Visão de um Think Tank Chinês Sobre o Brasil
11 de junho de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: entrevista de acadêmicos chineses sobre o Brasil, formas chinesas de ver o que vem acontecendo no Brasil., publicado no Valor Econômico
Poucos países contam com instituições especializadas em pensar as relações com o Brasil. A China efetua o mesmo com muitos países dentro de uma concepção de País do Meio, que não parece ser possível confundir com as pretensões imperialistas.
Foto que ilustra a entrevista publicada no Valor Econômico, com o diretor executivo Zhou Zhiwei e a secretária executiva He Luyang, da think tank chinesa
Na Academia Chinesa de Ciências Sociais existe um Instituto de Estudos Latino-Americanos que, por sua vez, conta com um Centro de Estudos Brasileiros. Seu diretor executivo é Zhou Zhiwei e sua secretária executiva é He Luyang, sendo ele doutorado em relações internacionais, falando português. Eles receberam Marcos de Moura e Souza, concedendo uma entrevista sobre o Brasil, publicada no Valor Econômico.
A primeira pergunta foi sobre a lista de projetos de US$ 50 bilhões apresentada pelo primeiro-ministro Li Keqiang durante sua visita ao Brasil, quando nem todos os programas passados foram implementados. A resposta foi que, mesmo havendo interesse, quando se examina nos detalhes se encontram variadas dificuldades.
Sobre o interesse chinês na América Latina, os entrevistados afirmam não existir uma ideia de confronto com os Estados Unidos, sabendo que a presença norte-americana é marcante. Eles não se referiram que o Brasil se mantém bastante independente, apesar de desejar recuperar o espaço vazio pela longa falta de uma prioridade mais elevada.
Sobre as exportações brasileiras de produtos primários para a China, a resposta foi que o Brasil não vem se mostrando competitivo em outros produtos, como os industriais, disputados por outros fornecedores. Mas observa-se que a China passa por uma desaceleração e mudança para a ênfase do mercado interno, e seu custo de mão de obra está se elevando. Entendem que a China também precisa estar presente no exterior, onde existem recursos humanos.
Quanto à qualidade dos produtos industriais chineses, eles responderam que se procura agora uma postura de produtos designed by China. Sobre a corrupção, entendem que existem problemas em ambos os países, efetuando-se esforços para a sua redução. Sobre o socialismo chinês, entendem que está concentrado no sistema que se aproxima do partido único e com a presença do Estado suportando o setor privado. Entendem que o aumento da democracia começa dentro do próprio partido.
Na realidade, o intercâmbio bilateral de maior intensidade é relativamente recente, e os desconhecimentos recíprocos são grandes, havendo necessidade de sua intensificação para que os caminhos possíveis fiquem mais claros, apesar das potencialidades existentes. Os interesses crescentes parecem aspectos positivos que podem resultar no melhor aproveitamento das oportunidades.
Algumas experiências acumuladas pela China nas últimas décadas podem ser aproveitadas pelo Brasil. Também as disponibilidades dos recursos naturais são diferenciadas, e atividades que adicionem um pouco mais de valor nos produtos transacionados podem ser examinados, mesmo existindo distâncias apreciáveis que, além de geográficas, são também culturais.