Longa Entrevista de Shinzo Abe ao The Economist
8 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: entrevista concedida em Tóquio ao The Economist
Shinzo Abe certamente será eleito nas próximas eleições japonesas de 14 de dezembro, restando saber se terá um apoio decisivo do eleitorado para o seu partido, o LDP – Liberal Democratic Party ou uma simples vitória pela falta de uma oposição mais articulada. Ele concedeu uma longa entrevista para o editor da Ásia do The Economist, Dominic Ziegler, e o chefe do escritório da revista em Tóquio, Tamzin Booth, sobre os assuntos relacionados com o papel do Japão na economia asiática e mundial, bem como assuntos internos do país, mesmo para questões que poderiam ser consideradas embaraçosas. As perguntas formuladas poderiam ser mais agudas sobre os problemas enfrentados pelo Japão.
Shinzo Abe em campanha eleitoral para conseguir respaldo mais amplo para o prosseguimento de sua política denominada Abeconomics
Diante da intensa atividade internacional de Shinzo Abe, a revista perguntou a ele se sentia com pressa, como um homem com uma missão. Ele respondeu que acha que não tem muito tempo, pois a China continua crescendo e os demais países procuram manter a sua competitividade. O Japão está com a população reduzindo e envelhecendo, carregando uma dívida pública enorme. O país teria que recuperar a sua força econômica, de forma democrática e pacífica. Para tanto, necessitaria promover reformas.
A revista entende que todos procuram ter vertentes diferentes para problemas internos e externos, o que no caso do Japão aparecem juntos. A resposta é que, na sua juventude, o Japão crescia muito e passou agora por 20 anos de estagnação. Não haveria como separar as duas políticas.
A revista perguntou sobre as diferenças atuais com o seu primeiro mandato como primeiro-ministro em 2007. A resposta foi a emergência da China e a estagnação japonesa. Ele entende que a melhoria econômica dos chineses está aumentando o seu turismo ao Japão, que foi recorde neste ano, perto de 10 milhões, devendo continuar crescendo para 13 milhões no próximo ano.
A pergunta seguinte foi como ele vê a China, e a resposta envolveu considerações históricas de sua província de Yamaguchi, sempre com a visão para o exterior. Destacou a flexibilização monetária que introduziu e recebia restrições de muitos.
A pergunta foi como segue a Abeconomics depois da eleição. Ele afirma que pretende reformas como o da agricultura, da assistência médica, como do mercado de trabalho. À pergunta de como seria isto, ele se referiu à utilização da mão de obra feminina e a melhoria na redução dos desperdícios na medicina.
Outra pergunta foi feita sobre o TPP – Parceria Trans-Pacifica. Abe se considera o líder mais forte que pode avançar no TPP. A pergunta voltou para a China, quando Xi Jinping mostrou na foto de ambos que havia uma contrariedade. Abe informou que entendeu a posição dele, como se fora para consumo interno. A pergunta agora foi sobre Senkaku, Abe entende que todos terão que se entender sobre o Mar da China.
A pergunta seguinte foi sobre os 70 anos do término da Guerra, começando com o problema das “mulheres de conforto”. Ele respondeu sobre o seu lamento, mas, quando o Japão é difamado, precisa defender a sua honra. Acha que no século XXI o direito das mulheres precisa ser protegido. Abe acha que alguns erros foram cometidos, mas entende que as relações com a Coreia do Sul não pode se restringir somente a este item.
À pergunta sobre os fantasmas existentes nas relações asiáticas, Abe respondeu que fantasmas não existem, e que o Japão adota uma política proativa na região.
Numa avaliação geral, a entrevista só poderia ser interessante se as perguntas formuladas fossem relevantes. Não foi perguntado como o Japão vai enfrentar o problema de sua redução da população e seu envelhecimento, e se isto pode provocar uma flexibilização às restrições a imigração. Também quanto ao grande problema da dívida pública, como vai se realizar o aumento da tributação indispensável.
Sem que se caminhe para as questões fundamentais do Japão, ainda que de difícil solução, parece que mesmo a prorrogação da permanência de Shinzo Abe no comando do país não vai resolver os problemas cruciais dos japoneses.