A França e a Renault-Nissan
30 de abril de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: no mundo globalizado os interesses do país podem diferir dos da empresa, o complexo caso da Renault-Nissan com a França, os discursos a favor da globalização e a defesa dos empregos
O brasileiro Carlos Ghosn tornou-se conhecido mundialmente pelo sucesso da associação da Renault, de origem francesa, com a Nissan, de origem japonesa, mas agora está em conflito com os interesses do governo francês.
Carlos Ghosn, presidente da Renault-Nissan, e Emmanoel Macron, ministro das Finanças da França
A francesa Renault e a japonesa Nissan, isoladas, já sofreram dificuldades. A primeira, necessitando de suporte do governo francês, e a segunda, precisando associar-se à empresa francesa. No atual mundo globalizado, com novas mudanças no setor automobilístico, as montadoras sofrem dificuldades se não aprofundar a suas associações para localizar suas unidades fabris nos países que apresentam as melhores condições.
No entanto, a França, que vem sofrendo dificuldades como a enfrentada com a siderúrgica AcelorMittal, atualmente sob controle indiano, que passou uma de suas unidades para outro país, procura se resguardar para manter o nível emprego no país, o que significa retirar a flexibilidade da associação Renault-Nissan.
Assim, dentro de um complexo sistema de controle acionário, a França resolveu aumentar a sua atual participação nesta associação de 15% para 20%, para que estas mudanças só possam ocorrer com a concordância dos representantes do seu governo.
Carlos Ghosn, que foi informado desta intenção somente às vésperas de uma assembleia geral vital para estas decisões, acaba se colocando contra os interesses do governo da França, no que conta com o apoio de diversos grupos acionistas em diversas partes do mundo, inclusive da Nissan. Esta reunião deve estar ocorrendo nestes dias, explicitando as diferenças de interesses.
Não se sabe como Carlos Ghosn, que ficou famoso pela sua capacidade em superar obstáculos, vai enfrentar este problema, que ficou conhecido quando não havia mais condições de tentar alterar o quadro no mercado de ações. Os governos costumam suportar os interesses das empresas de origem no seu país, mas, no atual mundo globalizado, as multinacionais acabam agindo de forma a preservar os seus interesses e de seus acionistas, que nem sempre coincidem com o interesse governamental, que é a preservação do nível de emprego.
Isto mostra também que, mesmo na Comunidade Europeia, os interesses dos países costumam ser mais importantes do que os arranjos feitos numa aglomeração de países, sem a qual, isoladamente, enfrentariam grandes dificuldades. O mesmo parece acontecer nas Federações dos grandes países, onde os interesses regionais deveriam ser os nacionais, mas acabam atendendo às conveniências políticas locais, o que deve servir como advertência para países federativos como o Brasil.