O IPEA Pretende Conhecer Melhor o Brasil
28 de abril de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: boas formações no exterior, complementações, conhecimentos locais, sofisticações nas pesquisas
Numa entrevista publicada no site de O Globo, o novo presidente do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada informa sobre a disposição de introduzir estudos que permitam o melhor conhecimento do Brasil.
Foto de Jessé Souza, novo presidente do IPEA, que ilustra a entrevista publicada no site de O Globo
O IPEA, vinculado à Secretaria de Estudos Estratégicos (SAE), conta com um novo presidente, o sociólogo Jessé Souza, que concedeu uma entrevista à Nice de Paula, que foi publicada no site de O Globo. Informa sobre a criação de mais dois projetos estratégicos que visam ampliar um melhor conhecimento do Brasil.
Sempre que acadêmicos que trabalharam muito no exterior, como Mangabeira Unger, que voltou ao Brasil para ocupar a SAE – Secretaria de Estudos Estratégicos, ocupam posições na administração pública brasileira, fica-se com a desconfiança se eles conhecem realmente o Brasil. O sociólogo Jessé Souza, segundo informações na internet, conta com uma sólida formação no exterior, mas também consta do seu currículo pesquisas efetuadas no Brasil, que devem ter-lhe dado a consciência de que muitos pesquisadores pouco conhecem o Brasil real.
Mas ainda resta a dúvida se este conhecimento decorre de pesquisas que utilizam instrumentos sofisticados ou da vivência nas variadas regiões brasileiras, que determinam a sua ampla diversidade, que pode ser enriquecida com pesquisas, como da antropologia. Sou dos que trabalharam intensamente nas muitas regiões brasileiras, do Sul ao Norte, passando pelo Nordeste e Centro Oeste, e o Brasil que tive a oportunidade de conhecer, nos seus fundões, inclusive nas periferias das grandes metrópoles, correspondem pouco aos conceitos mais gerais que constam de muitos livros.
Se estas pesquisas, utilizando dados estatísticos e analisados com instrumentos quantitativos sofisticados, forem acompanhadas de análises profundas das limitações dos seus significados, quando confrontados com a dura realidade que se encontra em todo o país, pode haver um enriquecimento importante, que permita adequar muitas políticas para a melhoria do nível de bem estar da população.
Concordo totalmente que entre o Brasil conhecido e o formal existem espaços para melhoria dos retratos reais que muitas vezes são inéditos. Mesmo os livros escritos por muitos autores acabam refletindo as visões de mundo dos seus autores, que por serem mais preparados acabam ficando sofisticados. Como um bom exemplo, pode-se citar o livro de Celso Furtado, “Formação Econômica do Brasil”, que é um bom romance, com pouco da verdadeira história, como se comprova pelos trabalhosos levantamentos que foram feitos pela professora Alice P. Canabrava, que levou toda a vida fuçando os arquivos de muitos cartórios.
Também é preciso que se tenha consciência das limitações dos dados até censitários, cujas interpretações podem estar distorcidas pelas visões dos analistas. As metodologias aplicadas para elaboração de muitos dados estatísticos nem sempre são conhecidas por estes profissionais.
Portanto, estas intenções que estão sendo expressas na entrevista, que se encontra no http://oglobo.globo.com/economia/o-brasil-nao-conhece-brasil-so-faz-de-conta-diz-presidente-do-ipea-15983568, são bem vindas.