Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

As Dúvidas Sobre o QE Quantitativy Easing

26 de janeiro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: ampliaram-se para o Japão e para a Europa, as novas políticas dos Bancos Centrais, começaram pelos Estados Unidos, não existiriam inconveniências?

clip_image002Analistas como Stephen S. Roach, da Universidade de Yale, começam a levantar dúvidas sobre as novas políticas chamadas de “QE – quantitative easing”, que, para mim, parecem mágicas.

 

Stephen S.Roach, ex-presidente do Morgan Stanley Ásia e professor da Universidade de Yale

Stephen S. Roach escreve com regularidade em muitos lugares e agora publica um artigo no Project Syndicate questionando aspectos da eficácia do chamado “QE – quantitative easing”. Começou a ser aplicado pelo FED – Sistema Federal de Reservas, vem sendo usado pelo BOJ – Bank of Japan e agora está sendo utilizado pelo BCE – Banco Central Europeu para estimular suas economias, visando à recuperação dos mesmos, o que vem sendo conseguido somente em parte. Evidentemente, existem inconvenientes que acabam afetando muitos outros países, provocando suas reações de defesa, como do Brasil e outros parceiros, principalmente emergentes, ainda que sejam beneficiados em alguns aspectos com o aumento da liquidez.

Sempre tive a impressão de que se trata de um passe de mágica, pois nem inconvenientes expressivos poderiam provocar a recuperação de suas economias. Roach explica que estes bancos centrais não podem mais baixar suas taxas de juros que estão praticamente em zero, aumentam a quantidade dos créditos disponíveis. Adquirirem assustadores volumes de títulos no mercado, simplesmente utilizando suas capacidades de criarem meios de pagamento e crédito.

Ele simplifica que o impacto do QE depende de três Ts da política monetária: transmissão, os canais pelo qual a política monetária afeta a economia real; tração, a capacidade de resposta das economias à política monetária; e consistência tempo, a credibilidade na promessa das autoridades de alcançar alvos como emprego e estabilidade de preços.

No caso dos Estados Unidos, desde 2008 quando começou a ser aplicado, o FED injetou US$ 3,6 trilhões que superou os US$ 2,5 trilhões do crescimento nominal do PIB, impulsionando as cotações do mercado de capitais em mais de três vezes, o que deveria provocar uma explosão de demanda dos mais ricos. Nota-se que parte substancial desta liquidez encaminhou-se para o exterior, provocando a valorização do câmbio como do real, no caso brasileiro. Se isto estimulava a desvalorização do dólar, provocava a valorização de moeda de seus parceiros comerciais, e como os Estados Unidos também vivem no mundo globalizado, afetá-los não parece uma boa política, ainda que isto seja imposto pela sua força no mercado mundial.

No caso do Japão, como suas empresas não se sentiam estimuladas a tomar estes créditos diante da capacidade ociosa existente, não cresceram as demandas locais e tenta-se agora uma elevação dos salários, o que não é fácil para as pequenas e médias empresas. Mesmo com a desvalorização do yen, as exportações não cresceram como esperado e ainda não se consegue que a inflação suba, de forma a estimular a economia. Agora se enfrenta a concorrência com o euro.

Na Europa, os patrimônios dos indivíduos e dos fundos de pensão são mais baixos que nos Estados Unidos e no Japão, e o que se conseguiu até agora é a desvalorização do euro, que necessitará competir com o dólar e com o yen, provocando uma verdadeira guerra cambial. Os demais países não contam com recursos para competir com eles, diante da impossibilidade da aceitação de suas moedas no mercado internacional.

No caso do franco suíço, com as autoridades monetárias retirando os limites de sua flutuação, ocorreu uma forte valorização de sua moeda, mostrando que existem limites para o que desejam as autoridades dos outros países.

Tudo está indicando que existem mais dúvidas sobre o QE do que as autoridades dos Estados Unidos, do Japão e da Europa esperavam, e se ajudam temporariamente na recuperação parcial de suas economias, sem benefícios para todo o mundo, não há como sustentar estas políticas pelos longos tempos necessários.

Está se comprovando que mesmo nestes mercados sofisticados não existem espaços para mágicas, ainda que todas as moedas dependam de suas credibilidades no mercado, que são muito frágeis e podem ser afetado por muitos fatores.