Algo de Muito Perturbador Neste Mundo em Caos
7 de agosto de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: disparates, falta de correspondência com a realidade., formas de aparecer nesta profusão de notícias, novo normal
Nos momentos perturbadores de caos, com profusões de notícias mais estapafúrdias, algumas personagens procuram chamar a atenção para si expressando em alto e bom som disparates dignos dos manicômios. Chegam a admitir que isto é o novo normal, deixando-nos confusos.
Ilustração do deus Caos, fundamental na mitologia grega
Todos nós somos premidos pelas circunstâncias que nos cercam e a atual conjuntura econômica e política do Brasil deixa-nos naturalmente apreensivos, gerando propostas mais emocionais do que racionais. A maioria visa benefícios pessoais ou grupais, ainda que não atendam as conveniências de todos, como a inclusão de questões salariais numa PEC destinada à mudança constitucional que não permite o veto do Executivo.
Num site de um importante grupo de comunicação social, que tem a fama de estar infectado por personagens que usam variadas drogas para fugir da dura realidade, um artigo se mantém por muitos dias mesmo com a profusão de outras notícias preocupantes, locais como por todo o mundo, deixando de ser subliminar. Afirma: “Saúde. Fumar maconha na adolescência não faz mal, diz estudo”.
Na profusão de pré-candidatos à presidência dos Estados Unidos, um que é a favor da liberdade para a venda de armas divulga um rifle enrolado com carne, atira com o mesmo e mostra que ela ficou como um churrasco com o calor. Outro vem crescendo nas pesquisas divulgando posições estapafúrdias, inclusive nos debates que estão sendo promovidos.
Até um prêmio Nobel norte-americano afirma que faz parte do novo normal a discrepância das atuais cotações nas bolsas com a realidade de crescimento baixo da economia. Um perspicaz analista afirma que na política brasileira o pior instrumento de convencimento dos políticos é a lógica.
Espera-se que estes aspectos quase folclóricos não venham a se sobrepor a uma maioria que procura manter a sensatez. Embora muito da legislação vigente esteja defasada para atender as necessidades atuais, parece que novas orientações só devam ser utilizadas depois de se promover a sua atualização. Atropelar as normas jurídicas não parece ser o caminho mais adequado para soluções estáveis.
Imaginar que o Brasil está isolado do resto do mundo, onde também se enfrenta dificuldades, parece uma fuga da realidade. É preciso um pouco de paciência e um grande esforço no sentido do aperfeiçoamento do sistema democrático existente, sabendo-se da necessidade de se conviver com outros que pensam de forma diferente.
Tudo indica que existe necessidade de se traçar algumas diretrizes a serem perseguidas ao longo do tempo, o que depende também do governo ter a humildade para admitir muitos dos seus erros. As soluções rápidas nem sempre são as mais adequadas.
É preciso preservar os interesses nacionais, ainda que muitos tenham que ser punidos e empresas devam arcar com os prejuízos causados e penalizadas com multas. Mas há necessidade do uso adequado das delações premiadas, daqueles que se confessam criminosos e devem ser encarados como tais e não como heróis.
O Brasil ainda não conta com tradição dos acordos de leniência, e há que se separar a rejeição aos corruptos com as conveniências nacionais, pois a paralisação da economia brasileira não contribui para ninguém. É necessário maior pragmatismo como o que já vem sendo praticado em países com mais tradição nestes instrumentos, ainda que não se saiba se tudo está devidamente reparado.
O que vem sendo feito no setor financeiro mundial, como exposto num artigo do The Economist, mencionado neste site, parece que pode inspirar os que efetivamente pensam em aperfeiçoamentos para o Brasil. Mesmo com este caos, como na mitologia grega, é preciso acreditar que dará origem a novos deuses.