Efeitos da China Sobre o Brasil
19 de agosto de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: as exportações brasileiras, influência dos imigrantes., os financiamentos dos projetos | 4 Comentários »
Os grandes problemas que estão sendo enfrentados pela China afetam o mundo todo, principalmente os países emergentes como o Brasil, que fornece muitos minérios e produtos agropecuários. Somam-se os que já existiam no país. Apesar do intenso intercâmbio bilateral, a presença de imigrantes chineses e seus descendentes no Brasil é relativamente baixa.
Primeiro-ministro chinês Li Keqiang na última visita a Dilma Rousseff
A China tem uma população de 1.376 bilhão, a qual se adiciona mais de 50 milhões de residentes no exterior e parte dos seus descendentes, que são muitos. Ela é composta de diversas etnias com culturas distintas, religiões diferentes e pouco miscigenada, que ocupam regiões com características próprias no seu país.
É um dos países mais complexos do mundo e adquiriu importância mundial recente pelo crescimento econômico, que sofre com acentuadas flutuações. Sua milenar história só conta com algumas dezenas de anos de socialismo, com características chinesas e centralização do comando.
Uma característica forte dos chineses é uma determinação para obter vantagens em todas as operações, decorrentes de sua histórica tradição comercial. O conceito de clã é forte, superando o da família. Sofreu guerras internas como formas de apropriação dos patrimônios destes clãs. A atual tributação é interpretada como formas de expropriação de parte do trabalho que justifica até a burla de regulamentações oficiais. Prezam aplicar em ativos difíceis de serem controlados pelas autoridades.
Nos últimos anos, a China está desacelerando o seu crescimento e, mesmo com uma economia de comando centralizado, é difícil estimar-se como será o seu “soft landing”. As dificuldades são de todas as ordens, muitas políticas e outras com seus relacionamentos com o exterior. As estratégias das novas Rotas das Sedas, como a presença na África e na América Latina, estão respaldadas nas reservas externas que se acumularam e foram ampliadas com os novos bancos, a AIIB – Asian Infrastruture Investment Bank e dos países membros do BRICS. Possuem a capacidade de pensar geopoliticamente em longo prazo.
O governo chinês com o presidente Xi Jinping consolidou o seu poder mais rapidamente do que outros líderes que o antecederam, inclusive na área militar. Reconhece a necessidade de reformas que levem a sua economia a uma menor dependência da exportação. Empenha-se no combate à corrupção utilizando auxiliares de estrita confiança de Xi Jinping. Sacrifica importantes figuras políticas e militares, inclusive alguns ligados a presidentes anteriores, como Jiang Zemin e Hu Jintao. Gera reações naturais.
O comportamento das exportações chinesas ficou abaixo do esperado nos primeiros sete meses deste ano. Diante do crescimento econômico chinês, parte da elevada capacidade de produção de alguns setores necessita voltar para as exportações, o que ocorre com produtos como o aço. Além da ampliação do crédito, promove-se um ajustamento do Yuan. Explica que a mudança cambial não se trata de ajuda à exportação.
Os estímulos para as bolsas de valores chineses visam ampliar o aproveitamento das elevadas poupanças, além dos recursos provenientes do exterior, inclusive de chineses residentes em outros países. Credenciariam a China e suas empresas cada vez mais globalizadas no exterior.
As flutuações exageradas, parte devido às características dos operadores chineses, demonstraram que não se conseguiu a maturidade, exigindo medidas drásticas das autoridades para evitar o pânico. Apesar da intenção de utilizar mais as indicações do mercado, acabou-se constatando necessidade de intervenções, onde se conta com um sistema bancário paralelo.
Entre os estabelecimentos fabris na China, os mais poluentes estão sendo desativados e outros passam por revisões. Estes ajustamentos afetam o quadro político, pois muitas facções estavam nas estatais e nas administrações regionais.
Muitos artigos estão sendo publicados sobre as reuniões das lideranças chinesas em Beidaihe, local que sempre foi utilizado para a consolidação de nova orientação política. A promessa de deixar muitas decisões para as indicações do mercado não deram resultados, exigindo intervenções fortes, que levam alguns analistas a interpretarem como uma volta ao estilo de Mao Tsetung.
Está se elaborando uma nova estratégia que será apresentada nas próximas reuniões do PCC ainda neste ano. A nova orientação econômica e política vai sendo conhecida aos poucos, pois as autoridades chinesas não costumam ser transparentes.
No próximo mês de setembro, serão comemorados os 70 anos do término da Segunda Guerra Mundial, com Xi Jinping comandando um grandioso desfile militar com mísseis, tanques e tropas desfilando em passo de ganso. Não se trata somente de lembranças do passado, mas marcas de uma potência militar emergente, tanto para os seus vizinhos asiáticos como nas intenções geopolíticas de tornar-se a principal potência mundial.
Os chineses revelam a sua capacidade de pensar a longo prazo, mas ainda enfrentarão muitos problemas para consolidar o uso das indicações do mercado e conseguir um aperfeiçoamento no seu sistema político que aspira naturalmente por maior descentralização e liberdade. Acomodar toda a sua diversidade é o que parece ser perseguido no novo mundo globalizado, mesmo afetando muitos parceiros fornecedores de produtos para a China, como o Brasil.
Belo artigo, parabéns!
Caro Boris,
Obrigado pelo uso do site.
Paulo Yokota
Gostei muito da materia, obrigado e parabens, me ajudou muito
Caro Paulo Shimamoto,
Obrigado pelo comentário. Continue usando este site.
Paulo Yokota