Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Interpretando a Eleição Japonesa

15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: a coligação governista retém a maioria absoluta, baixo comparecimento, falta de uma oposição organizada, mandato para a Abeconomics | 2 Comentários »

O primeiro-ministro Shinzo Abe obteve para a coligação governista LDP-Komeito 326 cadeiras na Câmara Baixa da Dieta japonesa, superando os 317 indispensáveis para a maioria absoluta. Conseguiu a prorrogação do seu mandato bem como o suporte para o prosseguimento de sua política chamada Abeconomics, que eram seus objetivos principais. No entanto, há que se registrar que no Japão o voto não é obrigatório, sendo que menos de 40% dos eleitores compareceram ao pleito, mostrando certo desinteresse diante do resultado esperado, sendo que o principal partido de oposição aumentou a sua bancada em 11 cadeiras, chegando a 73. Mesmo assim, diante do quadro em que se encontra a economia japonesa, o resultado deve ser interpretado como um suporte moderado para a inevitável política denominada Abeconomics, que precisará elevar o seu imposto de vendas do atual 8% para 10%, sem saber quando.

Todos sabem que, mesmo com a injeção astronômica de recursos creditícios por intermédio do Bank of Japan, o máximo que se conseguiu é uma melhoria na Bolsa de Valores, e uma desvalorização moderada do yen, para tornar as exportações japonesas mais competitivas. A recuperação da economia japonesa, que é o grande objetivo, veio sendo prejudicada pela retração dos consumidores quando o imposto de vendas subiu dos 5% anterior para 8%. As empresas ainda não se sentem estimuladas para ampliar as suas atividades, mesmo com a abundância de recursos creditícios e a desvalorização do yen, que o torna um pouco mais competitivo no mercado internacional. O resultado desta eleição não pode ser considerado estimulante para a nova etapa de elevação dos impostos, diante da dívida pública japonesa que é das mais elevadas do mundo, ainda que financiadas pelas poupanças internas.

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Primeiro-ministro Shinzo Abe comemora a vitória eleitoral da coligação governista. As rosas vermelhas são colocadas junto aos nomes dos deputados eleitos, na tradição eleitoral japonesa

A imprensa japonesa avalia que o novo gabinete deve ser anunciado no próximo dia 24 de dezembro, mas não se aguarda grandes surpresas, ainda que seja desejável novas figuras que dessem um ânimo para o programa que deverá ser executado. Deve-se lembrar de que o Abeconoics prevê agora uma etapa de decisivo estímulo ao crescimento da economia japonesa, que ainda não consegue uma inflação de 2% ao ano como anunciado, e uma volta aos padrões mais razoáveis de crescimento.

Deve-se observar que o cenário internacional não se apresenta fortemente estimulante, ainda que o preço do petróleo totalmente importado pelo Japão esteja em queda significativa. O governo japonês vem acreditando muito no TPP – TransPacific Partnership, facilitando o comércio internacional. Efetua esforços para a retomada dos entendimentos com a China, que ainda caminha de forma tímida, bem como ampliação da colaboração com a Coreia do Sul. Também o Sudeste Asiático encontra-se entre suas prioridades, notadamente na implantação de projetos de infraestrutura.

Este site vem insistindo que o Japão precisa enfrentar o problema da redução de sua população, ao mesmo tempo em que se observa o seu envelhecimento. Necessita que muitos dos seus jovens se motivem para novos empreendimentos, superando o seu desânimo. Para uma economia de elevado padrão de desenvolvimento, precisa colaborar com o seu dinamismo para estimular o resto do mundo, o que nem sempre vem acontecendo. Espera-se que o resultado destas eleições ajudem a superar o atual marasmo.


2 Comentários para “Interpretando a Eleição Japonesa”

  1. Carlos Abreu
    1  escreveu às 12:26 em 16 de dezembro de 2014:

    Falou-se muito que o prolongamento da Abeconomics, escondia uma outra motivação, que não era meramente financeira. O posicionamento do japonês nestas eleições, reflete o desinteresse quanto a outras questões, como sempre foi, como no caso da energia nuclear. Esta passividade é assustadora! E tome Kawaii!! O discurso deste senhor é pura fachada. Menos de 40% dos votantes! Ou seja, o Japão está entregue ao pior panorama possível…uma tristeza! Povo apático, sem vontade de mudar, jovens frustrados, empregos part-time, falta de melhores perspectivas…de novo, uma tristeza só!

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 18:12 em 16 de dezembro de 2014:

    Caro Carlos Abreu,

    É sempre muito difícil julgar o que os eleitores japoneses decidiram, estando longo daquele país. Acho que eles não contavam com alternativas razoáveis.

    Paulo Yokota