Tentando Entender Shinzo Abe Após o Novo Mandato
9 de janeiro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: fazer o que é possível e não o que desejaria, restrições políticas insuperáveis, tentando entender a política e a economia no novo mandato | 2 Comentários »
Como é necessário aceitar que Shinzo Abe conquistou um novo mandato e que conhece melhor que ninguém as restrições que o Japão sofre, precisamos admitir que ele faz o que pode e não o que desejaria.
Primeiro-ministro Shinzo Abe após uma grande vitória eleitoral
É preciso admitir que quem venceu a eleição no Japão em dezembro último, de forma expressiva como conseguiu, tem plena competência para diagnosticar o que está acontecendo naquele país. Depois de elevar o imposto de vendas de 5 para 8%, frustrou-se a retomada desejada da economia japonesa, com a volta da inflação, depois de duas décadas de deflação. Ele conseguiu um tempo para efetivar o novo aumento necessário para 10% deste imposto, possivelmente no próximo ano, ou seja, 2016, pois a economia japonesa não tem condições para continuar a elevar o seu endividamento público.
É evidente que numa economia onde a população está declinando de dimensão e envelhecendo rapidamente seria recomendável que se flexibilizasse sua política de migração, facilitando a entrada de jovens estrangeiros para atender as suas demandas de recursos humanos até para as tarefas menos complexas. Com o tempo, eles ajudariam a aumentar a demanda local. Também que os conflitos com seus vizinhos coreanos e chineses fossem minimizados, tanto pelas disputas de algumas ilhas como pelo reconhecimento dos erros cometidos durante a Segunda Guerra Mundial.
No entanto, as pesquisas indicam que a população japonesa na sua grande maioria não se simpatiza com estes seus vizinhos, necessitando reafirmar posições nacionalistas. Não se consegue a desejada flexibilização da migração nem posicionamentos mais pragmáticos que facilitariam a integração do Extremo Oriente.
Politicamente, não existem condições para qualquer líder político modificar este quadro, que continuaria exigindo muito tempo até que novas gerações não atribuíssem mais importância para o que já aconteceu há mais de 70 anos. Principalmente quando, tanto na China como na Coreia do Sul, estes assuntos continuam a ser utilizados para reafirmação de sua identidade nacional.
Não resta a Shinzo Abe e aos políticos que compõem a coligação que conseguiram uma vitória eleitoral expressiva no final do ano passado do que se ajustarem ao que pensa a população japonesa, ainda que isto não facilite em nada a sua recuperação econômica. Não resta senão continuar insistindo que a terceira flecha do Abeconomics ajudará a recuperação da economia japonesa, mesmo que se saiba que isto é muito difícil.
Esta situação aumenta a dependência do Japão a um acordo de segurança com os Estados Unidos, ainda que se reconheça que ela está cada vez mais difícil de ser sustentada com recursos daquele país amigo. Todas as tentativas de aumentar a participação de outros parceiros da Bacia do Pacífico continuam sendo pouco expressivas, como se constata até no lento avanço do TPP – TransPacific Partnership.
Não parece que exista alternativa do que se conformar com o chamado “novo normal”, onde as dificuldades japonesas continuam se acumulando, mesmo que a queda brutal do custo de energia possa minorar parte das limitações. Certamente, este quadro não seria o desejável pelo novo governo Shinzo Abe, mas o que é possível dentro da dura realidade política e econômica do Japão.
Yokota,
Você está correto em suas análises.
Abe recebeu apoio popular mas acho que não terá força política para implantar o que gostaria.
O Japão está “engessado” em alguns setores, e as brigas políticas internas estão dificultando a implantação de algumas coisas.
O envelhecimento da população é mais grave do que parece, e os políticos japoneses teimam em “tapar o sol com a peneira”.
A falta de mão de obra está afetando até os tradicionais restaurantes populares (Yoshinoya, Sukiya, Matsuya, etc), que não estão conseguindo trabalhadores para suas lojas, e consequentemente as redes não conseguem se expandirem.
Os jovens, e sua maioria, estão desanimados com o futuro, afetando ainda mais a economia local.
Caro Nikos Magnus,
Obrigado pelos seus comentários e informações.
Paulo Yokota