Mania Japonesa de Guardar as Coisas
14 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo no suplemento do The New York Times Internacional da Folha de S.Paulo, especialista em organização, forma de se descartas das coisas dispensáveis
Um interessante artigo de Penepole Green, originalmente publicado no The New York Times Internacional e reproduzido em português no suplemento semanal da Folha de S.Paulo, informa sobre a Marie Kondo que teria se tornado uma celebridade no Japão por estar ensinando a organizar a guarda de materiais que proporcionam alegria, e descartar as já usadas com um agradecimento. É preciso entender algumas coisas da cultura japonesa que podem estar influenciando nestes hábitos. De um lado, por influência da religião shintoista, todas as coisas podem ser consideradas sagradas, e merecem agradecimento na medida em que ajudam os seres humanos. Muitos japoneses, na virada do ano, fazem a revisão dos equipamentos que permitiram o trabalho durante os 12 meses que descansem alguns dias, cobertas e até com alimentos simbólicos, como um bolinho de arroz. De outro lado, com a tradição de um povo que foi pobre e tendo passado por necessidades, desenvolveu-se esta mania de guardar tudo, para uma remota possibilidade do seu uso futuro. Isto tende a acumular um depósito desorganizado, considerando “motainai” (um desperdício) livrar-se mesmo dos que tenham mínimas possibilidades de serem utilizados no futuro.
A técnica que estaria sendo disseminada por Marie Kondo parece pressupor que qualquer material dispõe de vida, como no xintoísmo, devendo-se descartar delas com um agradecimento pela ajuda que já deu a alguém. Haveria uma ordem para o armazenamento dos produtos necessários, de forma organizada, usando conhecimentos como o do origami ou do “furoshiki”, que é um simples pano que se torna uma embalagem, de forma a economizar o espaço e permitir que estes produtos mantenham a sua “alegria” de continuar existindo. Ela acumulou estes conhecimentos de forma prática ajudando a organizar as bagunças dos seus irmãos, bem como simples bibliotecas nas suas escolas, percebendo que poderiam ser dispostos em determinadas ordens, que acabariam sendo mais racionalmente usados.
Sou pessoalmente dos que precisam aprender estas técnicas, pois sou desorganizado e tendo a guardar quase tudo, o que vai acumulando materiais desnecessários até por décadas. Mas concordo que há um momento em que é preciso descartar muito do que é desnecessário, ou poderia ser útil para outros. Estou determinado a adotar estes novos hábitos, mesmo admitindo que no Japão, onde as estações do ano são mais definidas, isto seja mais fácil que no Brasil, onde é até possível ter quatro estações num mesmo dia, o que não permite descartar roupas, por exemplo, que estejam fora da estação. Mas as ideias básicas poderiam ser adaptadas para as realidades locais.
Marie Kondo organizando os depósitos
Armários organizados por Marie Kondo
Marie Kondo estava sendo procurada por pessoas que desejavam a sua ajuda profissional. Hoje, prefere dar aulas ou escrever sobre o assunto para preparação de outras pessoas que acabem organizando os seus depósitos.
Tratando se as coisas inanimadas como se estivessem vivas, elas acabam sendo melhores cuidadas, permitindo a sua melhor preservação como aproveitamento. Poderia se acrescentar que muitos dos produtos que se tornaram inúteis podem ser melhores utilizadas por outras. O hábito de doar de tempos em tempo o que se dispõe pode se tornar mais racional, na medida que possa ser aproveitada mais intensivamente por outras. Existem muitas instituições que possuem serviços de coleta, visando gerar até algumas rendas com suas vendas, depois de revisadas, tirando melhor proveito das suas utilidades.
Estas medidas se tornaram importantes no Japão pelas limitações dos espaços. Na proporção em que muitas residências também no Brasil estão se resumindo em espaços menores, estas medidas se tornam mais convenientes.