Depois Que a Poeira Baixar…
19 de março de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a vida continua com as limitações naturais, com as correções do que estiver errado, dura adaptação, necessidade de preservar o que existe de bom no Brasil
Ainda que tudo aparente ser difícil no momento, Delfim Netto afirma, numa entrevista para o Estadão, que ninguém vai levar o Brasil à desgraça.
Foto constante da entrevista no jornal O Estado de S.Paulo
Segundo o professor Delfim Netto, o ajuste fiscal é indispensável para que as agências de rating continuem considerando que a economia brasileira mereça o grau de investimentos. E continue recebendo os financiamentos externos indispensáveis. Para tanto, o Congresso teria que aprovar a proposta do governo com um corte de despesas e o aumento de alguns impostos de forma a gerar a convicção que o país está fazendo um esforço para as correções de suas contas.
É possível que o Congresso faça alguns pequenos ajustes na proposta do governo, como seria natural. Mesmo que haja algumas divergências, o Congresso não teria nenhum interesse em prejudicar o Brasil, caminhando para uma posição de quanto pior melhor.
De qualquer forma, haveria uma recessão por um período razoável até que a recuperação da economia brasileira possa se efetuar, com uma inflação viável, tendendo para a meta, talvez não até o final de 2015, mas para o próximo exercício. O câmbio já permitiria a redução da importação e as exportações dependeriam da competitividade da economia brasileira que necessitaria ser recuperada, principalmente no setor industrial.
O ministro da Fazenda Fernando Levy está tentando, com sua nova política econômica, um forte ajuste comparado com o que vinha sendo executado até o final do ano passado. Ainda que exista no momento uma sensação de forte pessimismo, diante do quadro de manifestação de insatisfação da população, com o tempo a poeira estará baixando, voltando para uma percepção sem nenhum exagero.
O governo está encarregando a Controladoria Geral da União para a promoção da leniência, ou seja, uma aceitação das responsabilidades das empresas envolvidas em irregularidades com uma punição razoável, sem que haja necessidade de envolvimento do TCU – Tribunal de Contas da União e do MP – Ministério Público, dentro da nova lei Anticorrupção. Mas elas voltariam a contar com a possibilidade de fornecimentos para a administração pública, pois os punidos seriam os executivos e não as empresas, que teriam que ajudar na recuperação da economia brasileira.
Ficariam proibidas os chamados Caixa 2 para os processos eleitorais, haveria o confisco de bens dos que tiverem enriquecido com irregularidades, os bens dos que cometeram irregularidades poderiam ser alienados, a ficha limpa seria não somente de congressistas como também de funcionários públicos, os funcionários públicos seriam criminalizados pelos seus enriquecimentos não justificados, e, além dos bancos, também as empresas teriam programas de complience (com executivos punidos pelo uso de informações privilegiadas) e grupos de trabalho seria estabelecidos para acelerar os processos relacionados com as práticas de ilícitos.
Um primeiro sinal que já haveria uma volta da confiança do setor privado foi o sucesso do processo de licitação da operação da Ponte Rio Niterói vencida pelo Ecorodovias do grupo C.R. Almeida, o que permitiria a continuidade de ampliação do setor privado nos projetos públicos-privados, que deverão ser acelerados nos próximos meses, visando à ampliação dos investimentos que não podem ser mais arcados pelo governo.
É evidente que isto não significa a volta à normalidade, mas não se pode imaginar que a população deseje a completa paralisação do país, havendo que paulatinamente voltar a confiança que permita a economia brasileira continuar o seu processo de retorno para a sua recuperação. Já é um tímido processo de início das correções, mesmo que não seja ao nível desejado por.