Artigo Pesado do The Economist Sobre Dilma Rousseff
23 de abril de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: artigo pesado do The Economist sobre Dilma Rousseff, considerações parciais para muitos, emotividade da população brasileira, os exageros de críticos considerados radicais
Mesmo considerando as difíceis condições econômicas e políticas que estão sendo enfrentadas pelo governo Dilma Rousseff, parece indispensável considerar que a população brasileira tende a ser muito emotiva, exagerando nas suas considerações críticas.
Ilustração constante do artigo publicado no site da The Economist
O artigo publicado na revista inglesa The Economist afirma que, atingida pela deterioração do quadro econômico e pela corrupção na Petrobras, Dilma Rousseff tornou-se extremamente impopular. É preciso considerar a existência dos que atribuem às manifestações populares que ocorreram no país como expressão da extrema direita, comparada à Tea Party dos Estados Unidos. No entanto, pesquisas de opinião também indicam que em todos os segmentos da população existem contrariedades com o governo Dilma Rousseff, ainda que sejam momentâneas.
A matéria afirma que a ocupante do Palácio do Planalto não se encontraria mais no comando do país, pois a política econômica ficou delegada ao ministro da Fazenda Joaquim Levy e a coordenação política ao vice-presidente Michel Temer, que consegue conversar com Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, que se comporta de forma independente, ainda que o PMDB junto com o PT sejam as bases parlamentares do governo. O exagero destas considerações decorre de que estas escolhas duras foram feitas por Dilma Rousseff, ainda que sejam mudanças radicais de orientações do que vinha sendo executado até as eleições, que ocorreram somente há quatro meses, diante da falta de alternativas. O que muitos consideram é que existe um sistema parlamentarista atualmente em vigor no país, o que deve ser considerado positivo, evitando os exageros do Executivo.
O artigo refere-se às quatro soluções que ocorreram no passado em situações tão críticas, com Getúlio Vargas se suicidando, Jânio Quadro renunciando, Fernando Collor sendo cassado e Jango Goulart que foi derrubado pelos militares. Não vê Dilma Rousseff, uma antiga guerrilheira, submetida a tais alternativas. Ainda que existam tucanos imaginando a possibilidade de impeachment, deve se lembrar de que nem Fernando Henrique Cardoso ou José Serra, líderes importantes deles, imaginam que existam condições para tanto, por hora.
Também parece que alguns aspectos críticos tendem a ser superados. A Petrobras conseguiu publicar um balanço aceitável pelos auditores, a bolsa esboça uma recuperação, o câmbio não continua se desvalorizando descontroladamente e pequenos indícios mostram que o fosso da contração econômica parece estar sendo superado. No entanto, mesmo contando com alguns ministros de peso, não se sente uma equipe conseguindo atuar de forma desembaraçada visando superar as grandes dificuldades que se acumulam nos mais variados setores.
As intervenções pessoais de Dilma Rousseff parecem guiadas somente com o objetivo de recuperar o seu prestígio pessoal, sendo incapazes de equacionar adequadamente os graves problemas da previdência social, da saúde e da educação. As soluções de infraestrutura não conseguem deslanchar pela falta de confiança do setor privado e as indicações acabam ficando com a impressão que haverá anos de marasmo, que seriam difíceis de serem suportados pela falta de adesão do setor privado.
Poucos acreditam que as iniciativas que estão sendo tomadas sejam capazes de reverter de forma significativa a situação presente, no que também não está sendo ajudada por uma economia mundial mais dinâmica. Talvez esta seja a situação do novo normal que está sendo admitida por muitos em todo o mundo. Mas sempre existe uma esperança que a flexibilidade atual da presidente Dilma Rousseff permita um programa de recuperação, com muito pragmatismo.
Todos esperam que ideias mais substantivas sejam apresentadas capazes de empolgar a população, pois sem que ela esteja entusiasmada com uma orientação clara, todos se sentem perdidos num grande marasmo de problemas. A China, por exemplo, que também apresenta grandes problemas internos com sua desaceleração do crescimento, está sendo motivada até mundialmente com um programa como a nova Rota da Seda, que visa criar um novo impulso com a volta do intercâmbio mais dinâmico da Ásia com a Europa.
Ninguém pode prescindir do resto do mundo, e a América Latina sempre é mais difícil de ser aglutinada, mas o Brasil sempre esteve voltado para o mundo, e o aumento de suas exportações continua sendo a alavanca para melhorar na sua economia interna.