Perplexidade dos Eleitores Japoneses
3 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a mesma perplexidade nossa, a possível continuidade de Shinzo Abe, pesquisas de opinião eleitoral da Kyodo no Japão, redução de sua bancada | 2 Comentários »
Quando o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe dissolveu a Dieta convocando novas eleições gerais, com a alegação que desejava um respaldo para uma nova elevação inevitável do imposto sobre as vendas dos atuais 8% para 10%, quando a anterior elevação de 5% para 8% aprofundou as dificuldades japonesas, confessamos que ficamos perplexos. Apesar de admitir que ele deva entender mais da política no Japão do que analistas do exterior, nós revelamos até neste site a nossa dificuldade de sua compreensão. Na falta de uma oposição adequadamente estruturada, todos esperam que ele seja reeleito, mesmo não contando com o desejável respaldo à sua Abeconomics.
Uma pesquisa realizada pela agência Kyodo, segundo artigo publicado por Reiji Yoshida no The Japan Times, informa que o premiê conta agora com maior reprovação que chega a 47,3%, superior à aprovação estimada em 43,6%. A estimativa é que sua bancada do LDP – Liberal Democratic Party deverá reduzir de tamanho, enquanto o seu aliado na coligação Komeito deve ter um ligeiro crescimento, perdendo a maioria que permitia a ele a nomeação de todos os presidentes de comissões.
Foto The Japan Times para mostrar os eleitores ouvindo as explicações
Informa-se que os discursos da campanha estão confusos, havendo os que são efetuados nas regiões afetadas pelas radiações, como próximas a Fukushima, onde o próprio governo afirma que esforços devem ser feitos para a sua recuperação, que até agora se mostrou insuficiente. Nos grandes centros urbanos, afirma-se que com o Abeconomics a economia deve entrar numa fase de recuperação com a injeção de surpreendentes montantes de recursos.
No entanto, o que está se verificando é que os bancos temem os riscos de aumentarem seus empréstimos, ao mesmo tempo em que as empresas como os consumidores não se sentem seguros para assumir responsabilidades. A oposição afirma que somente uma pequena elite se beneficiou da melhoria das bolsas, bem como a desvalorização do yen, que deve beneficiar o aumento das exportações, enquanto os assalariados tiveram comprimidos os seus poderes de compra, principalmente com a elevação dos impostos e dos preços dos produtos importados.
Acaba-se suspeitando que a eleição foi convocada para que Shinzo Abe tenha o seu governo prorrogado, ainda que sofra uma redução de sua bancada, aproveitando somente um momento em que a oposição não conta com uma organização de sua equipe para vencer o pleito. Mas o respaldo desejado pelo premiê parece difícil de ser conseguido, podendo aprofundar a crise japonesa.
O mundo globalizado está necessitando da economia japonesa mais ativa, capaz de contribuir na melhoria de todos os seus parceiros. Já afirmamos que as bases das dificuldades japonesas estão na redução de sua população e no seu relativo envelhecimento, e se estes problemas não podem ser resolvidos, as suas dificuldades tendem a persistir, o que seria extremamente lamentável.
Ainda que o tempo da campanha eleitoral seja muito curto, estas discussões devem ser intensificadas, até porque não há uma aparência que as atuais sejam capazes de proporcionar condições para a estabilidade do governo por um longo período.
Eleição ou plebiscito? Parar o legislativo foi uma artimanha para desarticular a oposição, claramente. Se fosse no Brasil, seria um escândalo…
O acontecimento, pelo que tenho lido, não se restringe somente ao momento econômico, ou a fragilidade da estrutura governamental, mas também ao impacto na opinião pública causado pelos escândalos que derrubaram ministros, e também das discussões sobre a saída das bases americanas, a volta das forças armadas, orçamento de defesa, etc, etc.
Caro Carlos Abreu,
Obrigado pelo comentário. O nosso sistema não é parlamentarista e não dá para comparar com o japonês. Problemas existem em qualquer país, e a dissolução da Dieta é um mecanismo normal naquele país, não se tratando de nenhum escândalo.
Paulo Yokota