Necessidade de Considerar as Dimensões de um País
15 de julho de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: análises pouco profundas de um artigo do The Wall Street Journal sobre o Brasil, confusões de problemas conjunturais com os de um país de dimensões continentais, diferenciações indispensáveis.
Ainda que os problemas de curto prazo também tenham a sua importância, alguns jornalistas como Paulo Trevisani, que publicou um artigo sobre o Brasil no The Wall Street Journal, parecem confundir os problemas momentâneos com os de longo prazo de um país de dimensões continentais como o Brasil.
Presidente Dilma Rousseff está preocupada com os problemas atuais do país
Ainda que existam muitos graves problemas econômicos e políticos no Brasil, alguns artigos publicados em influentes meios de comunicação internacional, como o The Wall Street Journal, como o de autoria do Paulo Trevisani, acabam dando a impressão que o país já está à beira do abismo institucional. Um país da dimensão brasileira e com a sua democracia em consolidação enfrenta seus problemas e demora décadas para sofrer deteriorações de grande significância.
Vetar algumas medidas que tenham sido aprovadas pelo Congresso faz parte da convivência entre os três poderes estabelecida na Constituição, quando decisões absurdas estão sendo tomadas no Legislativo, com forte sentido populista, aparentando birras diante de reivindicações de recursos não atendidas. O veto, ainda que seja impopular para a Dilma Rousseff, que segundo as pesquisas de opiniões já estaria bastante desgastada, exige dois terços do Congresso para ser derrubado, o que é muito difícil de ser conseguido. A discutível piora do rating do Brasil certamente terá efeito muito desfavorável se o superávit fiscal ficar muito comprometido, elevando os custos dos financiamentos externos, mas não deve conduzir a uma situação de default como da Grécia, que continua discutindo com os demais países relevantes da zona do euro o suporte para o seu socorro.
Até alguns membros influentes da oposição brasileira entendem que não existem condições para o impeachment, que é um processo político demorado exigindo uma não aceitação das contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União e do Congresso ou a comprovação de doações irregulares nas últimas eleições pelo Tribunal Superior Eleitoral, que seja de responsabilidade direta da presidente.
São situações desconfortáveis, que decorrem parcialmente da incompetência na administração da situação política do governo, mas que estão muito longe da deterioração que demora muito tempo para ocorrer em um país. Estas possibilidades radicais são ainda muito remotas de se efetivarem.
O que parece bastante claro é que uma parcela importante dos meios de comunicação social do Brasil está insatisfeita com o governo, contribuindo para aumentar as desaprovações populares, o que acontece também em muitas partes do mundo. Mas parece que dar um salto no escuro, sem saber o que vai acontecer no momento seguinte, ainda parece ser uma situação que não amadureceu.
O que parece indispensável é que, além do fervor oposicionista, estejam esgotadas todas as instâncias judiciais com processos incontestáveis de apuração, que até pelo volume acabam deixando margens para algumas dúvidas, principalmente com o afloramento de muitas vaidades pessoais, além de um anseio por uma justiça rápida.
Além da necessidade de se pensar na conveniência para o Brasil numa tendência de longo prazo, que não esteja manchada por interesses políticos e financeiros difíceis de serem todos listados. Ainda que a situação seja preocupante, parece que um grave desastre está longe de acontecer, considerando as dimensões brasileiras, sua história e o longo processo de consolidação do regime democrático no Brasil, mesmo com todas as suas imperfeições.