Ampliação das Explorações de Carajás
24 de fevereiro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: ampliações atuais, início de suas atividades, o futuro, o projeto Carajás
Se existe um milagre com que Deus contemplou o Brasil, este se chama Carajás, que, mesmo no atual cenário internacional do mercado mundial de minérios, continua competitivo e ampliando suas atividades.
Ampliação da mineração na Serra de Carajás, a maior do mundo
A maioria dos brasileiros não conhece, infelizmente, a dimensão e nem a qualidade de Carajás. Os minérios disponíveis nesta serra estão cubados e podem abastecer as necessidades mundiais por, no mínimo, mais 300 anos. O teor do minério de ferro de Carajás, bem como sua granulação, é o recomendado para a utilização direta nos altos fornos atuais das siderurgias. Ou seja, Carajás não se trata de uma mina, mas de um depósito de minérios que basta carregar nos gigantescos trens para o seu transporte até o porto de Itaquí, no Maranhão, para depois chegar a qualquer lugar do mundo em navios de até 400 mil toneladas TDW, os maiores do mundo, inclusive para a China.
Uma série de artigos de Francisco Góes começou a ser publicado no jornal Valor Econômico sobre o assunto, e o primeiro encontra-se no http://www.valor.com.br/empresas/3920092/carajas-faz-30-anos-e-vai-ampliar-lavra. Meu conhecimento pessoal sobre Carajás começou muito antes do início da sua exploração, quando tive a oportunidade de apresentá-la para os potenciais investidores japoneses, autoridades e empresários que aportaram inicialmente US$ 1 bilhão para o início dos trabalhos, tendo como base um contrato para o fornecimento do minério a longo prazo.
Ampliou-se quando tive a oportunidade de apresentá-la ao presidente do Banco Mundial, então Robert McNamara, experiente estadista acostumado a avaliar grandes projetos, que ficou impressionado com o mesmo.
Agora, mesmo quando o mercado mundial de minérios se encontra num período pouco brilhante, programam-se a curto prazo suas ampliações, pois os custos do minério de Carajás da Vale são altamente competitivos e suas receitas em divisas seriam importantes para o Brasil.
Ilustrações constantes do artigo de Francisco Góes publicado no Valor Econômico
O atual mercado mundial para o tipo de minério de Carajás encontra-se no nível dos US$ 62 por tonelada, enquanto os custos da Vale estão bem abaixo. Evidentemente, o Brasil não vai aumentar a oferta a ponto de prejudicar os preços mundiais, mas procura mantê-lo ao nível para desestimular outros concorrentes nos seus projetos de ampliação com custos mais elevados.
Carajás é possivelmente uma chaminé de uma das ilhas que existiam quando a Amazônia ainda era um mar até a elevação dos Andes. Junto a estas chaminés costumam haver muitos minérios e, se atualmente o mais explorado é o de ferro, existem muitos outros em percentagens baixas, que necessitam de técnicas sofisticadas para serem separadas. O mais promissor é o cobre.
No meio da Amazônia havia uma elevação com um descampado coberto pelas cangas, que é uma mistura com minério que não permitia o desenvolvimento de árvores. Os aviões por que lá passavam registravam distúrbios em seus aparelhos eletrônicos indicando possivelmente que minérios existiam naquelas estranhas formações.
Havia uma concessão da área para a mineração da US Steel, mas o governo brasileiro, considerando que suas reservas deveriam ser estratégicas, pressionou para a recompra dos seus direitos, que foi feita por cerca de US$ 100 milhões, quando já se avalia que deveria valer no mínimo 10 vezes mais, ainda que a cubagem não tivesse sido efetuada. Hoje, depois de muitas cubagens, sabe-se que o seu valor chega a muito mais que US$ 100 bilhões, mas não havia como aquela empresa norte-americana suportar a pressão do governo brasileiro. Quando da visita de Robert Mc Namara, vendo Carajás, ele afirmou-me: “Poor US Steel…”, simplesmente.
Quando a Vale estava sob o comando do ministro Eliezer Baptista, iniciou-se a sua exploração, tomando-se todo o cuidado com a ecologia, tendo se criado uma área preservada que serve de exemplo para o mundo. Os japoneses colaboraram com a cidade que daria acomodação para os que trabalhariam no projeto, construindo um hospital exemplar. Tudo foi feito com o que de melhor pudesse suportar o conjunto do projeto.
As dimensões de Carajás são difíceis de serem avaliadas pelos que não têm a oportunidade de vê-la pessoalmente. Os gigantescos e muitos equipamentos que retiram muitas dezenas de toneladas de minérios em cada movimento são os maiores do mundo, com suas rodas chegando a alturas de mais de um homem.
Uma roda comparado com a altura de um homem
Os trens que transportam este minério para o porto de Itaqui contam com cerca de uma centena de vagões, e a cada 10 com uma locomotiva que os move a uma velocidade relativamente lenta, por cerca de mil quilômetros, por uma ferrovia que foi construída especialmente para este transporte.
O porto de Itaqui é um dos mais privilegiados do mundo, contando com uma profundidade natural que chega a 23 metros, onde os navios atracam durante a maré cheia, e são carregados por gigantescas carregadoras, até terem condições para partir na próxima maré alta. A maré da região é das mais altas do Brasil.
Porto de Itaquí e seus gigantescos carregadores de minério
Carajás é um dos projetos que devem orgulhar todos os brasileiros, mostrando que este país tem todas as condições para se tornar um país desenvolvido, ainda que exija trabalhos gigantescos.