De Boas Intenções o Inferno Está Cheio
13 de abril de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: a ajuda de acadêmicos que não conseguiram ser executivos, as diferenças de dimensões determinam as de qualidade, faz-se o que é possível, pragmatismo
Muitas pessoas com limitadas experiências de execução costumam dar conselhos brilhantes que nem sempre são possíveis de serem aplicados nas duras realidades, ainda que decorrentes de estudos acadêmicos. As experiências em escala menor também nem sempre são aplicáveis em escala nacional.
Nem todos têm a consciência da complexidade brasileira com a dimensão continental, num processo extremamente dinâmico
Dizem que o papel aceita tudo e muitos abusam de expor ideias brilhantes do que pode ser feito no Brasil, sem que tenham acumulado experiências na sua dura execução num contexto extremamente dinâmico. A realidade brasileira costuma apresentar dificuldades dadas as amplas complexidades de sua formação, com contribuições de diversas etnias e culturas, uma herança histórica complicada de poucos séculos, ocupando um território imenso e diversificado, sempre voltado para o exterior, sem uma reflexão mais profunda sobre os seus problemas internos. E inserido num mundo globalizado de acentuadas mudanças dinâmicas.
A natureza dadivosa e basicamente tropical parece ter deixado ao povo brasileiro um comportamento com baixa preocupação com o longo prazo, de dura acumulação de muito trabalho para superação das limitações que são impostas a qualquer economia e sociedade. Mas todos estão sendo envolvidos num processo dinâmico decorrente de sua inserção na economia global.
Recentes proposições de novas políticas para uma nova fase na sua história brasileira são como sempre brilhantes, mas não parecem estar respaldadas nas duras experiências de operação numa realidade tão complexa como a brasileira, ainda que reflexões de qualquer natureza sejam sempre úteis.
Também estão sendo apresentadas proposições para ações que consideram conjuntos rurais, baseadas em limitadas experiências regionais. Parece indispensável que estes casos tendam a necessitar do atendimento dos interesses familiares que costumam ser transitórios, dentro de uma dinâmica de rápidas mudanças no contexto em que estão inseridos. Poucos casos parecem apresentar realidades estáveis já consolidades numa região, notadamente quando os descendentes desta mesma família aspiram legitimamente ampliações de suas atividades ou transferências para outras atividades comerciais, de serviços ou até industriais.
Existem muitas experiências, algumas até bem sucedidas, que são diversas nas variadas regiões dependendo da dinâmica em que estão inseridas. Não parece que se possa estabelecer um modelo de ascenção social destas famílias, onde a propriedade fundiária é somente uma das componentes de menor custo. As pesquisas são relevantes, mas, acima de tudo, as extensões rurais e todos meios em que estão inseridos na dinâmica esteja ocorrendo em cada região, notadamente nas áreas de ocupações tradicionais, mas onde estas propriedades estão sujeitas a mudanças rápidas que estão se processando.
Habilitá-los para se apropriarem dos benefícios que estão se generalizando, notadamente para as novas gerações, parece de grande relevância, ainda que difíceis, mas precisam ser considerados. Também é preciso separar o joio do trigo, pois muitos movimentos estão contaminandos por interesses políticos partidários ou de organizações que pretendem defender os interesses sociais.
Nada é fácil de ser executado e exigem pacientes trabalhos que atendam às aspirações legítimas com uma visão do que deve acontecer nas próximas décadas, considerando os interesses do Brasil, que nem sempre se confunde com os de alguns movimentos já estruturados.
Mas, há que se efetuar estes trabalhos, ainda que nem todos redundem em contribuições efetivas. Há sempre uma necessidade de se ter a consciência que está se perseguindo o chamado “second best”, imaginando que algum benefício será proporcionado, ainda que não sejam os que foram os inicialmente planejados.