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Os Muitos Ritos da Passagem de Ano na Cultura Japonesa

31 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura | Tags: alimentações, importância dos eventos, os agradecimentos para as coisas inanimadas, os ritos na cultura japonesa de passagem do ano

Parece que entre os japoneses a passagem do ano tem mais importância do que em outras culturas.

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Osechi-ryori, típico do Ano Novo japonês, com produtos saudáveis para a longa vida

Observando o que se costumava fazer na passagem do ano entre os japoneses, parece que eles atribuem maior importância que em outras culturas, ainda que todos tenham seus costumes. Por influência da religião xinto, que é considerada a oficial no Japão, costuma-se tratar as coisas mesmo inanimadas como seres que nos ajudam a executar as tarefas humanas. Assim, no encerramento do ano, as corporações de ofício, como a dos alfaiates, costumavam efetuar a revisão das máquinas como as de costura que foram utilizadas durante o ano, com sua limpeza completa e novas lubrificações. Recebiam uma cobertura com um tecido branco para o seu descanso, ao mesmo tempo em que eram depositados alimentos como bolinhos de arroz como agradecimento pela ajuda dada aos trabalhos humanos por todo o ano. Como não existiam férias trabalhistas no Japão, no Ano Novo havia alguns dias de folga, onde todos cumprimentariam seus familiares e todas as pessoas gratas que teriam ajudado no passado.

No Ano Novo, mesmo nos restaurantes, antes do início dos trabalhos, havia uma cerimônia xinto completa com os agradecimentos para os deuses pelo início de mais um ano de trabalho. Os alimentos utilizados nesta passagem do ano também eram determinados, lembrando-se que no Japão se estava em pleno inverno. Na noite do último dia, era costume apreciar-se um sobá, um macarrão preparado com trigo sarraceno, com um caldo que só usa algas e cogumelos, algo que exprime certa parcimônia.

No Ano Novo chamado Shogatsu era uma verdadeira festa, sendo servidos muitos alimentos preparados com antecedência, variados e ricos, todos símbolos de vida longa. Mas na primeira refeição, ao amanhecer, era servido o ozôni que costuma conter um moti, bolinho de arroz amassado, que poderia ser grelhado, junto com alguns vegetais e conservas da época, como o nabo, a cenoura, com um molho também preparado com algas e cogumelos, mas havendo variações regionais. Havia um conceito que sem tomar o ozôni as pessoas não teriam passado de ano.

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Ozôni japonês, com variações regionais.

Também havia uma forma de considerar a idade das pessoas, todas marcadas pelo ano, e o Ano Novo era um aniversário para todos. Também era utilizado um calendário zodíaco chinês, e todos eram conhecidos pelo animal que os representa, que em 2015 é o carneiro. Muitas das características pessoais das pessoas são atribuídas a estes animais.

A etiqueta japonesa exigia que todos fossem cumprimentar seus familiares antecedentes, bem como as pessoas que os ajudaram na vida, e os dias do Ano Novo acabam sendo acrescentados de outros de descanso. Havia um cumprimento típico como “akemasitte omedettou gozaimassu” (parabéns pelo início do Ano), e aos visitantes eram servidos algumas iguarias da época, servida com sakê, aguardente de arroz.

O Japão, sendo um país onde as estações do ano são marcantes, a passagem do tempo parece merecer uma atenção maior. E nada melhor que a passagem do ano, quando se agradece aos veteranos que nos transmitiram suas culturas, que devemos passar para os que nos sucedem, enriquecido, sempre que possível.