Mudanças de Sentidos de Expressões de Incentivo
9 de junho de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: expressões que eram de incentivo no Japão, interpretações de estrangeiros e dos jovens, mudanças significativas que estão ocorrendo, ocorre também no Brasil. | 2 Comentários »
As mudanças que estão ocorrendo no Japão, como também acontece no Brasil, alteram o sentido de algumas expressões que eram de incentivo, dando conotações negativas.
Ilustração do artigo no The Japan Times
Algumas expressões que eram marcas da cultura japonesa no passado estão sofrendo radicais mudanças atualmente. Duas podem ser destacadas do artigo publicado por Colin P.A. Jones no The Japan Times, mas existem muitas outras, talvez por terem sido usadas exageradamente durante o período militarista, incluindo a Segunda Guerra Mundial e o esforço de desenvolvimento japonês do pós-guerra.
Uma seria o “gambaré”, um estímulo para quem alguém se esforçasse, como um atleta ou alguém que estivesse procurando executar uma tarefa. Os japoneses procuravam mostrar seu empenho usando até uma faixa na cabeça para expressar que estariam se esforçando para conseguir, por exemplo, uma vitória.
Outro seria o “gaman”, ou seja, uma paciência até para aguentar uma dor, mostrando que não seria uma pessoa de determinação flexível, mas disposta a um grande sacrifício. Estes valores eram ressaltados, notadamente, no período do militarismo japonês quando todos estavam fazendo esforços no sentido de superar as limitações, de forma que objetivos coletivos pudessem ser alcançados.
O que parece estar acontecendo atualmente, segundo o autor, é que estas atitudes passaram a ter uma conotação negativa, como se alguém tivesse um comando para exigir autoritariamente ser obedecido. Os jovens atuais ou até estrangeiros inverteram o sentido do estímulo, e entenderiam que hoje, com a disseminação da democracia, eles já estariam fazendo a sua parte, não tendo que merecer observações de terceiros neste sentido.
Observando o que acontece no Brasil, também se poderia sentir algo parecido acontecendo. No período autoritário, pode ser que a ordem, a disciplina e outros valores semelhantes fossem ressaltados com exagero. Hoje, com o regime democrático, muitos jovens se sentem no direito de fazerem o que querem, contrariando até o poder de polícia que deve existir em qualquer sociedade organizada.
Desejando manifestar publicamente sua contrariedade com algo, saem depredando patrimônios públicos ou privados, hostilizando os encarregados pela preservação da legalidade. Desejando consumir drogas, se acham no mesmo direito como se a lei não existisse e tudo fosse permitido. Desejando contar com lugares para morarem, ocupam imóveis desocupados ainda que sejam patrimônios de alguém com direito de propriedade. Parece que não existe mais o conceito de império da lei, podendo se promover o caos. Evidentemente, está se exagerando os fatos para dar maior poder de expressão.
Existem evoluções que vão ocorrendo em qualquer sociedade que tende a ser conservadora e há momentos em que verdadeiras revoluções precisam ocorrer para que avanços sejam obtidos, sendo difícil de discernir o que seria correto ou não.
O que está se colocando é somente a questão, sem a necessidade de se tomar partido sobre qualquer das atitudes, ainda que seja difícil de manter-se neutro nestas situações.
Dr. Yokota:
Ótimo artigo! Vou indicá-lo para os meus amigos!
Caro Carlos Silva,
Muito obrigado pelo uso do site.
Paulo Yokota