Manifestações Populares Contra o Governo
16 de março de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: manifestações sem violências, números expressivos por todo o Brasil, suas consequências
As manifestações populares do povo brasileiro contra o governo foram pacíficas, em número expressivo e por todo o Brasil, aumentando as dificuldades que já eram enfrentadas pelos que se encontram no poder.
Manifestações contra o governo em São Paulo
Mesmo que as expectativas de manifestações populares contra o governo fossem elevadas para este domingo, tudo indica que as suas dimensões superaram as mesmas em todo o Brasil e no exterior. Havia preocupações que poderiam ocorrer alguns atritos isolados, mas os pequenos incidentes foram insignificantes. As de apoio parcial ao governo ocorreram na última sexta-feira, em número bem menor.
Parece difícil que o governo seja capaz de gerar fatos concretos que permitam o esvaziamento destas insatisfações, ainda que seja difícil imaginar todas as suas consequências e evoluções futuras, havendo possibilidades de outras demonstrações semelhantes no processo. Alguns líderes opositores se manifestaram sobre a inconveniência de um impeachment da presidente Dilma Rousseff, ainda que em muitos cartazes das manifestações apresentassem ideias vagas do tipo “Fora Dilma”.
Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo Secretário-geral da Presidência, Miguel Rossetto
O governo escalou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, secundado pelo secretário-geral da Presidência, Miguel Rossetto, para a primeira reação oficial às manifestações, com uma entrevista à imprensa. Interpretou-se que as manifestações indicariam uma confirmação do regime democrático vigente no Brasil. O governo mostrou-se disposto a ouvir as “vozes da rua”, diálogo com os setores que não votaram na Dilma Rousseff nas últimas eleições, combate radical à corrupção, que entendem como uma das reivindicações principais, esforços pela reforma política e eleitoral, inclusive na forma de seu financiamento das campanhas eleitorais, aceitando sugestões formuladas até pelos contrários ao governo. O secretário-geral foi infeliz ao afirmar que os manifestantes eram dos que não votaram na Dilma, quando havia também os que se consideravam traídos.
Na realidade, a insatisfação popular parece gerado por um conjunto de muitos fatores, como de um estelionato eleitoral, com uma campanha da Dilma Rousseff para as eleições que não encontra correspondência nas primeiras medidas tomada pelo novo governo. Os escândalos envolvendo a corrupção na Petrobras, a piora na situação econômica com agravamento da recessão e inflação crescente, possibilidades de aumento do desemprego e muitos outros problemas também compõem a lista. Parece evidente que a precária coligação política, que tem como base fundamental de suporte do governo, a aliança dos partidos PT e PMDB está fortemente comprometida, não sendo mais suficiente como base de sustentação do governo.
Dentro do próprio governo existem manifestações contrárias a aspectos de funcionamento do atual governo, que não consegue compor uma equipe que agrade a maioria, mesmo admitindo que isto seja sempre difícil. A presidente Dilma Rousseff não parece contar com carisma para superar estas dificuldades na sua imagem. As medidas econômicas duras, que muitos entendem serem indispensáveis, aumentam as contrariedades da população, como se existissem alternativas mais agradáveis.
Como os políticos procuram ficar sintonizados com as aspirações populares, tudo indica que as medidas como elevações dos tributos, redução das vantagens sociais como das aposentadorias, reformas indispensáveis para assuntos fiscais, aperfeiçoamentos do sistema político, entre muitos outras que terão que transitar pelo Congresso, ficaram mais difíceis de serem aprovadas.
Também os financiamentos das necessidades do governo, tanto interno como externo, tendem a ficar mais difíceis, pois o sistema financeiro interpreta que os riscos estão se elevando, num quadro onde as mudanças dos juros como do câmbio já se antecipam às dificuldades. Os empresários não se sentem seguros para efetuar os investimentos diante da falta de confiança no governo e continuidade de sua política de correção da atual situação.
Mesmo reconhecendo que as dificuldades brasileiras ficaram aumentadas por um cenário internacional menos entusiasmante, parece que se tornam mais prementes cortes mais significativos nas despesas públicas de custeio, aumentando a capacidade de investimento do governo.
Sem a criação de um clima em recuperação econômica mais rápida, parece que a população teria dificuldade para suportar um longo período de ajuste até a voltar à recuperação econômica e retomada de um desenvolvimento mais robusto. Ainda que isto seja difícil, o governo precisa insistir em convencer a opinião pública que isto é possível, indicando os meios para tanto.