A Lição da Ajuda Chinesa à Argentina
19 de maio de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: diferenças com o Brasil, o caso da Argentina, preocupações com as ajudas chinesas
Quando alguns brasileiros entendem que a ajuda chinesa ao Brasil poderia ser a tábua de salvação diante dos cortes indispensáveis no orçamento para muitas obras de infraestrutura local, seria interessante examinar os problemas da Argentina, que foi socorrida pela China.
Primeiro-ministro Li Keqiang e presidente Xi Jinping
Uma matéria de grande importância da correspondente do Valor Econômico Marli Olmos em Buenos Aires ressalta a necessidade de cuidados do Brasil com os acordos que serão firmados na visita de Li Keqiang ao País. Muitos e substanciais financiamentos chineses vêm socorrendo o Brasil no momento em que o País enfrenta suas dificuldades, inclusive de acesso aos financiamentos internacionais, como já aconteceu em meados do ano passado na Argentina.
Os chineses efetuaram um “swap” de US$ 11 bilhões bem como 15 acordos permitindo que a Argentina tivesse um final de administração da presidente Cristina Kirchner mais tranquilo. No entanto, como nem todas as condições foram explicitadas, como vem ocorrendo agora com relação ao Brasil, muitos dos projetos parecem envolver fornecimentos de equipamentos chineses, inclusive de recursos humanos, comprometendo a economia argentina nos próximos anos.
Todos sabem que os chineses são bons negociantes e não se pode imaginar que os financiamentos decorram somente de sua política de reduzir ativos financeiros em dólares norte-americanos em ativos mais consistentes. É de supor que envolvem também exportações dos seus equipamentos e prestações de serviços como de engenharia para a infraestrutura, visando manter um crescimento elevado de sua economia, tanto a médio como longo prazo.
É evidente que as condições brasileiras são diversas das dos argentinos, pois o Brasil conta com uma estrutura mais complexa e desenvolvida, mas que passa também por acentuadas dificuldades. Também o relacionamento externo do Brasil é mais diversificado, mas a China continua sendo seu principal mercado.
Os chineses não possuem no Brasil, como em muitos outros países, um relacionamento diversificado e profundo com as empresas locais de forma a poder atuar como nos países onde seus imigrantes e descendentes possuem uma presença marcante. Estão adquirindo algumas grandes empresas locais, além de terem promovido investimentos para produções locais de equipamentos, que não conseguiram ainda uma participação significativa no mercado brasileiro.
Muitos dos seus projetos que já foram divulgados com destaque não tiveram a sua implantação com o sucesso esperado. As concorrências com outros grupos, inclusive estrangeiros de variadas origens, são acirradas. Muitas obras de infraestrutura que estão sendo cogitadas exigem licitações, não podendo ser no regime de “turn key”, com exclusividade para os chineses. Também não é possível estabelecer cláusulas privilegiadas para os empreendimentos onde os chineses estarão presentes.
Mas, mesmo assim, já existem concorrências que foram efetuadas onde grupos estrangeiros contam com participações chinesas, que poderão ser ampliadas. O que se espera é que as autoridades brasileiras tenham a mesma capacidade de negociação com os chineses, notadamente nos projetos brasileiros, ainda que algumas sejam até internacionais, envolvendo outros países sul-americanos.