Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

As Diferentes Visões do Mundo

27 de maio de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: acadêmicos e executivos no poder, o que é desejável com o que é possível, os casos da Índia e da China

clip_image002Quando a economia mundial passa por um período de transição registrando um crescimento mais modesto, ficam patentes as diferenças de pontos de vistas de analistas com os que são responsáveis pelas decisões. Os casos da Índia e da China evidenciam estas disparidades.

Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia: expectativas e a dura realidade

Quando o partido de Narendra Modi venceu as eleições na Índia há um ano, diante do que ele tinha conseguido na província de Gujarat com suas posições neoliberais num país que desde a sua independência contava com um governo que tinha uma marcante influência na economia, ele gerou expectativas otimistas como as expressas pelo The Economist e Foreign Affairs. Ainda que neste início de administração a Índia esteja alcançando um ritmo de crescimento que supera a da China, já se registram observações que a velocidade de sua ação é lenta, podendo levá-lo a perder uma grande oportunidade.

Todos sabem das enormes dificuldades de um país como a Índia, com uma imensa população em crescimento, onde a pobreza é marcante com as diferenças existentes tanto de etnia como de religiões. Administrar um país desta dimensão não é uma tarefa fácil para ninguém, nem mesmo contando com uma equipe de suporte preparada. Lamentavelmente, principalmente nos países emergentes, sem um líder com uma forte marca carismática, sempre fica difícil conduzir um povo que se aproxima rapidamente de 1,5 bilhão de membros para um grande esforço de desenvolvimento, notadamente num país onde valores religiosos são marcantes, e nem sempre se concentram na obtenção de bem-estar material. Ele está sendo acusado de concentração exagerada de poder.

Para quem observa de fora, mesmo com toda a carga de experiências, fica difícil avaliar todas as limitações que existem, notadamente na execução de projetos de grande envergadura naquele país. Não existe um passe de mágica capaz de superar obstáculos reais que abundam nos países emergentes. Faz-se o que é possível, não o que seria desejável.

Fica-se surpreso também com as críticas que estão sendo formuladas para a vizinha China, ainda que o regime político por lá não seja tão democrático. Contando com quadros humanos preparados, estão sendo superados gigantescos obstáculos ao longo das três últimas décadas, com visões de longo prazo. Os problemas enfrentados exigem reformas significativas, havendo que se enfrentar ainda problemas humanos como os das corrupções num país em rápidas mutações. Seus dirigentes, com a forte liderança de Xi Jinping, procuram o máximo de pragmatismo, empregando todas as qualificações de bons comerciantes de longas tradições históricas dos chineses.

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Presidente Xi Jinping nos contatos com a população chinesa

Com uma desaceleração no ritmo do crescimento da China, efetuam-se reformas e tomam-se medidas para manter um crescimento que na pior das hipóteses deve ficar ainda em nível de 6,5% ao ano, expressivo para a segunda economia do mundo. No entanto, abundam observações críticas daqueles que estavam acostumados a taxas em torno de 10% ao ano. É bem superior a média mundial e invejável para países emergentes como o Brasil.

Para analistas independentes, fica a dúvida do que desejam acadêmicos e jornalistas de meios de comunicação de importância mundial. Quando se referem aos casos complexos como o do Brasil, que depois de um período de crescimento acima de suas possibilidades mergulha num ajustamento fiscal difícil que deve levar a um crescimento negativo por mais de um ano. Fica fácil de criticar, mas seria interessante questionar o que fariam se estes analistas mais rigorosos estivessem no poder. As opções disponíveis são poucas e sujeitas às restrições de toda a natureza, contando com quadros humanos de preparo limitado no país, inclusive nos que fazem oposição.

Para os críticos de obras feitas, parece muito fácil tecer críticas sobre as opções existentes no passado bem como não ter sido coibido toda a sorte de irregularidades que foram cometidas, tanto no setor público como privado. Parece que o governo teria o monopólio das limitações, quando também ocorreram dificuldades de toda a ordem ao longo das últimas décadas, nos mais variados níveis, e não somente no Brasil. Isto não justifica uma permissividade com as falhas, mas parece que alguns avanços também deveriam ser considerados, ainda que o balanço continue negativo.

Há muito que se fazer visando o futuro, mas quando se examinam as discussões sobre reformas fundamentais como a política, fica-se com a impressão que elas estariam concentradas nos interesses dos políticos e não do futuro do Brasil. Ainda não se conseguiu ideias de verdadeiros estadistas que tracem as diretrizes para chegar aos caminhos para dias melhores para o país e sua população. Parece necessário ousar nas novas proposições, enterrando, no mínimo, parte das misérias do passado.