Brasil e Índia Têm Esperanças
19 de fevereiro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: as dificuldades e as esperanças da Índia, dificuldades maiores que as brasileiras, mudanças que estão se observando nos dois países
A Índia, em decorrência do novo governo, e o Brasil, forçado pelas circunstâncias, são obrigados a adotar novas orientações políticas que estão sendo elaboradas pelos seus ministros da Fazenda.
Dilma Rousseff dando posse a Joaquim Levy como ministro da Fazenda
Narendra Modi e o ministro das Finanças, Arun Jailey
Brasil e Índia têm gigantescos desafios e para superá-los necessitam introduzir ousadas políticas econômicas, utilizando seus setores privados e as indicações do mercado. Mesmo que seus dirigentes máximos tenham suas preferências pessoais, são obrigados a aprender uns com os outros, executando reformas mesmo com todas as adversidades com que contam.
O que a Índia está tentando fazer para manter o seu elevado crescimento que chegou a 7,5%, com queda de inflação que veio registrando recentemente 5,1%, contando com a torcida de todo o mundo para a orientação privativista do seu primeiro-ministro Narendra Modi. Tem como principal executor o seu competente ministro das Finanças, Arun Jailey, que deve apresentar brevemente seu primeiro orçamento. Nada vai ser fácil para um país que conta com mais de 1,3 bilhão de habitantes, infraestrutura precária, grande massa de população pobre que vive num setor rural ainda pouco desenvolvido e todos os seus demais problemas. A Índia conta com uma oportunidade única, mas precisa efetuar reformas substanciais, inclusive uma ousada fiscal, visando simplificar o seu complexo sistema tributário. Pode acabar servindo de exemplo para o Brasil, que também é uma Federação.
No Brasil, a orientação que vinha sendo adotada entrou em total colapso, com uma gestão que não conseguiu exercutar os projetos a que se propunha, numa total confusão no seu sistema fiscal, com pressões inflacionárias em ascensão, dificuldades na balança comercial e uma corrupção generalizada que reduz ainda mais a baixa capacidade de uma adequada articulação política, da qual a presidente não é a única responsável. Dilma Rousseff, ainda sob a desconfiança da opinião pública, notadamente dos meios de comunicação e do setor privado, está sendo obrigada a submeter-se a uma política totalmente oposta da anterior, usando a credibilidade do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Ele ainda conta com a confiança do setor financeiro, mas desconfia-se de sua capacidade de superar os exageros de interferência da presidente.
Escolhendo Joaquim Levy e optando por sua política econômica, conta com resistências dentro de sua base política. Também na administração pública não conta com uma equipe ao nível dos desafios que estão presentes. Mas, faz-se o que é possível, e, vendo verdadeiros milagres como os que ocorrem na Índia, deve utilizar toda a sua disposição para enfrentar os desafios que se apresentam, sem o que o seu segundo mandato estará condenado ao fracasso. Como ela não aparenta ser uma suicida, deve-se convencer que as mudanças dependem fundamentalmente dela própria.
No mundo globalizado, onde começam a se registrar as primeiras recuperações mais expressivas, está ficando claro que os países emergentes necessitam de substanciais reformas, como a que também está sendo tentada na China, que também enfrenta a corrupção com uma gigantesca campanha. Tudo demanda tempo e organização, mas o Ministério Público brasileiro e a Polícia Federal parecem adequadamente conscientes da gigantesca operação a que estão envolvidos. Trata-se quase de uma guerra de vida ou morte, onde muitos braços terrão que ser sacrificados, inclusive de antigos parceiros.
O Brasil conta com flexibilidade e disposição de sua população para enfrentar estes desafios que exigem um mínimo de racionalidade, mas uma forte disposição política. Há um exagero de confusão semeada por interesses escusos e até uma falta de uma análise mais profunda dos meios de comunicação social. O quadro não é favorável para o governo, que corre o risco de desagregar-se com os milhares de interesses de sua base de sustentação. Há que se elaborar uma estratégia de prazo mais longo, onde os alvos principais fiquem claros para todos, inclusive os que se opõem.
Comparando a complexidade existente em outras economias de porte, nota-se o Brasil tem melhores condições, ainda sem o concurso de um quadro de auxiliares bem dotados. Mas, com os poucos já existentes, pode-se estabelecer as diretrizes básicas a serem perseguidas com perseverança. O que parece indispensável é que haja um ponto de inflexão, demostrando que houve uma mudança substancial, e a orientação geral apresentada pelo ministro Joaquim Levy parece convincente para este mínimo, necessitando de uma equipe que parece disponível para as principais tarefas.
É preciso acreditar que tudo isto é possível, e, como estamos mais no campo da psicologia social e da política, já tivemos bons analistas que mostravam que os formatos das nuvens se alteram a todo o momento e já começou a chover.