de suas dificuldades.
O mundo necessita de uma economia japonesa ativa, que tem muito a contribuir para o resto do mundo.